Introdução
Hoje
em dia, tendo em conta da realidade que se vive na nossa sociedade, acontece
que muitas famílias preocupam-se pouco,
aliás dão pouco tempo em acompanhar a
vida educativa dos filhos para se
concentrarem noutras actividades com vista a sustentar a vida familiar. Isto
verifica-se quando se trata do acompanhamento da vida escolar dos filhos. Basta matricular os filhos na escola, as
famílias acham que já terminou a sua missão ou responsabilidade. A escola
também, basta acolher o educando, não se preocupa de associar a sua família a este
trabalho educativo, a não ser o de convocar a família quando houver uma
situação preocupante sobre o educando. Será que é isso a interacção ?
A
falta da interacção entre família e escola tem repercussões nefastas sobre a
educação dos educandos. Isto é, prejudica o processo de ensino e aprendizagem, o
desempenho escolar ou académico dos educandos, e mesmo o próprio comportamento
do educando. A valorização desta interacção, pelo contrário, favorece uma
educação que garante o sucesso do processo educativo.
Com
este trabalho pretende-se mostrar o papel que cada um dos agentes desempenha, identificar
os problemas que dificultam esta interacção e mostrar a necessidade desta
interacção e o seu impacto na vida escolar dos educandos.
A
elaboração deste trabalho tornou-se possível graças à consulta bibliográfica.
Com esta, entramos em contacto com as teses de alguns autores que trabalharam
sobre o assunto, embora de forma diferente. O presente trabalho limitar-se-á ao aspecto da interacção entre família e
escola em relação com o sucesso do processo de ensino e aprendizagem.
Para
concretizar o nosso propósito, cinco pontos serão tratados. O primeiro tem que
ver com a definição de termos, o segundo trata da falta da interacção entre
família e escola. Aqui iremos ver que na nossa sociedade não existe uma interacção
entre estas duas instituições - família e escola - no seu verdadeiro sentido, e que esta falta prejudica a educação dos
educandos. O terceiro refere-se à necessidade da interacção entre família e
escola, o quarto trata do envolvimento da família na gestão do currículo. Neste,
veremos que a escola não valoriza a família na gestão do currículo enquanto
detentora do conhecimento da realidade dos seus educandos, e o quinto consagrado
ao impacto desta interacção, mostra que uma boa interacção entres as partes
favorece um bom desempenho e sucesso no trabalho educativo.
- Definição
de termos
Neste
tópico pretende-se definir os termos considerados essenciais para a compreensão
do tema. Assim, as definições serão feitas tendo em conta do contexto do nosso
trabalho.
1.1.A família e suas funções
O
termo família pode ser definido como pessoas que vivem na mesma casa. Pessoas
do mesmo sangue, que vivem ou não em comum. Descendência, linhagem
(AAVV.1949:1168). Na mesma perspectiva, PIKUNAS apud LIMA (2009:68), define a
família como:
Grupo social
duradouro com base no casamento e relacionamentos de sangue, exercendo
influencias hereditárias e ambientais das principais dimensões sobre o
recém-nascido. Via de regras, os pais e seus filhos dependentes constituem a
família. Como grupo primário, a família com filhos é mantida em conjunto pelo
parentesco e relações íntimas marcadas por carinho, afeição e apoio, bem como
pela partilha mútua em várias atividades e interesses.
As
definições acima citadas sublinham o aspecto da descendência e da união do
sangue como elementos essenciais para conceitualizar a família. Mas, olhando
para nossa realidade africana, esta definição parece muito restrita e limitada
e para isso, precisa de ser definida numa outra vertente mais abrangente.
MARUJO
et all (1998:10) considera que a família deve ser compreendida numa acepção
alargada porque, cada vez que refere a mães e pais estaremos não só a pensar em
progenitores biológicos, mas também em pais e mães adoptivos, em padrastos e
madrastas, em avós e avôs, em encarregados de educação, em educadores em geral.
Apoiando a
ideia, BOCK (2004:249) acrescenta que,
culturalmente, a família é um grupo
tão importante que, na sua ausência, a
criança ou o adolescente precisa de uma família substituta ou devem ser
abrigados em uma instituição que cumpra suas funções materna e paterna, isto é,
as funções de cuidados para a posterior participação na coletividade.
O conceito de família, tal como
definido pelos autores supracitados, apresenta uma certa semelhança e
divergência. Converge no facto de considerar a família como lugar de
socialização ou educação dos filhos e diverge quanto a sua abrangência, dado que
alguns autores consideram a família no seu aspecto restrito, isto é, considerando
o aspecto hereditário, biológico ou da união de sangue. E outros, consideram a
família como sendo mais abrangente, isto é, não considerando apenas o seu
aspecto biológico.
Portanto, a família é uma realidade
muito complexa. Limitar-se ao aspecto biológico seria diminuir a sua
abrangência. No nosso caso, considera-se família o ambiente que cuida dos
filhos assim como todos os membros que vivem no mesmo seio, unidos ou não por
laços de afinidade ou de sangue. Neste caso, consideram-se família, todos aqueles
que se encarregam da educação dos filhos e acompanham o processo educativo dos
mesmos; podem ser pais biológicos ou não, padrastos, tias, encarregados da
educação, avós, e os próprios filhos, etc.
1.2.A escola e o
seu papel na vida do educando
Como
instituição básica e transmissora da cultura e
socializadora dos indivíduos, a escola desempenha um papel importante na
sociedade. Desta forma, ele não é só um lugar de aprendizagem, mas também um
campo de acção no qual há continuidade de vida afectiva que existe no ambiente
familiar.
É
nesta perspectiva que PIMENTA at all
(1999:89) considera a escola como sendo
uma instituição
social básica, um conjunto de relações, processos e recursos para satisfazer
interesses e necessidades comuns. A escola como instituição, responde à
necessidade social de transmitir cultura, socializar o indivíduo e prepará-lo
para desempenhar um papel na sociedade.
Assim,
a escola, por meio da transmissão de conteúdos incute uma nova cultura aos
alunos e ajuda-os a apropriar-se de todo o conhecimento que adquirem e
relaciona-o com a nova realidade. O conhecimento ou a educação adquirido na
escola não é só para satisfazer as necessidade da sociedade, mas sim, e
sobretudo para fazer do indivíduo um homem.
MIZUKAMI
apud SILVA (1995:85), confirma que a escola é por excelência o local da
preservação cultural, onde se processa o acesso às grandes produções culturais
da humanidade e os valores essenciais.
Portanto,
como instituição educativa, a escola é um ambiente educativo ao serviço da sociedade.
A sua presença assegura a continuidade da educação dos filhos. Por esta razão,
há mesmo necessidade de a escola estar em perfeita sintonia com a família. Ela,
é uma instituição que complementa a família e juntas tornam-se lugares
agradáveis para a convivência de todos. O seu papel é de grande importância
dado que a família deposita nela uma confiança para perpetuar a cultura e a
socialização dos filhos com uma nova cultura afim de satisfazer as preocupações
da sociedade.
1.3.A interacção família-escola
Depois
de definir o termo família e escola, é-nos importante falar sobre os dois
termos ligados.
Segundo
JANE e MARILZA (2010), a expressão ‘interacção família-escola’ se baseia na
ideia de reciprocidade e de influência mútua, considerando as especificidades e
mesmo as assimetrias existentes nessa
relação.
Falando
desta interacção, considera-se que cada parte tem as suas responsabilidades ou
papéis que exerce na sua área particular. Mas trabalhando em conjunto, estes
papéis não se repulsam quando se trata da educação dos filhos, mas sim,
complementam-se. É isto que os autores acima referido chamam ‘reconhecimento
das diferenças’. O reconhecimento dessa diferença é fundamental para a
interacção. O desafio é fazer com que essa assimetria produza complementaridade,
e não exclusão ou superposição.
- A
falta da interacção entre família e escola
Neste
ponto, pretende-se mostrar que o nível de interacção entre família e escola é
muito fraco ou senão não existe por causa da sua superficialidade na realidade
escolar.
Segundo
LIMA (2002: 269), a maioria das famílias desenvolve uma interacção com o
estabelecimento escolar de tipo ‘tradicional’ que consiste em idas à escola,
por solicitação do professor para o comportamento disciplinar dos filhos, ou
quando há algum problema.
Com
esta ideia, o autor mostra que a interacção entre estas duas instituições é superficial e mesmo não existe dado que, as
famílias se apresentam na escola, não para trocar experiências e impressões
sobre a vida do aluno, mas apenas para receber resultado dos filhos ou
responder às convocatórias. Numa conversa informal, falando com alguns professores
para saber como a escola interage com as famílias dos educandos, as respostas
foram todas negativas. De forma geral, disseram que não existe uma interacção
especifica a não ser a escola convoque
os pais para assunto da indisciplina dos filhos.
A
escola como a família tem uma percepção bem reduzida desta interacção. Será que
a interacção limite-se a dar e responder às convocatórias? Acho que não. O campo
da interacção entre família e escola deve ser muito amplo, englobando os
encontros para a planificação de actividades e gestão curricular e a organização
da escola em vários aspecto pedagógicos e administrativos.
Os
dados de pesquisa realizados por AFONSO apud
LIMA (2002:160) indicam que muitos
professores transmitem aos pais, sistematicamente, a ideia de que a sua
presença e envolvimento na escola só são necessários quando existem problemas
com os alunos, ao nível do aproveitamento, da disciplina ou da assiduidade. Em
todas as outra situações, com excepção
de algumas ocasiões festivas, os encarregados de educação são desencorajados a
entrar na escola, por tal se revelar “inútil”. É por esta razão que MARUJO at
all (1999: 148) pensa que, a relação escola-família é uma relação
essencialmente negativa.
A
escola tem uma parte de responsabilidade
no que tange à promoção da interacção com a família. Ela não incentiva a
família a trocar impressões sobre a vida escolar dos educandos nem convoca-a
para a programação das actividade escolares nem para uma gestão compartilhada
das actividades. Ela culpabiliza a família por não ter interesse pela vida
escolar dos educandos e responsabilizando-a
do insucesso de desempenho escolar.
Numa
outra vertente, LIMA (2002:164) mostra que, o que falta à família não é
interesse pela educação dos seus filhos mas, antes, o conhecimento do modo como
o sistema educativo funciona e como poderia ou deveria estar a responder às
necessidades dos seus filhos.
Muitas
famílias não sabem que depois de entregar o filho na escola, se deve fazer um
acompanhamento sério e ajudar a escola nas diversas áreas da gestão para que
haja sucesso no processo educativo. O não conhecimento da interacção prejudica
o processo de ensino e aprendizagem.
Outro
elemento a ter em conta nesta escassez da interacção entre família e escola tem
que ver com a localização de classe dos pais e a dificuldade de fazer esta
interacção.
Enquanto,
CROZIER apud LIMA (2002:163) defende que, a localização de classe dos pais tem
um impacto directo sobre a sua capacitação para intervir na escolarização dos
seus filhos e para participar enquanto consumidores activos ; MARUJO et all (1999:148),
quanto a ela, mostra que as famílias querem envolver-se na vida escolar dos
filhos, porém, muitos não sabem como fazê-lo, têm pouco tempo disponível, ou
estão face a uma escola que não estimula esse envolvimento.
A
teoria que Crozier defende é relevante dado que, uma família informada sobre os
assuntos escolares, facilmente
interessa-se em saber mais sobre o que os filhos aprendem ou devem aprender. Ao
passo que uma família não informada pode
ter receio de entrar em contacto com a escola por não ter ‘matéria’ a tratar
com ela. A primeira como a segunda posição não é categórica, porque existe
famílias sem formação académica mas que manifesta grande interesse na vida
escolar dos filhos e outras com esta formação mas estrangeiras na vida escolar
dos filhos.
A
questão de disponibilidade da família é uma realidade que se vive no nosso
quotidiano. No entanto, não é por causa da falta do tempo que as famílias não
entram em contacto com a escola, mas sim, por falta de interesse e da vontade
de acompanhar a vida escolar dos filhos.
Portanto,
não há uma verdadeira interacção, porque cada uma das instituições observa e
critica a outra de longe e se encontram que quando há problemas com os
educandos. Quando há convocatória para interagir, nem sempre a família aparece,
alegando a factor tempo, que a escola fixa a hora em que os pais estão no
serviço ou na machamba, os professores não tem tempo para ouvir os encarregados
ou atendem mal e não respondem às preocupações, e assim por diante. Nem a
família, nem a escola consegue promover esta interacção. Isto é, por um lado, a
escola faz a gestão da escola e do currículo sozinha e por outro a família
distancia-se para deixar toda a responsabilidade à escola.
- A
necessidade da interacção família-escola no processo de ensino e
aprendizagem
A
questão de interacção entre família e escola é uma preocupação para todos dado
que ambas as partes desejam uma boa educação e um bom aproveitamento escolar
dos educandos. Por esta razão, viu-se a
necessidade de favorecer esta relação e
criar um laço de colaboração e cooperação entre elas.
Segundo
DELORS at all (1998:111), a relação da família com a escola é indispensável
porque o desenvolvimento harmonioso das crianças implica uma complementaridade
entre a educação escolar e familiar.
Considera-se
que bons contactos entre família e escola revestem todo interesse para a educação
da criança. Estas passagens sugerem que haja colaboração entre as duas
instituições, para responder às exigências educativas.
De
acordo com TAVARES e ALARCÃO (2005:147), a interacção entre todos os agentes
educativos origina uma complexa rede de relações que vão influenciar o
relacionamento entre o educador e o educando a que se chama, embora numa
acepção mais ampla, relação educativa.
Na
nossa opinião, a interacção entre família e escola influencia muito na relação entre professor e aluno. Por um lado,
o professor compreende o aluno dado que tem um conhecimento amplo da vida do
educando, e por outro lado, o aluno confia no professor porque sabe que este
comunica sempre com os encarregados e conhece tudo sobre mim. Podemos, então,
considerar que o contacto frequente entre duas instituições tem impacto
positivo na vida do educando.
Esta
relação saudável entre a escola e a família, segundo os termos usados por PAIVA (2012: 205), traz tranquilidade ao
sistema de ensino e ao processo de aprendizagem. O aluno que sinta esta boa
comunicação e relação escola/família será um aluno mais dedicado, mais
corresponsabilizado pelos seus actos e responsabilidades.
Deste
modo, dá para confirmar a tese de HENDERSON apud MARQUES (1997:9), que diz, a
colaboração das famílias correlaciona-se com os resultados escolares dos
alunos.
Assim,
os resultados escolares provêm do esforço do trabalho da escola em colaboração
com a família. É nesta perspectiva que
ANACLETO (2010:20) considera que o sucesso do aluno não depende apenas da
escola ou apenas da família, mas sim, do inter-relacionamento das partes, uma
vez que a estreita relação com as famílias contribui, e muito, no processo de
ensino e aprendizagem das crianças. Na mesma perspectiva, BARTHOLO apud LIMA
(2009:9), acrescenta que a parceria família-escola é fundamental para que
ocorram os processos de aprendizagem e crescimento de todos os membros deste
sistema, uma vez que a aprendizagem não está circunscrita à conteúdos
escolares.
Tudo o que
se disse, no entanto, indica que é necessário que as famílias criem o hábito de
participar na vida escolar dos educandos, e que percebam que é importante
relacionar-se com a escola na busca de um objetivo em comum, ‘a educação dos
filhos e o bom aproveitamento para todos’. A escola deve favorecer o clima de
aproximação das famílias mostrando-as
que educar não é papel exclusivo da escola, mas sim, de todos. A interacção
entre família e escola, é deste modo, incontornável para o sucesso educativo.
As duas instituições devem colaborar, cooperar e trabalhar em parceria para
maximizar os resultados educativos.
- Envolvimento
da família na gestão do currículo
Este
ponto apresenta a família como um dos pilares da sustentação da vida escolar e
por isso, o seu envolvimento na gestão das actividades escolares é de grande
importância.
A
escola é uma instituição que funciona graças ao apoio da comunidade onde está
inserida e das experiências das famílias e outros membros da comunidade escolar.
Estes componentes todos, têm uma palavra na gestão do currículo, embora não se
apercebam disso.
Para
ALMEIDA (2010:4), a intervenção da família na gestão do currículo, depende
basicamente de consenso sobre filosofia e currículo (adesão dos pais ao
projecto político-pedagógico da escola).
A
participação da família na elaboração do projecto político-pedagógico da escola
é um dos aspectos a considerar com atenção para o sucesso do processo
educativo. sobre essa questão LIMA
(2002: 150) expõe que:
O envolvimento da família pode ser feito na
participação na selecção de materiais curriculares; apresentação de propostas
de temas a explorar ( em conjunto, por alunos, pais e professores) nas áreas
disciplinares, transdisciplinares e de complemento curricular; Participação na
definição dos critérios que permitem determinar aquilo em que consiste um
desempenho de sucesso, em áreas do currículo cuja concepção e planificação
tenha contado com a sua intervenção
Proceder
desta forma poder-se-á confrontar a realidade da escola com as expectativas da
família. Com isso, pode-se chegar a descobrir as falhas que necessitarão
propostas ou outras alternativas perante as quais os problemas relacionados ao
cotidiano escolar resolvem-se, pois, é
este tipo de interacção realizada na escola que irá dar possibilidade à família
questionar sobre as realizações educacionais de forma a melhorar tanto a sua estrutura, como a
sua função social de educar.
Assim,
os encarregados de educação, pelo conhecimento particular que têm dos seus
educandos, são um dos elementos fundamentais, mas nem sempre valorizados no
desenvolvimento do currículo já que, globalmente, podem participar do seguinte
modo:
Proporcionar informação
sobre as necessidades especiais dos alunos; informar acerca das circunstâncias
familiares; transmitir informação sobre o comportamento do aluno fora da escola
e sobre a atitude que este tem para com a escola e para com os professores;
informar o professor sobre qualquer interesse ou talento especial do aluno; dar
a conhecer as suas ideias sobre a educação do aluno e a sua relação com planos
futuros de aprendizagem; contribuir para assegurar a harmonia entre o ambiente
natural da família e o ambiente da escola; participar activamente na
aprendizagem do aluno; organizar visitas familiares de estudo com um interesse
curricular; colocar os seus conhecimentos e habilidades especiais à disposição
da escola.
(BRENNAM apud PACHECO, 2002: 98).
Como
se vê, a família pode dar um apoio muito grande nas diversas áreas para melhorar
o currículo e favorecer de forma positiva o processo de ensino e aprendizagem.
ROBEIRO
apud LIMA (2002: 150) admite também que a extensão da intervenção das famílias
seja efectiva. Isto é, trabalhar com as famílias nos assuntos tais como:
A
progressão/retenção dos alunos, as regras de disciplina a vigorar na escola, o
cumprimento dos programas por parte dos professores, o regulamento de faltas, a
organização interna da escola (por exemplo, a organização do currículo, a
composição das turmas, o calendário escolar, as actividades de complemento
curricular), a nomeação, controlo e avaliação do pessoal docente, na avaliação de desempenho e na progressão de
carreira.
A
presença das famílias ou encarregados da educação na planificação de
actividades ou na tomada de certas decisões, obriga a escola e família a levar a sério a formação dos
educandos. Deste modo, Ao invés da escola chamar ou convocar a família apenas
quando as coisas não andam bem, quando as notas estão baixas, ou quando se
precisa de uma ajuda pontual, ela deve ser vista como elemento participativo ou
como um co-autor do processo educativo escolar e, consequentemente, envolver-se
mais directamente na concretização do mesmo.
A exigência da
participação dos pais na organização e gestão da escola corresponde a novas
formas de relações entre escola, sociedade e trabalho, que repercutem na escola
nas práticas de descentralização, autonomia, corresponsabilização,
interculturalismo. De facto, a escola não pode ser mais uma instituição isolada
em si mesma, separada da realidade circundante, mas integrada numa comunidade
que interagem com a vida social mais ampla (LIBANEO,2013: 97).
De tudo o que precede, e
analisando a nossa situação concreta em Moçambique, vejo que a gestão compartilhada
da vida escolar não é uma coisa fácil. Primeiro, as escolas (professores e
directores) não são preparadas para este tipo de gestão dado que há longos anos
a política escolar mostra que a escola é o responsável pela organização de todas
as actividades no seu seio. Segundo, nem todas as famílias tem uma formação
académica para discutir os assuntos desta área, senão algumas. Delegando um
grupo dos pais com uma formação académica para lidar com a escola na gestão do
currículo por exemplo, será isto uma representação das famílias para expressar
os desejos de todas as família? não será uma oportunidade para alguns fazer a
campanha das suas ideologias ? acho que a situação poderá criar ainda uma
grande descriminação entre famílias, porque a educação não é unicamente uma
propriedade dos intelectuais. A gestão do currículo parece ainda oculto nos
olhos das famílias. Seja qual for as implicações da interacção das famílias na
gestão do currículo ou noutra área, famílias e escola deveriam arriscar em
procurar como tornar possível este envolvimento. Isso para o bem do nosso país
e da nossa sociedade.
Para implementar este tipo de
integração precisa duma formação ou capacitação de todos os agentes da educação
(professores, directores e famílias) para poder assumir este compromisso. As famílias junto com a escola devem procurar
de forma urgente uma solução adequada que não desfavorece nenhuma parte. Mas
que ajude no sucesso do processo de ensino e aprendizagem.
5. O impacto da interacção família-escola no processo
de ensino e aprendizagem
A
interacção entre família e escola tem uma influencia maior sobre a aprendizagem
dos alunos, dado que estes serão muito empenhados nos trabalhos por saber que a
família acompanha os seus estudos.
A
pesquisa de LIMA (2002:288) mostra que:
Nos
alunos, o envolvimento parental conduz a uma maior motivação, a mais aproveitamento
escolar e a um melhor comportamento disciplinar. Nos pais, verifica-se uma
melhoria da sua auto-estima e o acesso a informação que lhes é útil para
orientar os filhos; nos professores, o envolvimento parental pode tornar o seu
trabalho mais facilitado e bem sucedido, além de mais bem visto, porque
compreendido pelos pais.
Apoiando
a ideia, EBERSOLE apud LEMMER (2006:141) acrescenta que diante da colaboração
das famílias no processo educativo dos seus filhos, nota-se que os alunos
aprendem mais, os professores sentem-se mais realizados e os pais sentem-se
melhor com os seus filhos e consigo mesmo.
O
que surge no pensamento destes autores é que a interacção entre família e
escola aproveita a todos. Cada um ao seu nível e também aproveita a todos.
Assim,
EPSTEIN apud MARQUES (1997:10) destaca que, sobre a colaboração das famílias,
para além de contribuir para o sucesso escolar dos seus educandos, facilita
também os papéis do professor, onde os pais e /ou encarregados de educação
podem participar como auxiliares e desenvolver trabalhos escolares voluntários.
De
facto, a interacção da família e escola, facilita os papéis tanto dos
professores como dos encarregados. E neste caso, é o educando que beneficia.
JANE e MARILZA (2010) mostra que, quando ocorre bem e é bem conduzido o processo
de aproximação entre escola e família, as crianças tornam-se mais
participativas em salas de aula, animadas com os estudos e alegres com a escola.
Importa
aqui realçar que, uma boa interacção entre família e escola culmina sempre ao
sucesso escolar, embora um caso particular possa dizer o contrário. O bom êxito
ou sucesso escolar está profundamente relacionado com a participação positiva
dos pais na educação dos filhos. No entanto, esta interacção não se limita a
acompanhar a criança na escola ou participar na reunião da abertura ou de
encerramento escolar, como temos visto nas escolas do nosso país. Uma verdadeira
interacção é, a troca de impressões, de experiências e a preparação em conjunto
das actividades educativas. Chegando a trabalhar em conjunto, a família como a
escola irá recuperar a sua imagem antiga que ela tinha a respeito do valor da
educação familiar e escolar. Deste modo será uma nova elã da vida escolar onde
todos colaboram para o bem de todos.
Conclusão
Com
esta conclusão, pretende-se dar algumas
ideias importantes concernente o tema sobre a interacção família-escola.
O
trabalho levou-nos a compreender que a família e a escola complementem-se nesta
função de ajudar os educandos a ter uma boa educação e de forma particular, ter
um bom aproveitamento escolar. Porém, esta interacção deve ser cultivada para
que os resultados esperados sejam uma realidade.
Entre
a família e a escola deve haver uma relação de parceira onde reina uma
verdadeira cooperação, colaboração, diálogo e respeito entre as duas agentes da
educação de modo a tratar sobre o percurso individual dos educandos e tendo
como único objectivo o sucesso académico dos educandos.
Uma
boa interacção entre família e escola alarga o campo de informação a respeito
dos educandos. Portanto, a interacção família-escola é fundamental para o
processo de ensino e aprendizagem.
Viu-se
que, a interacção que existe entre as duas agentes é superficial dando que a
família comparece na escola que quando solicitada pela escola com vista a
participar numa reunião ou para assunto que tem a ver com o comportamento do
educando. Tendo em conta desta realidade, pensou-se necessária favorecer a
interacção com vista a incentivar os educandos em seus estudos afim de ter um
sucesso no seu aproveitamento escolar.
Para
resolver o situação de falta de interacção entre família e escola, as duas
instituições deveriam por exemplo, planificar as actividades em conjunto,
compartilhar cada etapa do processo educacional; conscientizar as famílias a
participar nas reuniões ou conselhos de escola, preparar o projecto
pedagógica-curricular e avaliar a qualidade dos serviços prestados juntos. Família
e escola devem trabalhar juntas na gestão do currículo e noutras actividades
relacionadas com a educação dos educandos. E se necessário poder-se-á organizar
formações e/ou capacitação dos agentes da educação para facilitar este tipo de
gestão compartilhada das actividades.
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