sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

DEUS FONTE DE GRAÇAS


IRMÃS COMPROMETIDAS COM O REINO DE DEUS EM TEMPO DE TRAVESSIA”
DEUS FONTE DE GRAÇAS
1.      Introdução
Deus opera maravilhas na nossa vida, nos nossos caminhos e continua a realizar grandes coisas que talvez não conseguimos provar ou explicar. O que nos importa é aquilo que desejamos ou pedimos. Esse, quando concedido, reconhecemos que foi dado e agradecemos. O resto que recebemos sem pedir , é ignorado. Isto não significa que Deus não deu. O ingrato é aquele que recebeu. Quando descubra que há uma coisa de mais ou que se aumentou naquilo que tem,  significa que há alguém que deu, é o Senhor. Assim, ele precisa de ser agradecido.
Deste modo, o tempo que iremos levar estes dias, é tempo de agradecimentos, preparação da renovação do nosso compromisso, de amizade e da vida em geral, de modo que aquilo que  pretendemos realizar corresponda com aquilo que devemos ser na realidade.
O que se quer durante este tempo de retiro é:
  • celebrar com alegria jubilar a experiência do amor de Deus,
  • lembrar-se das maravilhas que se realizaram ao longo da caminhada
  • partilhar as nossas aventuras com Deus,
  • reapropriar-se do centro da identidade da Vida Religiosa Consagrada, para fazer as travessias necessárias em fidelidade ao Reino de Deus.
Portanto, celebrar o jubileu é reconhecer o amor e a fidelidade de Deus, isso significa que queremos reavivar a nossa história, os desafios e a nossa missão com a alegria. Por esta razão, esses dias deverão ser considerados como dias de convivência, da retomada do “Primeiro Amor” e de muita partilha.


2.      Comprometidas no tempo da travessia
Compromisso é um acordo ou pacto entre duas partes. No nosso caso, é um acordo ou pacto entre a irmã e o Senhor. Na renovação do compromisso, quer-se  renovar  o acordo com o  Senhor porque viu-se de que o primeiro acordo ou pacto  deu bons resultados, apesar de algumas falhas, desrespeito do combinado ou da negligência de alguns aspectos do acordo, etc. e por isso quer-se  que o mesmo continue, mas esta vez com a vontade de rectificar o que não foi bem cumprido e aperfeiçoar o que foi bem feito.
No compromisso, a preocupação fundamental é mostrar a Jesus vontade de viver  a vida de forma autentica, na liberdade, sinceridade e amor; realizar os projectos com humildade, paciência, etc., e que o mesmo Jesus seja o farol nesta caminhada.
O tempo de travessia é o tempo em que estamos, o tempo em que estamos a lutar para cumprir o que prometemos. A  travessia é todo o nosso projecto para adiante. O  tempo do jubileu marca o fim da primeira parte da nossa caminha e o inicio duma nova, cheia de experiência, de dedicação, de vontade de alcançar a coroa.
Comprometer-se é aceitar tudo o que a nova etapa implica ou exige. Implica a fidelidade, perseverança, coragem, etc.
Vocês estão a celebrar o vosso jubileu de 25 anos da vida religiosa. Isto significa que são 25 anos da vivência dos conselhos evangélicos: obediência, pobreza, castidade. Agora é só ver até que ponto viveram ou cumpriram estes conselhos evangélicos.
No entanto, como especialistas na matéria, deve projectar para o futuro  como se deve viver estes mesmos conselhos. Porque já conhecem as circunstância em que caíram, as condições em que se encontravam, os momentos em que estavam expostas aos perigos ocasionando a caída,  de que modo não respeitaram ou não cumpriram os compromissos.
Estas circunstância constituem o trampolim que vai vos ajudar a vos lançar para mais longe, a bem saltar e superar os obstáculos. É por esta razão que vamos falamos de nos lembrar de tudo que aconteceu na nossa caminhada, de tudo o que Deus fez por nós durante estes anos.
A barriga de uma mãe é considerada como uma loja onde tem vários tipos artigos, e a congregação ou comunidade pode ser considerada como uma loja, porque nela entra-se pessoas que têm cada uma a sua história, experiências, etc.  Estas experiências… podem ser já esquecidas. Precisa de se lembrar delas.
3.      Deus educa à gratidão ao seu povo: Dt 8, 2-7. 11-18
 lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor te conduziu durante esses quarenta anos no deserto para humilhar-te e provar-te, para conhecer os sentimentos de teu coração e saber se observarias ou não os seus mandamentos” (2).
O senhor fala de Israel, mas hoje Israel é cada um de nós, cada pessoa de forma particular. Já são 25 anos a servir o Senhor. Lembra-te de tudo o que aconteceu durante estes anos. Experimentou provas, humilhações, situações difíceis que te levou, talvez, a pensar em abandonar a vida religiosa, de desistir ao compromisso feito com o Senhor, etc. Mas em tudo isso você resistiu, permaneceu firme.  Eram prova que Deus fazia para conhecer os sentimentos do teu coração e para saber se iria perseverar, apesar das dificuldades, continuar firme na tua vocação.
Os caminhos, são os percursos que seguimos, o processo ou as etapas da nossa formação, a nossa vida nas várias comunidades, etc. onde você experimentou as humilhações as provas. para dizer que os caminhos são vários: pode ser na casa de formação a comunidade por onde passou, as dificuldades, os obstáculos, as responsabilidades que exerceu, etc..
Assim, o Senhor usa vários caminhos para nos pôr a prova: podem ser as próprias irmãs, os vizinhos, a próprias família, o ambiente, a localização da comunidade, o tipo de trabalhos ou pastoral, etc. Deus usou todos estes caminhos para nos humilhar afim de conhecer o que está no nosso coração. Para ver se iremos continuar fiéis a Ele e a nossa vocação.
Os quarenta anos no deserto é todo o tempo que passamos nas dificuldades, etc.  Contudo, neste tempo não estavam a caminhar sozinhas, estavam com Deus. Ele deu-vos a paciência, a coragem, a perseverança,  fé, confiança.
O deserto é o lugar de provação: noviciado, tempo de juniorado, etc. você conseguiu superar todas as provações, até hoje diz que agora tenho que agradecer o Senhor pelas maravilhas que operou em mim. Vou celebrar o jubileu, a  vitória porque consegui superar todas as dificuldades e continuo firme na minha fé e na minha vocação.
humilhou-te com a fome” (3). Cada pessoa, de forma natural, quer satisfazer os seus apetites, os seus desejos, etc. tudo isso chama-se fome. Assim, a fome são os nossos desejos, aquilo que queremos satisfazer para nós mesmos mas não podemos tendo em conta daquilo que somos.
“tuas vestes não se gastaram sobre ti, e teu pé não se magoou durante estes quarenta anos” (4). Deus te obrigou a viver numa Regra, num estilo de vida que tu não conhecias, no momento em que todos da tua idades usam roupa, sapatos do seu agrado, troca roupas, sapatos quando quiser, você é obrigado a andar com hábito a todo momento, que haja calor ou frio, na festa ou no falecimento, etc. esta é uma humilhação ! mas você não perdeu a sua identidade, não perdeu o teu valor, pelo contrário deu-te valor.
Tudo o que Deus fazia com o seu povo era uma preparação para uma vida futura melhor. Deus estava a moldar o seu povo, a construir uma felicidade para o seu povo. É esta que chamamos a graça.
Reconhece em teu coração que assim como um homem corrige seu filho, assim, te corrige o Senhor teu Deus” (5). Tudo que aconteceu no teu caminho, na tua caminhada, é uma forma de Deus te moldar para teres uma nova forma, uma nova cara, uma nova identidade. É uma valorização.
guardarás os mandamentos do Senhor, teu Deus, andando em seus caminhos e temendo-o” (6). Deve continuar firme na tua vocação, respeitando todas as exigências da tua congregação, viver de modo a valorizar a sua identidade.
“porque o Senhor  teu Deu vai conduzir-te a uma terra excelente, cheia de torrentes, de fontes e de águas profundas…”(7). A nova etapa de vida vai providenciar ainda mais benefícios, muita coisa porque já tem experiência.
guarda-te de esquecer o Senhor teu Deu, negligenciando a observância de suas ordens, seus preceitos e suas leis que hoje te prescrevo” (11).
“não suceda que, depois de teres comido à saciedade, de teres construído e habitado formosas casas, de ter visto multiplicar teus bois e tuas ovelhas, e aumentar a tua prata, o teu ouro e o teu bem, o teu coração se eleve, e te esqueças do Senhor teu Deus…!(12-14).
Não é para orgulhar-te, considerar-te superior a todos, se achar importante em relação em relação a todos, mas sim, é uma graça concedida por Deus. Assim, do modo que perseverou para chegar até aqui, deve ser a mesma maneira para adiante, mostrando que és madura do que antes. Não diga que já alcançou a meta, e que a regra, a constituição, os regulamentos fica para as noviças, as jovens, etc.,  Minha irmã, você foi eleita por Deus, sim, mas não é para exibir esta nova eleição como bandeira para dominar ou menosprezar as outras.

  1. Mas, agora meu Deus, o que dizes de mim ?
Pediste-me de me lembrar de toda a minha história, da minha caminhada, de tudo o que vivi durante 24 anos, agora me preparando para o jubileu de 25 anos, fiel no meu compromisso e na minha congregação, considerada como tempo passado no deserto, nas minhas diferentes comunidades, com responsabilidades e tarefas que me foram confiadas, onde houve provas, tentações, mágoas, alegrias e sofrimentos, etc. mas agora o que dizes de mim?
“Conheço as tuas obras, tanto o teu trabalho como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; tens perseverança,  suportaste provas por causa do meu nome, e não desanimaste. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, virei a ti e removerei o teu candeeiro, caso não te arrependas.” (Apocalipse 2, 2-5).

Os 25 anos passados nos cuidados de Deus não são esquecidas por Ele. Ele reconhece bem tudo que fizeste, sobretudo neste tempo em que a vida religiosa é um grande desafio, você mostrou a sua firmeza e fidelidade. Defendeu a cara da vida religiosa nesta turbulência. É uma boa coisa, está de parabéns ! Mas Deus reclama uma coisa apenas, você abandonou o teu primeiro amor.


5.      O meu Primeiro Amor

Deus fala do Primeiro amor, mas o que é “primeiro amor” ? o que Deus quer dizer com isso ? O Senhor Jesus refere-se a o que nesta mensagem?
O Primeiro amor é nosso primeiro encontro com Cristo, primeira consagração ou primeiro compromisso, é o início da caminhada com Ele. Como religiosa, é a nossa primeira profissão. Normalmente, esse início de relacionamento com Jesus é marcado por um entusiasmo e ânimo muito grandes, que impulsiona o nosso coração na direccão da vontade de Deus.
As pessoas que estão no primeiro amor costumam ser animadas para a obra de Deus, para a evangelização, para o serviço; não costumam ficar presas aos defeitos e problemas, pois focam sempre na direcção de Deus, amando e servindo de todo o coração. Apesar das suas falhas, estão buscando a Deus apaixonadamente e mudando sua forma de vida dia após dia.
6.      O primeiro amor e sua aplicação na escritura

Este primeiro amor torna a pessoa um pouco louca, sempre alegre e disposta e ansiosa de encontrar o seu amor. Portanto, o primeiro amor é uma grande alegria e quando descobre este amor esqueça-se todos os sofrimentos. A palavra do reino de Deus faz bem perceber esta mensagem.
 “O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.” (Mateus 13,44).
O Senhor está falando de alguém que, além de transbordar de alegria por ter encontrado o Reino de Deus, ainda se dispõe a abrir mão de tudo o que tinha para desfrutar do seu achado. Estas duas características são evidentes na vida de quem teve um encontro real com Jesus. Quem fez este tipo de encontro fica pronto a deixar tudo para dedicar toda a sua vida ao serviço de Deus.

Esta alegria inicial foi mencionada por Jesus na Parábola do Semeador. O problema é que alguns irmãos e irmãs permitem que ela desapareça diante de algumas provações:
“O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza.” (Mateus 13, 20-21).
Outros, por sua vez, até mesmo diante das mais duras provações, ainda permanecem transbordantes desta alegria, é como o que aconteceu com alguns apóstolos: “Chamando os apóstolos, açoitaram-nos e, ordenando-lhes que não falassem em o nome de Jesus, os soltaram. E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome.” (Actos 5,40,41). O amor estava a brilhar neles, não podiam pensar a abandonar este amor.

O primeiro amor é o nosso primeiro momento de relacionamento com Cristo em que nos devotamos de todo o nosso ser a Ele. Abrimos mão de tudo por causa dele:
“O reino dos céus é também semelhante a um que negocia e procura boas pérolas; e, tendo achado uma pérola de grande valor, vende tudo o que possui e a compra.” (Mateus 13,45,46).

O Reino de Deus passa a ser uma prioridade absoluta. É quando amamos a Deus de todo o nosso coração e alma, com todas as nossas forças e entendimento. Este primeiro amor nos leva a vivermos intensamente a fé e os compromissos.
No principio da vida cristã era assim mesmo: “Então, os que aceitaram a palavra foram baptizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas. E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.” (Actos 2,41-47).

Este amor também faz com que trabalhemos para Deus. Jesus relacionou este amor com obras quando disse a Pedro que se ele O amasse, ele deveria pastorear o Seu rebanho (Jo 21,15-17). O apóstolo Paulo falou que o amor de Cristo nos constrange a não mais vivermos para nós, e sim para Ele:
“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (2 Coríntios 5,14-15).

Foi este “constrangimento” de amor que fez com que o apóstolo Paulo trabalhasse mais do que os demais apóstolos:
“Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.” (1 Coríntios 15,10).
O primeiro amor é uma profunda resposta ao entendimento do amor de Cristo, o que nos leva a buscarmos e a servirmos ao Senhor com intensidade e paixão.
Podemos nos lembrar que há um certo momento da nossa caminhada que trabalhamos muito nos entregando totalmente a serviço de Deus, até esquecer o que era necessário por nós mesmos. Naquele momento era o fogo do amor que ardia em nós, na nossa vocação.
7.      A avaliação do grau do primeiro amor
Uma pessoa pode amar no inicio e ao longo dos anos, o amor começa a ser ameaçado, a diminuir até mesmo desaparecer. Nas familiar conseguimos ver isso. É o exemplo de divorcio. Uma mulher pode ser convencido que já entre eu e o meu marido não amor, não  casamento, mas assegura o lar para cuidar dos filhos, talvez com a esperança de um dia haja reconciliação ou entendimento.
Pode também acontecer na vida religiosa. A pessoa pode já perder o gosto da vida por causa duma situação, …., perder o primeiro amor, e permanecer na vida religiosa para conservar o compromisso que fez perante o povo ou porque quer evitar que o povo lhe questione por ter abandonado o convento. No entanto, enquanto dentro continuar a desempenhar as suas tarefas com gosto e ninguém se aperceba de fora aquilo que está vivendo por dentro.
As experiência negativas que a gente vive pode arrefecer o fervor, a dedicação  que a pessoa tinha antes.
Nesta avaliação confirma-se de que Deus não nega o teu desempenho, a tua fidelidade, etc. mas diz que há um relaxamento, um arrefecimento.  
Ele não despreza a tua dedicação, nem a tua coragem. Ele constatou simplesmente que diminuíste na tua maneira de te entregar, há diminuição na dedicação, talvez por causa das críticas, do não reconhecimento do teu trabalho pelas outras, falta de apoio moral, material ou espiritual, por vergonha, ou te acha sozinha nos empreendimentos, talvez é o orgulho que te domina, não querendo ouvir as outras, nem partilhar as tuas dificuldades e alegrias com as outras, ou tens complexo de superioridade ou inferioridade, etc. há uma mudança que se manifesta.
A irmã que Deus conheceu há 25 anos, enquanto postulante, noviça, juniora, não é a mesma que se prepara hoje para o jubileu. O amor que tinhas antes para o teus Senhor, ou no principio da tua vocação não é o mesmo.
Deus quer te ver como no princípio da tua vocação, o teu primeiro amor, dedicação, entrega, primeiros sonhos, etc.
Diante disso, cabe questionar-se a si mesmo: as características do primeiro amor ainda permanecem em minha vida? Ainda sou movida por esse amor puro, forte, apaixonada de Jesus? A chama do primeiro amor ainda queima em meu peito como no início?
Se a resposta a estas perguntas é não, cabe a você uma renovação da aliança com Deus! É preciso se aproximar  Dele, pedir perdão e começar a recuperação das características de uma apaixonada por Deus, as características do primeiro amor.
Se a resposta a estas perguntas é sim, cabe a  você zelar pela manutenção desse amor que tanto agrada a Deus. Para manter esse amor aceso é preciso cultivar um relacionamento com Jesus a níveis profundos e cada vez mais profundos!

8.      A perda do primeiro amor

O primeiro amor nos leva ao trabalho, então a perda do primeiro amor poderia ser definida como sendo “uma diminuição da produtividade”. Uma empresa que baixa ou começa a baixar a produção, já se sabe que vai a falência.
De acordo com a mensagem de Jesus na Carta à Igreja de Éfeso, a perda do primeiro amor não é apenas uma questão de “relaxarmos” no trabalho de Deus, pois o Senhor lhes disse: “Conheço as tuas obras, tanto o teu trabalho como a tua perseverança” (Ap 2, 2a).
“Perder o primeiro amor” também não é “enfrentar uma crise de desânimo” ou “desejar desistir”, uma vez que, nesta mensagem profética, o Senhor Jesus elogia a persistência desses cristãos de Éfeso: “e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste desanimar” (Ap 2, 3).
A perda do primeiro amor também não pode ser vista como sendo um momento de crise no trabalho ou na dedicação, uma vez que é algo que Deus “tem contra nós”:
“Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” (Apocalipse 2, 4,5).
Portanto, a perda do primeiro amor é uma queda, é chamada de pecado, e necessita arrependimento. Há muitos consagrados que continuam se dedicando ao trabalho do Senhor, mas perderam a paixão. Fazem o que fazem por hábito, por rotina, por medo, pela honra, por quaisquer outros motivos, os quais, acompanhados daquele primeiro amor intenso, fariam sentido, mas sozinhos não. Isto é, fazer sem o primeiro amor, não tem sentido.
A queixa que o Senhor faz é o facto de que esses cristãos haviam abandonado o primeiro amor. É o facto que nós não vivemos o primeiro amor. O talvez vivemos, mas com um grau inferior em relação ao primeiro momento.
O Senhor Jesus tampouco está exortando os cristãos por não O amarem mais! Não se tratava de uma ausência completa de amor, pois ainda havia amor. No entanto, o amor deles havia perdido a sua intensidade e não era mais o amor que Ele esperava encontrar neles.
Todos nós continuamos a servir o Senhor até celebrando as bodas de prata. Sejamos sinceros minhas irmãs ! o amor que temos para o Senhor hoje, é este amor que Ele espera de nós ? somos fieis naquilo que prometemos viver mesmo? Em o que caímos para poder procurar como levantar e renovar o nosso amor ?




9.      As circunstancias que nos leva a perder o primeiro amor

O primeiro amor é como um fogo. Se colocamos lenha, ele fica mais inflamado. Contudo, se deitamos água, ele se apaga. Falhamos por não alimentarmos o fogo e por permitirmos que outras coisas o apaguem.
Muitas coisas contribuem para que o nosso amor pelo Senhor perca a sua intensidade. No entanto, há quatro coisas, especificamente. Se quisermos nos prevenir e evitar esta perda, ou se quisermos uma restauração, depois que perdemos este amor, precisaremos entender estes aspectos e a maneira como eles nos afectam:

·         O primeiro factor de enfraquecimento do nosso amor com o Senhor é “o convívio com o pecado”:
De que maneira a pessoa pode conviver com o pecado ? é quando aumentamos os erros e isso tem implicação sobre a nossa união com Deus: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará.” (Mateus 24, 12).
Assim, a ausência do primeiro amor é chamada de “pecado”, mas este pecado não é necessariamente ocasionado por um outro pecado na vida da pessoa que sofreu esta perda. Muitas vezes esta frieza é gerada pelo “convívio com o pecado dos outros”. Creio que, em Mateus 24,12, Jesus está Se referindo aos pecados da sociedade em que vivemos. Devido à multiplicação do pecado à nossa volta (e não necessariamente em nossas vidas), passamos a conviver com algumas coisas que, ainda que não as pratiquemos, passamos a tolerar.
Precisamos ter o cuidado de não nos acostumarmos com o pecado à nossa volta. Muitas vezes o embrulho dos filmes que nos proporcionam entretenimento faz com que nos acostumemos com alguns valores contrários ao que devemos viver. Acabamos aceitando com naturalidade a violência, a imoralidade, e muitos outros valores mundanos. Ainda que não cedendo a esses pecados, se não mantivermos um coração que aborreça o mal, ficaremos acostumados com esses valores errados a ponto de permitirmos que o nosso amor se esfrie.
·         O segundo factor que contribui para o arrefecimento do nosso amor pelo Senhor é a nossa falta de profundidade na vida espiritual, vida interior. Somos activistas a ponto de esquecer voltar no íntimo do nosso coração para fazer o exame de consciência sobre o nosso compromisso com o Senhor. Há muitas pessoas que vivem superficialmente o seu relacionamento com Cristo.
Na Parábola do Semeador, Jesus falou sobre a semente que caiu em solo pedregoso. O resultado é uma planta que brota depressa, mas não desenvolve a profundidade, porque a sua raiz não consegue penetrar profundamente no solo que não tem muita terra, tornando-se assim superficial. O risco que esta planta corre, pelo facto de que ela se desenvolveu na superfície, é que, saindo o sol (figura do calor das provações), ela pode morrer rapidamente:
“A que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; estes não têm raiz, crêem apenas por algum tempo e, na hora da provação, se desviam.” (Lucas 8.13).
O segredo de não nos afastarmos do Senhor nem perdermos a alegria inicial é o desenvolvimento da profundidade em nossa vida espiritual. Muitos  vivem somente dos cultos organizados pela comunidade ou paróquia e das orações de Breviários. Não investem tempo num relacionamento diário com o Senhor, não oram, não se enchem da Palavra, não procuram mortificar a sua carne para viverem no Espírito, não se envolvem no trabalho do Pai.
·         O terceiro factor que contribui para o esfriamento do nosso amor pelo Senhor é a falta de tratamento em algumas áreas das nossas vidas.
o Senhor Jesus nos deu nesta parábola  da semente que caiu entre espinhos:
“Outra caiu no meio dos espinhos; e estes, ao crescerem com ela, a sufocaram.” (Lucas 8, 7).
Os espinhos não pareciam ser tão comprometedores porque eram pequenos. E, justamente por não parecem perigosos, não foram arrancados. Depois, eles cresceram e sufocaram a semente da Palavra, abortando assim o propósito divino de frutificação.

“A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os cuidados, riquezas e prazeres da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer.” (Lucas 8, 14)
As áreas que não são tratadas em nossas vidas talvez não pareçam tão nocivas hoje, mas serão justamente as áreas que poderão nos sufocar na fé e no amor ao Senhor posteriormente. Estas áreas podem ser a nível institucional, eclesial, espiritual, etc.
Pode acontecer que a gente se preocupa muito na área relacionada com a oração esquecendo a área inter-relacional, etc.
·         O quarto factor no arrefecimento pode ser as “distracções”.
Diferentemente daquela que está travando uma luta contra o pecado, aquela que costuma ser dificultado pelas distracções é, via de regra, alguém que não tem abandonado ao pecado, mas perde o alvo ao distrair-se com coisas que talvez sejam até mesmo lícitas, mas roubam-lhe o foco.
O exemplo: quando Moisés foi encontrado o rei do Egipto com uma mensagem de libertação, este rei, o Faraó, aumentou o trabalho do povo para que eles se esquecessem da ideia de adoração a Deus:
“Disse também Faraó: O povo da terra já é muito, e vós o distraís das suas tarefas. Naquele mesmo dia, pois, deu ordem Faraó aos superintendentes do povo e aos seus capatazes, dizendo: Daqui em diante não torneis a dar palha ao povo, para fazer tijolos, como antes; eles mesmos que vão e ajuntem para si a palha. E exigireis deles a mesma conta de tijolos que antes faziam; nada diminuireis dela; estão ociosos e, por isso, clamam: Vamos e sacrifiquemos ao nosso Deus. Agrave-se o serviço sobre esses homens, para que nele se apliquem e não dêem ouvidos a palavras mentirosas.” (Êxodo 5, 5-9).
Isto mostra que, mesmo as tarefas que nos foram confiadas pela nossa congregação podem ser um obstáculo para nós ficar em contacto com Deus. O cúmulo de funções distrai-nos também. Podemos ser sempre em actividades, mas sempre olhar o nosso compromisso com o nosso Senhor. O compromisso não é apenas a reza do Breviário e a participação às celebrações. O encontro individual com Jesus é muito importante. Melhor arranjar um tempo para namorar com Jesus, ele precisa do nosso calor, etc. saber dizer não a outras tarefas é símbolo da humildade. Não pode acumular 6, 7 responsabilidades sozinha, pensando que a congregação confia em mim. Não, tenha cuidado. Sobretudo com a vossa idade aqui.
Devemos saber que Satanás usa diferentes tipos de estratégias para nos distrair e nos afastar de Jesus. Como irmãs jubilares devemos ser muito prudente quanto a isso. Devemos renovar o nosso compromisso tendo em canta deste aspecto. O Senhor mesmo disse:

“O que realmente eu quero é que estejais livres de preocupações. Quem não é casado cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor; mas o que se casou cuida das coisas do mundo, de como agradar à esposa, e assim está dividido. Também a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das coisas do Senhor, para ser santa, assim no corpo como no espírito; a que se casou, porém, se preocupa com as coisas do mundo, de como agradar ao marido. Digo isto em favor dos vossos próprios interesses; não para vos estender um laço, mas para vos ensinar o que melhor convém, o que vos poderá unir ao Senhor sem partilha.” (1 Coríntios 7, 32-35).

Acontece também que as vezes mesmo o nosso próprio serviço prestado ao Senhor tornar-se uma distracção. Os cristãos de Éfeso, conforme ouvimos no Apocalipse, perderam o seu primeiro amor enquanto não estavam parados a trabalhar para o Senhor. A mesma coisa aconteceu com Maria e Marta, encontramos uma clara advertência do Senhor Jesus (Lc 10, 38-42). Enquanto Maria estava aos pés de Jesus, Marta se queixava pelo fato de haver ficado sozinha na cozinha, servindo. Não creio que Marta estivesse trabalhando somente para manter a casa em ordem. Penso que ela tinha uma boa motivação de receber e servir bem ao Senhor Jesus.

No entanto, até mesmo os bons motivos podem tornarem-se  distracções, e por isso Jesus disse a Marta:
“Marta, Marta, andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Lucas 10, 41-42)
Jesus nos convida a ficar sempre pronto ao seu lado e lhe escutar, não nos distraiamos com outras coisas que nos afasta do seu amor. O nosso cuidado é importante para prevenirmos e evitar a perda do nosso primeiro amor. Contudo, há os que já perderam o seu primeiro amor. Assim sendo, é preciso fazer alguma coisa em relação à perda já sofrida.

10.  Deus mostra o caminho de volta para o primeiro amor

O caminho de volta é o caminho da restauração. Foi o próprio Senhor Jesus que propôs o caminho da restauração:
“Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” (Apocalipse 2, 5).
A questão de se lembrar de onde caímos, não se relaciona apenas com o incumprimento dos votos. Para ter consciência da queda, você tem que conhecer os termos de vosso compromisso com Deus, dado que são eles que são considerados como espelho da vossa vida. Para vocês jubilares, ter consciência de onde caíram  é olhar sobre o vosso compromisso. O que você prometeu viver ? como viveu o que prometeu ? e por quanto tempo ?
Cristo mencionou três passos práticos que devemos dar a fim de voltarmos ao primeiro amor:
1. Lembra-te! Que já falamos no inicio
2. Arrepende-te!
3. Volta à prática das primeiras obras!

O primeiro passo é um acto de recordação, de lembrança do tempo anterior à perda do primeiro amor. Não há melhor maneira de retomá-lo do que esta: relembrarmos os primeiros momentos da nossa fé, da nossa experiência com Deus, do nosso compromisso.

O facto de nos humilharmos perante o Senhor é o caminho para a exaltação (restauração) diante d’Ele. Se reconhecermos que abandonamos o nosso primeiro amor, teremos que preparar rapidamente um tempo para orarmos e chorarmos em arrependimento diante do Senhor e para buscarmos uma renovação.

Ver Joel 2, 12-14

O que devemos saber é que não basta apenas revivermos as lembranças e chorarmos! Temos que voltar a fazer o que abandonamos. Essas primeiras obras a que Cristo Se refere (Apocalipse 2, 5), não são o primeiro amor em si, mas estão ligados a ele – são uma forma de expressarmos e alimentarmos o nosso primeiro amor. Elas têm a ver com a forma pela qual O buscávamos e também a maneira como O servíamos. Jesus não protestou porque os efésios não O amavam mais, mas sim, porque já não O amavam mais como anteriormente. Precisamos mais do que o reconhecimento da nossa perda. Precisamos voltar a agir como no início da nossa caminhada com Cristo.

Portanto, é tempo de resgatarmos o nosso amor ao Senhor e dar-Lhe nada menos que um amor total. Que possamos sempre nos dominar da graça do Senhor, para vivermos intensamente a nossa obediência ao Maior compromisso.

11.  Como cultivar este amor com Jesus ?
O que é muito importante é a perseverança. Esta é uma das mais belas e exigentes virtudes encontradas na vida cristã e sobretudo na vida consagrada. E é considerada a base para alcançar as vitórias. Aliás, acredito que o motivo de encontrarmos tantas pessoas infelizes, frustradas e desmotivadas, em nossos dias, nesta nossa vida religiosa está ligado também à falta dessa virtude de perseverança. Quem não lutou por conquistar algo, não tem muito o que comemorar. Vocês lutaram muito até hoje, e por isso estão a comemorar o vosso compromisso.
O problema é que quem deseja perseverar, deve saber que precisa renunciar algumas coisas. O atleta que pretende perseverar na carreira, certamente vai ter de renunciar ao grande consumo de álcool , por exemplo. A religiosa, por sua vez, se deseja perseverar em sua “carreira, vocação, caminhada”, deve renunciar a tudo que o impede de viver dignamente como religiosa consagrada, inclusive quando se trata de relacionamentos.
Não é tarefa fácil, a renúncia sempre causa dor, mas só se alcança a vitória lutando por ela.
Em Apocalipse “Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida.” Ou seja, persevere que vale a pena. E tudo isso tem a ver com o primeiro amor, porque sem perseverarmos não conseguiremos manter acesa a chama da caridade em nossa alma, e sem a caridade, nada tem sentido.
Talvez as inúmeras actividades que fomos assumindo tenham nos afastado da meta e de nossos primeiros propósitos, mas Deus nos oferece a oportunidade de recomeçar. E este é o momento. Lembrando que o Senhor está muito mais interessado em nosso coração do que nas obras que realizamos em nome d’Ele. Façamos uma revisão de vida e deixemo-nos conduzir pelo Seu amor.
o primeiro amor não é uma fase que deverá passar, Pelo contrário, a repreensão de Jesus mostra claramente que Ele não aceita que o primeiro amor seja deixado para trás ou passe. Jesus é veementemente contra deixarmos o primeiro amor! Quando ele “puxa a orelha” dos crentes da igreja em Éfeso, demonstra claramente isto: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. “ (Ap 2. 4).

12.  Revisão  de vida
Revisão é a acção de revisar uma coisa, uma decisão, um plano, etc., com vistas a modificá-los se se considera oportuno. Revisar é voltar a olhar com mais atenção um trabalho, um compromisso, um projecto.
Para nós aqui, a revisão da vida significa voltar a ver, a considerar, a examinar os factos da vida, os acontecimentos, de forma mais consciente, mais profunda, mais verídica, mais significativa .
A revisão da vida é relacionada com a motivação da fé. Isto é, reconsiderar a vida com outra luz e outros olhos. São os que porta a novidade que nos traz Jesus Cristo  e que nos oferece o evangelho. Então, revisão de vida comporta a luz e fortaleza do Espírito para a conversão, a autenticidade cristã e o compromisso religioso.
13.  Deixar a sua nação e caminhar para terras desconhecidas
A vida não é o ponto de chegada, mas sim, uma saída. Também não é um ponto fixo e imutável. Isto é, história, caminhada, travessia, êxodo. Do mesmo modo, cada ser humano é, ao mesmo tempo, mestre, discípulo e caminho. Mestre não é quem sabe, mas quem está sempre aprendendo. E caminho não é apenas aquele que está pronto, mas aquele que a gente faz.
O senhor disse a Abraão, “Deixa a tua terra, tua família e a casa de teu pai, e vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação, eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos (Gn 12, 1-2).
Abraão descobriu o apelo que o conduziria a si mesmo: “sai da tua terra e vai para a terra que eu lhe mostrarei…” Ele tinha que sair no presente, mas a meta só seria revelada no caminho, no futuro.  E Moisés, de forma semelhante, vai ao encontro dos israelitas e parte em direcção ao deserto sustentado por uma promessa: “eu estou contigo…” Uma promessa, uma interpelação que leva ao futuro, que põe a caminho.
“venham e vejam !” com este convite Jesus acolhe o desejo peregrino daqueles dois discípulos de João baptista (Jo 1, 35-52). E eles deixaram o Baptista, a família, a casa e a vila e se matricularam na escola da estrada, fizeram-se aprendizes de um caminho, discípulos de um caminheiro. Trocaram a segurança da casa pela aventura da estrada, o reconhecimento de doutores pelos riscos de alunos, a estabilidade do conhecido pelo não saber que desestabiliza.
Eis aqui um itinerário a ser seguido pelos seguidores de Jesus nestes tempos em que os espaços mudam de forma e de consistência, oferecendo riscos e oportunidades: uma vida marcada pela abertura, pelo êxodo, pela procura, pela aventura, pela caminhada.  E uma vida consagrada que assume o desafio de caminhar sabe que não pode levar muita bagagem: leva somente o que é indispensável, consciente de que a caminhada possibilita também a invenção, a criatividade. Como as tribos que saíram de Egipto carregando os ossos de José, a vida consagrada segue levando nas costas a memória daqueles e daquelas que abriram caminhos e espaços de convivência humana e solidária.
Se um outro mundo é possível, ensaiar essa possibilidade é um imperativo. Não importa quão relativos e difíceis sejam tais ensaios. Pouco importa se a caminhada dura alguns meses ou se estende por anos ou décadas:  sair é urgente, caminhar é preciso o sonho é uma vida consagrada que edifique menos casas e abra mais caminhos.
14.  A imagem ou perfil de uma irmã jubilar
Que imagem as irmãs jubilares apresentam hoje ? como deveria ser, como desejaríamos que fossem ?
Algumas jubilares apresentam-se hoje como as não jubilares. Não há uma distinção, elas não se destacam na sua maneira de viver os seus compromissos. Concretamente aparece nelas o orgulho de ser jubilar e tem a honra de ser chamadas jubilares. etc
Uma irmão jubilar já é comprometida com Jesus e tem muita experiência, ela sabe como conquistar o Senhor, sabe como seduzir o Senhor. Saber o que fazer para que a amizade ou o amor fica sempre renovado.
Seduzir o Senhor é viver o evangelho, respeitar e viver o compromisso, ser exemplar, modelo, espiritual, humilde, esclarecedoras ou iluminadores das jovens em processo de.  etc.,
Desejaríamos que na vida da irmã jubilar transpareça a fé, a simplicidade, a  pobreza, a confiança, o sentido da fraternidade, a humildade, o amor. Jesus, continuamente, faz referencia a esses valores como sendo os mais típicos do Evangelho, e que se sintetizam no Sermão da Montanha e das bem-aventuranças. 
Em qualquer situação ou missão, o que se deve dizer é que uma irmã jubilar é uma mulher de Deus, testemunhas de Cristo, desinteressada de tudo, que não vive para si, mas para os outros.
Há muitas que vivem assim, porém, lamentavelmente, há muitas também em que o que ressalta é a profissional, a funcionária consagrada, a empresária, a activista, a patroa.
Neste tempo que se celebra a renovação dos seus compromissos, precisa ter uma outra visão daquilo que somos e devemos ser. 
·         Uma irmã jubilar precisa de ser uma pessoa com coração, que sabe agradecer e reconhecer a fonte das graças recebidas. Celebrar o jubileu nunca é fácil; têm-se que enfrentar numerosas contradições. Se vocês não aprenderam a controlar o vosso interior no encontro com o Senhor, não chegavam até hoje.
·         A irmã jubilar é uma discípula de Jesus que aprendeu a superar o medo. Jesus insiste: “não tenham medo” (Mc 4, 35-41; Mt 9,23-27; Lc 8, 22-25; Jo 6,16-21). É também aquela que, entregue ao seu Senhor, aprendeu a perder o medo. É ao que sabe ver a realidade com suas luzes e suas sombras, mas com serenidade. Nestes tempos de tantos medos, precisamos ser pessoas que transpareçam sua confiança em Deus e sua confiança no ser humano.
·         Neste tempo obscuros e imprevisíveis, a irmã jubilar é desafiada a ser uma mulher da esperança. A sua vida não está a deriva; está nas mãos de um Deus providente. O olhar de esperança permite reconhecer e cuidar dos sinais da vida nova, os sinais da obra de Deus, que de outro modo ficam ocultos ao nosso olhar.
·         O olhar de esperança vai junto a compaixão. A irmã como discípula de Jesus, precisa aprender com Jesus o que significa a compaixão cristão. Essa capacidade de fazer própria a dor do outro, inclusive naquilo que tem de mais obscuro.
·         A irmã discípula de Jesus é hoje convidada a ser testemunha da misericórdia e da compaixão de Deus, consciente de que este é o caminho mais eficaz para levar à conversão pessoal.
A irmã jubilar é chamado a ser uma mulher que viva profundamente a experiência de fraternidade. Um construtor de laços, de comunidade, de interacção das pessoas. Alguém que ajude a derrubar muros (Ef 2, 14) e a estabelecer pontes no meio desta realidade já tão fragmentada. Alguém que não se assuste diante da diversidade e da pluralidade, mas que saiba integrá-las respeitosamente em um todo dinamizado pela força do Espírito. Alguém acolhedor, dialogante, compreensivo, que aprendeu a reconhecer que estas são ferramentas fundamentais para construir a fraternidade no respeito e na justiça

15.  O jubileu: O seu contexto

Deus deu diversas leis ao seu povo (Israel) que tinham dentre vários objectivos, um especial, que era o de distingui-los dos outros povos, ou seja, fazer deles um povo diferenciado em suas práticas e em sua adoração a Deus. E uma dessas leis que tinha esse claro objectivo era a lei que organizava o ano do jubileu (Levítico 25:8-11; Levítico 27:17-24 e em Números 36:4).
O ano do jubileu acontecia de 50 em 50 anos. E os principais objectivos desse ano especial separado por Deus era que o povo vivesse um ano de libertação, restauração, fé e consagração ao Senhor através de diversas práticas que deveriam ser observadas nesse ano. Eram práticas que deveriam ocorrer na sociedade e na vida de indivíduos.
Levítico 25:13 – As pessoas deviam voltar as suas possessões iniciais: Deus havia dado a terra prometida e repartido entre as tribos de Israel. Transacções comerciais aconteciam e vendas de terras eram comuns, mas no ano do jubileu tudo deveria voltar aos primeiros donos.
O jubileu é um acto de gratidão para com Deus. O povo jubila porque Deus deu-lhe de volta as suas possessões, caminhou com ele, lhe deu a vida, etc., do mesmo modo, o vosso jubileu é o motivo de acção de graças por tudo quanto Deus fez na vossa vida, ele caminhou convosco nas alegrias, nos momentos críticos, de crises, nos sofrimentos até chegar a completar 25 anos, esta é uma graça. Isso significa que Deus vos deu a graça de perseverar na vossa vocação até chegar neste dia. “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que ele me deu não tem sido inútil. Ao contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo” (I Cor 15, 10). 
Por tudo que ele fez, vocês não têm nada para lhe dar, a única maneira de lhe agradecer é o gesto de gratidão que estão a fazer agora. O Salmo 115, 12-19. “Mas que poderei retribuir ao Senhor por tudo o que ele me tem dado ? cumprirei os meus votos para com o Senhor, na presença de todo o seu povo…”
Salmos 106: “louvai o Senhor, porque ele é bom, porque eterna á a sua misericórdia…”. Deus não olhou na minhas fraquezas, na minha infidelidade, mas sim, aceitou-me com os meus defeitos. Ele é misericordioso, devo lhe louvar.
Como Ele aceitou-me, eu também não posso cansar em lhe agradecer. Efésios 5,20: “rende graças, sem cessar e por todas as coisas, a Deus Pai, em nome de nosso Senhor  Jesus Cristo”.
1Tess 5, 18: “em toda as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo”.
Isaías 61, 10 “ com grande alegria eu me rejubilarei no Senhor e meu coração exultará de alegria em meu Deus, porque me fez revestir as vestimentas  da salvação. Envolveu-me com o manto de justiça, como um neo-esposo cinge o turbante, como uma jovem esposa se enfeita com suas jóias”.
A raiz que nos dá força ou que vos impele a agradecer a Deus, é o conhecimento do amor de Deus e a confiança nele. Viram que não mereceram nada, mas por amor, Deus deu-vos tudo. Ele manifestou o seu Amor gratuito, imerecido e este amor constrói a experiencia mais fundamental da vossa existência. Abandonar-se ao amor de Deus é uma longa e completa tarefa que dura toda a vida. Mas na medida em que se vai avançando nesta linha a vida começa a adquirir um sabor novo. E quando uma pessoa experimenta de modo vital que tudo é dom e graça, será possível fazer da própria vida um dom para os outros; uma entrega sem esperar nada em troca

16.  Eu devo avançar confiando no Senhor
O que fazer para ganhar a vida eterna  ? (Mc 10, 17)
A pessoa que colocou esta pergunta a Jesus, vivia uma experiência contraditória. Por um lado, sentia-se perfeitamente correcta, uma pessoa que praticava a contento as leis herdadas dos antepassados, no caminho seguro que conduziria à salvação, e isso desde sempre;  por outro, sentia dentro de si um vazio, uma falta, uma insatisfação, algo que ardia dentro de si.
A resposta de Jesus dá um nome a este vazio e aponta um caminho que leva seguramente a uma vida plena de sentido: despojar-se dos bens, partilhá-los com os pobres, trilhar seu caminho pessoal de paixão por Deus e paixão pela humanidade. O caminho que leva à vida eterna não está na segurança de um passado secamente repetido, mas no avanço corajoso, no enfrentar e na superação das crises, seja elas como o mar vermelho ou como a cruz do calvário.
Aquele homem, preferiu voltar às suas miseráveis seguranças, mesmo sabendo que aquelas não eram capazes de satisfazer seu desejo mais profundo. Os muitos bens e seguranças, acrescidos pelo medo de avançar, impossibilitavam o brilho do olhar dos sonhadores e encheram seu rosto de sombras.
A pessoa achava se conhecer melhor mas foi o contrário, não se conhecia e por isso quando Jesus lhe mostrou o caminho ele ficou desapontado. Como jubilares, devemos nos conhecer e conhecer também as nossas ambições.
17.  Conhecer-te a ti mesmo para avançar na travessia
Para fazer uma travessia, a pessoa deve se conhecer, isto é, conhecer as suas habilidades, aptidões, seus dons, capacidades (lidar com pessoas, de fazer…), suas limitações, os defeitos, deve ter consciência de tudo isso. Portanto, nesta travessia, a irmã jubilar deve ter consciência dos seus pontos fortes e fracos que pode lhe ajudar a saber como  lidar com uma situação que se apresenta a sua frente.
Sabemos bem que  homem como tal conhece alguma coisa sobre si,  mas não se conhece nem a 50 %. Mesmo se ficar muito tempo a treinar para se conhecer, não conseguirá ganhar uma grande parte do seu conhecimento. Ninguém consegue visualizar todas as dimensões da sua personalidade. Este é um processo contínuo, conhecemos uma faixa da nossa personalidade, a pessoa deve usar o outro como espelho para conhecer a  outra faixa.
 Isto quer dizer, a autoconhecimento implica a auto-consciência, a irmã deve ser consciente do seu estado de espírito, ter a capacidade de se conhecer, de lidar com as suas emoções,  aprender a geri-las e controlá-las. Deve saber como estas emoções lhe afectam, como elas influencia todo o seu ser, comportamento, etc. portanto, a irmã deve se aceitar para lidar com as suas emoções.
18.  Aceitar-te a ti mesmo para avançar na travessia
A travessia exige que a irmã tenha a capacidade de aceitar as suas qualidades, defeitos,  limites, perfeições e imperfeições ou vaidades. Isso exija uma autenticidade sem fingimento, saber descobrir e identificar as suas imperfeições, erro, etc.
Esta auto-aceitação nos revela  quem somos e nos ajuda a aceitarmos tudo o que existe em nós, valorizando os nossos esforços, enfrentando os fracassos e olhando para o que pode nos levar a aperfeiçoar o que não está bem em nós. Portanto, a irmã deve ter a capacidade de aceitar os seus dois lados, positivo e negativo. No entanto, aceitar o negativo não significa encorajar e valorizar este lado. Aceitando o lado negativo ajuda a procurar outros meio para corrigi-lo. Ajuda a pessoa a procurar meio a o aperfeiçoamento.
Uma maneira saudável de encarar a vida ajuda-nos a ultrapassar as dificuldades, sem fugas ou falsas desculpas, mas através de uma cooperação verdadeira com o nosso ser e o ser dos outros.
Quem se aceita como é, pode também aceitar os outros como eles são e não como gostaria que fossem. Com isso a vida comunitária é facilitada, a gente pode assim viver em harmonia.
19.  Estimar-te a ti mesmo para avançar na travessia
Uma travessia segura exige que a pessoa se valoriza a si própria, se aprecie a si própria. Quando valoriza-se ou aprecia-se a si mesmo, pode também valorizar e apreciar os outros. Assim viver bem na comunidade com as suas irmãs implica viver bem consigo mesma. Se houver guerra, desconfiança, ou qualquer desordem em si, mesmo na comunidade será a mesma coisa, iras criar guerra, etc. na comunidade. Se você não sabe amar-se ou estimar-se, não pode também amar nem estimar as outras. Enquanto como irmãs são obrigadas a viver com as outras e partilhar experiência juntas onde há  exigência de se apreciar, ajudar, valorizar, amar, perdoar, etc.
A auto-estima capacita a pessoa a desenvolver as suas habilidades, aumentar o nível de autoconfiança. Ajuda a valorizar a nossa própria vida e situar-nos onde estivermos.
20.   Conclusão
Irmãs, ao termo do nosso retiro, passo a vos lembrar que, a celebração do jubileu não é o ponto de chegada da  vossa experiência com Jesus, mas sim, o ponto de partida. O caminho é muito longo. São vocês que irão abrir este caminho. Se não nivelar bem o caminho, terão dificuldades de usar este mesmo caminho. Por isso peço-vos de afastar todos os obstáculos que possam provocar o tropeço no vosso caminho que vocês irão abrir  com muito sacrifício, para facilitar-vos a vós e às outras que vierem depois de vós.
Parabéns ! Feliz ano Jubilar !

Cléophas Mudita Ilunga, Ofm
2019









Agradecimentos a Deus,
Obrigada Senhor, Obrigada meu Deus por tudo quanto és por mim,                    obrigada por ter feito a escolha da minha pessoa para viver o Teu projecto de amor como consagrada  franciscana hospitaleira;
Apesar das minhas fragilidades e infidelidades,                                                      estiveste sempre comigo, de Coração cheio de amor, de misericórdia,                           de ternura para o retorno ao aconchego do Primeiro Amor;                                       Dou-te graças pelas oportunidades que me deste ao longo dos 25 anos, de trabalhar com o teu povo;
Dou-te graças pelas pessoas que foram colocadas ao longo do meu caminho,                e que me ajudaram a descobrir o teu rosto;
Peço a graça de continuar sendo uma pessoa simples, aberta e acolhedora.              Concede-me o dom da escuta, o dom da fé e do perdão,                                                 no novo espaço da minha missão;
Dou graças por aquilo que sou, por todas as graças recebidas ao longo da caminhada; 
Dou graças pelas teimosias, resistências, perseverança, confiança, medos, desafios, pelo SIM e o NÃO diários ao longo da minha travessia, que ajudaram a trilhar os caminhos do Projecto do Reino.


Obrigada meu Senhor !


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