“IRMÃS
COMPROMETIDAS COM O REINO DE DEUS EM
TEMPO DE TRAVESSIA”
DEUS FONTE DE GRAÇAS
1.
Introdução
Deus opera maravilhas na
nossa vida, nos nossos caminhos e continua a realizar grandes coisas que talvez
não conseguimos provar ou explicar. O que nos importa é aquilo que desejamos ou
pedimos. Esse, quando concedido, reconhecemos que foi dado e agradecemos. O
resto que recebemos sem pedir , é ignorado. Isto não significa que Deus não
deu. O ingrato é aquele que recebeu. Quando descubra que há uma coisa de mais
ou que se aumentou naquilo que tem, significa que há alguém que deu, é o Senhor.
Assim, ele precisa de ser agradecido.
Deste modo, o tempo que
iremos levar estes dias, é tempo de agradecimentos, preparação da renovação do
nosso compromisso, de amizade e da vida em geral, de modo que aquilo que pretendemos realizar corresponda com aquilo
que devemos ser na realidade.
O que se quer durante este tempo de retiro é:
- celebrar com
alegria jubilar a experiência do amor de Deus,
- lembrar-se das
maravilhas que se realizaram ao longo da caminhada
- partilhar as
nossas aventuras com Deus,
- reapropriar-se do
centro da identidade da Vida Religiosa Consagrada, para fazer as
travessias necessárias em fidelidade ao Reino de Deus.
Portanto, celebrar o jubileu é reconhecer o amor e a
fidelidade de Deus, isso significa que queremos reavivar a nossa história, os
desafios e a nossa missão com a alegria. Por esta razão, esses dias deverão ser
considerados como dias de convivência, da retomada do “Primeiro Amor” e de
muita partilha.
2. Comprometidas no tempo da travessia
Compromisso é
um acordo ou pacto entre duas partes. No nosso caso, é um acordo ou pacto entre
a irmã e o Senhor. Na renovação do compromisso, quer-se renovar
o acordo com o Senhor porque
viu-se de que o primeiro acordo ou pacto
deu bons resultados, apesar de algumas falhas, desrespeito do combinado
ou da negligência de alguns aspectos do acordo, etc. e por isso quer-se que o mesmo continue, mas esta vez com a
vontade de rectificar o que não foi bem cumprido e aperfeiçoar o que foi bem
feito.
No
compromisso, a preocupação fundamental é mostrar a Jesus vontade de viver a vida de forma autentica, na liberdade, sinceridade
e amor; realizar os projectos com humildade, paciência, etc., e que o mesmo
Jesus seja o farol nesta caminhada.
O tempo de
travessia é o tempo em que estamos, o tempo em que estamos a lutar para cumprir
o que prometemos. A travessia é todo o
nosso projecto para adiante. O tempo do
jubileu marca o fim da primeira parte da nossa caminha e o inicio duma nova,
cheia de experiência, de dedicação, de vontade de alcançar a coroa.
Comprometer-se
é aceitar tudo o que a nova etapa implica ou exige. Implica a fidelidade,
perseverança, coragem, etc.
Vocês estão a
celebrar o vosso jubileu de 25 anos da vida religiosa. Isto significa que são
25 anos da vivência dos conselhos evangélicos: obediência, pobreza, castidade.
Agora é só ver até que ponto viveram ou cumpriram estes conselhos evangélicos.
No entanto,
como especialistas na matéria, deve projectar para o futuro como se deve viver estes mesmos conselhos.
Porque já conhecem as circunstância em que caíram, as condições em que se
encontravam, os momentos em que estavam expostas aos perigos ocasionando a
caída, de que modo não respeitaram ou
não cumpriram os compromissos.
Estas
circunstância constituem o trampolim que vai vos ajudar a vos lançar para mais
longe, a bem saltar e superar os obstáculos. É por esta razão que vamos falamos
de nos lembrar de tudo que aconteceu na nossa caminhada, de tudo o que Deus fez
por nós durante estes anos.
A barriga de
uma mãe é considerada como uma loja onde tem vários tipos artigos, e a
congregação ou comunidade pode ser considerada como uma loja, porque nela
entra-se pessoas que têm cada uma a sua história, experiências, etc. Estas experiências… podem ser já esquecidas.
Precisa de se lembrar delas.
3.
Deus educa à
gratidão ao seu povo: Dt 8, 2-7.
11-18
“lembra-te
de todo o caminho por onde o Senhor te conduziu durante esses quarenta anos no
deserto para humilhar-te e provar-te, para conhecer os sentimentos de teu
coração e saber se observarias ou não os seus mandamentos” (2).
O senhor fala de Israel,
mas hoje Israel é cada um de nós, cada pessoa de forma particular. Já são 25
anos a servir o Senhor. Lembra-te de tudo o que aconteceu durante estes anos. Experimentou
provas, humilhações, situações difíceis que te levou, talvez, a pensar em
abandonar a vida religiosa, de desistir ao compromisso feito com o Senhor, etc.
Mas em tudo isso você resistiu, permaneceu firme. Eram prova que Deus fazia para conhecer os
sentimentos do teu coração e para saber se iria perseverar, apesar das
dificuldades, continuar firme na tua vocação.
Os caminhos, são os percursos que seguimos, o processo ou as etapas da
nossa formação, a nossa vida nas várias comunidades, etc. onde você
experimentou as humilhações as provas. para dizer que os caminhos são vários:
pode ser na casa de formação a comunidade por onde passou, as dificuldades, os
obstáculos, as responsabilidades que exerceu, etc..
Assim, o Senhor usa
vários caminhos para nos pôr a prova: podem ser as próprias irmãs, os vizinhos,
a próprias família, o ambiente, a localização da comunidade, o tipo de
trabalhos ou pastoral, etc. Deus usou todos estes caminhos para nos humilhar
afim de conhecer o que está no nosso coração. Para ver se iremos continuar
fiéis a Ele e a nossa vocação.
Os quarenta anos no deserto é todo o tempo que passamos nas
dificuldades, etc. Contudo, neste tempo
não estavam a caminhar sozinhas, estavam com Deus. Ele deu-vos a paciência, a
coragem, a perseverança, fé, confiança.
O deserto é o lugar de provação: noviciado, tempo de juniorado, etc.
você conseguiu superar todas as provações, até hoje diz que agora tenho que
agradecer o Senhor pelas maravilhas que operou em mim. Vou celebrar o jubileu,
a vitória porque consegui superar todas
as dificuldades e continuo firme na minha fé e na minha vocação.
“humilhou-te com a fome” (3). Cada pessoa, de forma natural, quer
satisfazer os seus apetites, os seus desejos, etc. tudo isso chama-se fome.
Assim, a fome são os nossos desejos, aquilo que queremos satisfazer para nós
mesmos mas não podemos tendo em conta daquilo que somos.
“tuas vestes não se gastaram sobre ti, e teu
pé não se magoou durante estes quarenta anos” (4). Deus te obrigou a viver numa
Regra, num estilo de vida que tu não conhecias, no momento em que todos da tua
idades usam roupa, sapatos do seu agrado, troca roupas, sapatos quando quiser,
você é obrigado a andar com hábito a todo momento, que haja calor ou frio, na
festa ou no falecimento, etc. esta é uma humilhação ! mas você não perdeu a sua
identidade, não perdeu o teu valor, pelo contrário deu-te valor.
Tudo o que Deus fazia com
o seu povo era uma preparação para uma vida futura melhor. Deus estava a moldar
o seu povo, a construir uma felicidade para o seu povo. É esta que chamamos a
graça.
“Reconhece em teu coração que assim como um homem corrige seu filho,
assim, te corrige o Senhor teu Deus” (5). Tudo que aconteceu no teu caminho, na
tua caminhada, é uma forma de Deus te moldar para teres uma nova forma, uma
nova cara, uma nova identidade. É uma valorização.
“guardarás os mandamentos do Senhor, teu Deus, andando em seus
caminhos e temendo-o” (6). Deve continuar firme na tua vocação, respeitando
todas as exigências da tua congregação, viver de modo a valorizar a sua
identidade.
“porque o Senhor teu Deu
vai conduzir-te a uma terra excelente, cheia de torrentes, de fontes e de
águas profundas…”(7). A nova etapa de vida vai providenciar ainda mais
benefícios, muita coisa porque já tem experiência.
“guarda-te de esquecer o Senhor teu Deu, negligenciando a
observância de suas ordens, seus preceitos e suas leis que hoje te prescrevo”
(11).
“não suceda que, depois
de teres comido à saciedade, de teres construído e habitado formosas casas, de
ter visto multiplicar teus bois e tuas ovelhas, e aumentar a tua prata, o teu
ouro e o teu bem, o teu coração se eleve, e te esqueças do Senhor teu
Deus…!(12-14).
Não é para orgulhar-te,
considerar-te superior a todos, se achar importante em relação em relação a
todos, mas sim, é uma graça concedida por Deus. Assim, do modo que perseverou
para chegar até aqui, deve ser a mesma maneira para adiante, mostrando que és
madura do que antes. Não diga que já alcançou a meta, e que a regra, a constituição,
os regulamentos fica para as noviças, as jovens, etc., Minha irmã, você foi eleita por Deus, sim,
mas não é para exibir esta nova eleição como bandeira para dominar ou
menosprezar as outras.
- Mas, agora meu Deus, o que dizes de mim ?
Pediste-me de me lembrar de toda a
minha história, da minha caminhada, de tudo o que vivi durante 24 anos, agora
me preparando para o jubileu de 25 anos, fiel no meu compromisso e na minha
congregação, considerada como tempo passado no deserto, nas minhas diferentes
comunidades, com responsabilidades e tarefas que me foram confiadas, onde houve
provas, tentações, mágoas, alegrias e sofrimentos, etc. mas agora o que dizes
de mim?
“Conheço as tuas obras, tanto o teu trabalho como a tua perseverança, e
que não podes suportar homens maus, puseste à prova os que a si mesmos se
declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; tens perseverança, suportaste provas por causa do meu nome, e
não desanimaste. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor.
Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras
obras; e, se não, virei a ti e removerei o teu candeeiro, caso não te
arrependas.” (Apocalipse 2, 2-5).
Os 25 anos passados nos cuidados de Deus não são esquecidas por Ele. Ele
reconhece bem tudo que fizeste, sobretudo neste tempo em que a vida religiosa é
um grande desafio, você mostrou a sua firmeza e fidelidade. Defendeu a cara da
vida religiosa nesta turbulência. É uma boa coisa, está de parabéns ! Mas Deus reclama
uma coisa apenas, você abandonou o teu primeiro amor.
5. O
meu Primeiro Amor
Deus fala do Primeiro amor, mas o que é “primeiro amor” ? o
que Deus quer dizer com isso ? O Senhor Jesus refere-se a o que nesta mensagem?
O
Primeiro amor é nosso primeiro encontro
com Cristo, primeira consagração ou primeiro compromisso, é o início da
caminhada com Ele. Como religiosa, é a nossa primeira profissão. Normalmente,
esse início de relacionamento com Jesus é marcado por um entusiasmo e ânimo
muito grandes, que impulsiona o nosso coração na direccão da vontade de Deus.
As pessoas que estão no primeiro amor costumam ser animadas
para a obra de Deus, para a evangelização, para o serviço; não costumam ficar
presas aos defeitos e problemas, pois focam sempre na direcção de Deus, amando
e servindo de todo o coração. Apesar das suas falhas, estão buscando a Deus
apaixonadamente e mudando sua forma de vida dia após dia.
6.
O primeiro amor e sua aplicação na
escritura
Este primeiro amor torna a pessoa um pouco louca, sempre alegre e
disposta e ansiosa de encontrar o seu amor. Portanto, o primeiro amor é uma
grande alegria e quando descobre este amor esqueça-se todos os sofrimentos. A
palavra do reino de Deus faz bem perceber esta mensagem.
“O reino dos céus é semelhante a
um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E,
transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.”
(Mateus 13,44).
O Senhor está falando de alguém que, além de transbordar de
alegria por ter encontrado o Reino de Deus, ainda se dispõe a abrir mão de tudo
o que tinha para desfrutar do seu achado. Estas duas características são
evidentes na vida de quem teve um encontro real com Jesus. Quem fez este tipo
de encontro fica pronto a deixar tudo para dedicar toda a sua vida ao serviço
de Deus.
Esta alegria inicial foi mencionada por Jesus na Parábola do
Semeador. O problema é que alguns irmãos e irmãs permitem que ela desapareça
diante de algumas provações:
“O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe
logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca
duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo
se escandaliza.” (Mateus 13, 20-21).
Outros, por sua vez, até mesmo diante das mais duras
provações, ainda permanecem transbordantes desta alegria, é como o que
aconteceu com alguns apóstolos: “Chamando os apóstolos, açoitaram-nos e,
ordenando-lhes que não falassem em o nome de Jesus, os soltaram. E eles se
retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de
sofrer afrontas por esse Nome.” (Actos 5,40,41). O amor estava a brilhar neles,
não podiam pensar a abandonar este amor.
O primeiro amor é o nosso primeiro momento de relacionamento
com Cristo em que nos devotamos de todo o nosso ser a Ele. Abrimos mão de tudo
por causa dele:
“O reino dos céus é também semelhante a um que negocia e procura boas
pérolas; e, tendo achado uma pérola de grande valor, vende tudo o que possui e
a compra.” (Mateus 13,45,46).
O Reino de Deus passa a ser uma prioridade absoluta. É quando
amamos a Deus de todo o nosso coração e alma, com todas as nossas forças e
entendimento. Este primeiro amor nos leva a vivermos intensamente a fé e os
compromissos.
No principio da vida cristã era assim mesmo: “Então, os que aceitaram a
palavra foram baptizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil
pessoas. E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do
pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram
feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e
tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o
produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente
perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas
refeições com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e contando com
a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a
dia, os que iam sendo salvos.” (Actos 2,41-47).
Este amor também faz com que trabalhemos para Deus. Jesus
relacionou este amor com obras quando disse a Pedro que se ele O amasse, ele
deveria pastorear o Seu rebanho (Jo 21,15-17). O apóstolo Paulo falou que o
amor de Cristo nos constrange a não mais vivermos para nós, e sim para Ele:
“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por
todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não
vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”
(2 Coríntios 5,14-15).
Foi este “constrangimento” de amor que fez com que o apóstolo
Paulo trabalhasse mais do que os demais apóstolos:
“Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi
concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles;
todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.” (1 Coríntios 15,10).
O primeiro amor é uma profunda resposta ao entendimento do
amor de Cristo, o que nos leva a buscarmos e a servirmos ao Senhor com
intensidade e paixão.
Podemos nos lembrar que há um certo momento da nossa
caminhada que trabalhamos muito nos entregando totalmente a serviço de Deus,
até esquecer o que era necessário por nós mesmos. Naquele momento era o fogo do
amor que ardia em nós, na nossa vocação.
7.
A avaliação do
grau do primeiro amor
Uma pessoa pode amar no
inicio e ao longo dos anos, o amor começa a ser ameaçado, a diminuir até mesmo
desaparecer. Nas familiar conseguimos ver isso. É o exemplo de divorcio. Uma
mulher pode ser convencido que já entre eu e o meu marido não amor, não casamento, mas assegura o lar para cuidar dos
filhos, talvez com a esperança de um dia haja reconciliação ou entendimento.
Pode também acontecer na
vida religiosa. A pessoa pode já perder o gosto da vida por causa duma
situação, …., perder o primeiro amor, e permanecer na vida religiosa para
conservar o compromisso que fez perante o povo ou porque quer evitar que o povo
lhe questione por ter abandonado o convento. No entanto, enquanto dentro
continuar a desempenhar as suas tarefas com gosto e ninguém se aperceba de fora
aquilo que está vivendo por dentro.
As experiência negativas
que a gente vive pode arrefecer o fervor, a dedicação que a pessoa tinha antes.
Nesta avaliação
confirma-se de que Deus não nega o teu desempenho, a tua fidelidade, etc. mas
diz que há um relaxamento, um arrefecimento.
Ele não despreza a tua
dedicação, nem a tua coragem. Ele constatou simplesmente que diminuíste na tua
maneira de te entregar, há diminuição na dedicação, talvez por causa das
críticas, do não reconhecimento do teu trabalho pelas outras, falta de apoio
moral, material ou espiritual, por vergonha, ou te acha sozinha nos
empreendimentos, talvez é o orgulho que te domina, não querendo ouvir as
outras, nem partilhar as tuas dificuldades e alegrias com as outras, ou tens
complexo de superioridade ou inferioridade, etc. há uma mudança que se
manifesta.
A irmã que Deus conheceu
há 25 anos, enquanto postulante, noviça, juniora, não é a mesma que se prepara hoje
para o jubileu. O amor que tinhas antes para o teus Senhor, ou no principio da
tua vocação não é o mesmo.
Deus quer te ver como no
princípio da tua vocação, o teu primeiro amor, dedicação, entrega, primeiros
sonhos, etc.
Diante disso, cabe questionar-se a
si mesmo: as características do primeiro amor ainda permanecem em minha vida?
Ainda sou movida por esse amor puro, forte, apaixonada de Jesus? A chama do
primeiro amor ainda queima em meu peito como no início?
Se a resposta a estas perguntas é não,
cabe a você uma renovação da aliança com Deus! É preciso se aproximar Dele, pedir perdão e começar a recuperação
das características de uma apaixonada por Deus, as características do primeiro
amor.
Se a resposta a estas perguntas é sim,
cabe a você zelar pela manutenção desse
amor que tanto agrada a Deus. Para manter esse amor aceso é preciso cultivar um
relacionamento com Jesus a níveis profundos e cada vez mais profundos!
8. A perda do primeiro amor
O primeiro amor nos leva ao trabalho, então a perda do
primeiro amor poderia ser definida como sendo “uma diminuição da
produtividade”. Uma empresa que baixa ou começa a baixar a produção, já se sabe
que vai a falência.
De acordo com a mensagem de Jesus na Carta à Igreja de Éfeso,
a perda do primeiro amor não é apenas uma questão de “relaxarmos” no trabalho
de Deus, pois o Senhor lhes disse: “Conheço as tuas obras, tanto o teu trabalho
como a tua perseverança” (Ap 2, 2a).
“Perder o primeiro amor” também não é “enfrentar uma crise de
desânimo” ou “desejar desistir”, uma vez que, nesta mensagem profética, o
Senhor Jesus elogia a persistência desses cristãos de Éfeso: “e tens
perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste desanimar”
(Ap 2, 3).
A perda do primeiro amor também não pode ser vista como sendo
um momento de crise no trabalho ou na dedicação, uma vez que é algo que Deus
“tem contra nós”:
“Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te,
pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se
não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.”
(Apocalipse 2, 4,5).
Portanto, a perda do primeiro amor é uma queda, é chamada de
pecado, e necessita arrependimento. Há muitos consagrados que continuam se
dedicando ao trabalho do Senhor, mas perderam a paixão. Fazem o que fazem por
hábito, por rotina, por medo, pela honra, por quaisquer outros motivos, os
quais, acompanhados daquele primeiro amor intenso, fariam sentido, mas sozinhos
não. Isto é, fazer sem o primeiro amor, não tem sentido.
A queixa que o Senhor faz é o facto de que esses cristãos
haviam abandonado o primeiro amor. É o facto que nós não vivemos o primeiro
amor. O talvez vivemos, mas com um grau inferior em relação ao primeiro
momento.
O Senhor Jesus tampouco está exortando os cristãos por não O
amarem mais! Não se tratava de uma ausência completa de amor, pois ainda havia
amor. No entanto, o amor deles havia perdido a sua intensidade e não era mais o
amor que Ele esperava encontrar neles.
Todos nós continuamos a servir o Senhor até celebrando as
bodas de prata. Sejamos sinceros minhas irmãs ! o amor que temos para o Senhor
hoje, é este amor que Ele espera de nós ? somos fieis naquilo que prometemos
viver mesmo? Em o que caímos para poder procurar como levantar e renovar o
nosso amor ?
9. As
circunstancias que nos leva a perder o primeiro amor
O primeiro amor é como um fogo. Se colocamos lenha, ele fica
mais inflamado. Contudo, se deitamos água, ele se apaga. Falhamos por não
alimentarmos o fogo e por permitirmos que outras coisas o apaguem.
Muitas coisas contribuem para que o nosso amor pelo Senhor
perca a sua intensidade. No entanto, há quatro coisas, especificamente. Se
quisermos nos prevenir e evitar esta perda, ou se quisermos uma restauração,
depois que perdemos este amor, precisaremos entender estes aspectos e a maneira
como eles nos afectam:
·
O primeiro factor de enfraquecimento do nosso
amor com o Senhor é “o convívio com o pecado”:
De que maneira a pessoa pode conviver com o pecado ? é quando aumentamos
os erros e isso tem implicação sobre a nossa união com Deus: “E, por se
multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará.” (Mateus 24, 12).
Assim, a ausência do primeiro amor é chamada de “pecado”, mas
este pecado não é necessariamente ocasionado por um outro pecado na vida da
pessoa que sofreu esta perda. Muitas vezes esta frieza é gerada pelo “convívio
com o pecado dos outros”. Creio que, em Mateus 24,12, Jesus está Se referindo
aos pecados da sociedade em que vivemos. Devido à multiplicação do pecado à
nossa volta (e não necessariamente em nossas vidas), passamos a conviver com
algumas coisas que, ainda que não as pratiquemos, passamos a tolerar.
Precisamos ter o cuidado de não nos acostumarmos com o pecado
à nossa volta. Muitas vezes o embrulho dos filmes que nos proporcionam
entretenimento faz com que nos acostumemos com alguns valores contrários ao que
devemos viver. Acabamos aceitando com naturalidade a violência, a imoralidade,
e muitos outros valores mundanos. Ainda que não cedendo a esses pecados, se não
mantivermos um coração que aborreça o mal, ficaremos acostumados com esses
valores errados a ponto de permitirmos que o nosso amor se esfrie.
·
O segundo factor que contribui para o arrefecimento
do nosso amor pelo Senhor é a nossa falta de profundidade na vida espiritual,
vida interior. Somos activistas a ponto de esquecer voltar no íntimo do nosso
coração para fazer o exame de consciência sobre o nosso compromisso com o
Senhor. Há muitas pessoas que vivem superficialmente o seu relacionamento com
Cristo.
Na Parábola do Semeador, Jesus falou sobre a semente que caiu
em solo pedregoso. O resultado é uma planta que brota depressa, mas não
desenvolve a profundidade, porque a sua raiz não consegue penetrar
profundamente no solo que não tem muita terra, tornando-se assim superficial. O
risco que esta planta corre, pelo facto de que ela se desenvolveu na
superfície, é que, saindo o sol (figura do calor das provações), ela pode
morrer rapidamente:
“A que caiu sobre a pedra são os que, ouvindo a palavra, a recebem com
alegria; estes não têm raiz, crêem apenas por algum tempo e, na hora da
provação, se desviam.” (Lucas 8.13).
O segredo de não nos afastarmos do Senhor nem perdermos a
alegria inicial é o desenvolvimento da profundidade em nossa vida espiritual.
Muitos vivem somente dos cultos
organizados pela comunidade ou paróquia e das orações de Breviários. Não
investem tempo num relacionamento diário com o Senhor, não oram, não se enchem
da Palavra, não procuram mortificar a sua carne para viverem no Espírito, não
se envolvem no trabalho do Pai.
·
O terceiro factor que contribui para o
esfriamento do nosso amor pelo Senhor é a falta de tratamento em algumas áreas
das nossas vidas.
o Senhor Jesus nos deu nesta parábola da semente que caiu entre espinhos:
“Outra caiu no meio dos espinhos; e estes, ao crescerem com ela, a
sufocaram.” (Lucas 8, 7).
Os espinhos não pareciam ser tão comprometedores porque eram
pequenos. E, justamente por não parecem perigosos, não foram arrancados.
Depois, eles cresceram e sufocaram a semente da Palavra, abortando assim o propósito
divino de frutificação.
“A que caiu entre espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias,
foram sufocados com os cuidados, riquezas e prazeres da vida; os seus frutos
não chegam a amadurecer.” (Lucas 8, 14)
As áreas que não são tratadas em nossas vidas talvez não
pareçam tão nocivas hoje, mas serão justamente as áreas que poderão nos sufocar
na fé e no amor ao Senhor posteriormente. Estas áreas podem ser a nível
institucional, eclesial, espiritual, etc.
Pode acontecer que a gente se preocupa muito na área
relacionada com a oração esquecendo a área inter-relacional, etc.
·
O quarto factor no arrefecimento pode ser as
“distracções”.
Diferentemente daquela que está travando uma luta contra o
pecado, aquela que costuma ser dificultado pelas distracções é, via de regra,
alguém que não tem abandonado ao pecado, mas perde o alvo ao distrair-se com
coisas que talvez sejam até mesmo lícitas, mas roubam-lhe o foco.
O exemplo: quando Moisés foi encontrado o rei do Egipto com
uma mensagem de libertação, este rei, o Faraó, aumentou o trabalho do povo para
que eles se esquecessem da ideia de adoração a Deus:
“Disse também Faraó: O povo da terra já é muito, e vós o distraís das
suas tarefas. Naquele mesmo dia, pois, deu ordem Faraó aos superintendentes do
povo e aos seus capatazes, dizendo: Daqui em diante não torneis a dar palha ao
povo, para fazer tijolos, como antes; eles mesmos que vão e ajuntem para si a
palha. E exigireis deles a mesma conta de tijolos que antes faziam; nada
diminuireis dela; estão ociosos e, por isso, clamam: Vamos e sacrifiquemos ao
nosso Deus. Agrave-se o serviço sobre esses homens, para que nele se apliquem e
não dêem ouvidos a palavras mentirosas.” (Êxodo 5, 5-9).
Isto mostra que, mesmo as tarefas que nos foram confiadas
pela nossa congregação podem ser um obstáculo para nós ficar em contacto com
Deus. O cúmulo de funções distrai-nos também. Podemos ser sempre em
actividades, mas sempre olhar o nosso compromisso com o nosso Senhor. O
compromisso não é apenas a reza do Breviário e a participação às celebrações. O
encontro individual com Jesus é muito importante. Melhor arranjar um tempo para
namorar com Jesus, ele precisa do nosso calor, etc. saber dizer não a outras
tarefas é símbolo da humildade. Não pode acumular 6, 7 responsabilidades sozinha,
pensando que a congregação confia em mim. Não, tenha cuidado. Sobretudo com a
vossa idade aqui.
Devemos saber que Satanás usa diferentes tipos de estratégias
para nos distrair e nos afastar de Jesus. Como irmãs jubilares devemos ser
muito prudente quanto a isso. Devemos renovar o nosso compromisso tendo em
canta deste aspecto. O Senhor mesmo disse:
“O que realmente eu quero é que estejais livres de preocupações. Quem não
é casado cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor; mas o que se casou
cuida das coisas do mundo, de como agradar à esposa, e assim está dividido.
Também a mulher, tanto a viúva como a virgem, cuida das coisas do Senhor, para
ser santa, assim no corpo como no espírito; a que se casou, porém, se preocupa
com as coisas do mundo, de como agradar ao marido. Digo isto em favor dos
vossos próprios interesses; não para vos estender um laço, mas para vos ensinar
o que melhor convém, o que vos poderá unir ao Senhor sem partilha.” (1
Coríntios 7, 32-35).
Acontece também que as vezes mesmo o nosso próprio serviço
prestado ao Senhor tornar-se uma distracção. Os cristãos de Éfeso, conforme
ouvimos no Apocalipse, perderam o seu primeiro amor enquanto não estavam
parados a trabalhar para o Senhor. A mesma coisa aconteceu com Maria e Marta,
encontramos uma clara advertência do Senhor Jesus (Lc 10, 38-42). Enquanto
Maria estava aos pés de Jesus, Marta se queixava pelo fato de haver ficado
sozinha na cozinha, servindo. Não creio que Marta estivesse trabalhando somente
para manter a casa em ordem. Penso que ela tinha uma boa motivação de receber e
servir bem ao Senhor Jesus.
No entanto, até mesmo os bons motivos podem tornarem-se distracções, e por isso Jesus disse a Marta:
“Marta, Marta, andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto,
pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e
esta não lhe será tirada.” (Lucas 10, 41-42)
Jesus nos convida a ficar sempre pronto ao seu lado e lhe
escutar, não nos distraiamos com outras coisas que nos afasta do seu amor. O
nosso cuidado é importante para prevenirmos e evitar a perda do nosso primeiro
amor. Contudo, há os que já perderam o seu primeiro amor. Assim sendo, é
preciso fazer alguma coisa em relação à perda já sofrida.
10. Deus
mostra o caminho de volta para o primeiro amor
O caminho de volta é o caminho da restauração. Foi o próprio
Senhor Jesus que propôs o caminho da restauração:
“Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das
primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro,
caso não te arrependas.” (Apocalipse 2, 5).
A questão de se lembrar de onde caímos, não se relaciona apenas com o
incumprimento dos votos. Para ter consciência da queda, você tem que conhecer
os termos de vosso compromisso com Deus, dado que são eles que são considerados
como espelho da vossa vida. Para vocês jubilares, ter consciência de onde
caíram é olhar sobre o vosso
compromisso. O que você prometeu viver ? como viveu o que prometeu ? e por
quanto tempo ?
Cristo mencionou três passos práticos que devemos dar a fim
de voltarmos ao primeiro amor:
1. Lembra-te! Que já falamos no inicio
2. Arrepende-te!
3. Volta à prática das primeiras obras!
O primeiro passo é um acto de recordação, de lembrança do
tempo anterior à perda do primeiro amor. Não há melhor maneira de retomá-lo do
que esta: relembrarmos os primeiros momentos da nossa fé, da nossa experiência
com Deus, do nosso compromisso.
O facto de nos humilharmos perante o Senhor é o caminho para
a exaltação (restauração) diante d’Ele. Se reconhecermos que abandonamos o nosso
primeiro amor, teremos que preparar rapidamente um tempo para orarmos e
chorarmos em arrependimento diante do Senhor e para buscarmos uma renovação.
Ver Joel 2, 12-14
O que devemos saber é que não basta apenas revivermos as
lembranças e chorarmos! Temos que voltar a fazer o que abandonamos. Essas
primeiras obras a que Cristo Se refere (Apocalipse 2, 5), não são o
primeiro amor em si, mas estão ligados a ele – são uma forma de expressarmos e
alimentarmos o nosso primeiro amor. Elas têm a ver com a forma pela qual O
buscávamos e também a maneira como O servíamos. Jesus não protestou porque os
efésios não O amavam mais, mas sim, porque já não O amavam mais como
anteriormente. Precisamos mais do que o reconhecimento da nossa perda.
Precisamos voltar a agir como no início da nossa caminhada com Cristo.
Portanto, é tempo de resgatarmos o nosso amor ao Senhor e dar-Lhe
nada menos que um amor total. Que possamos sempre nos dominar da graça do
Senhor, para vivermos intensamente a nossa obediência ao Maior compromisso.
11. Como cultivar este amor com Jesus ?
O que é muito importante é a perseverança.
Esta é uma das mais belas e exigentes virtudes encontradas na vida cristã e
sobretudo na vida consagrada. E é considerada a base para alcançar as vitórias.
Aliás, acredito que o motivo de encontrarmos tantas pessoas infelizes,
frustradas e desmotivadas, em nossos dias, nesta nossa vida religiosa está
ligado também à falta dessa virtude de perseverança. Quem não lutou por conquistar algo, não tem
muito o que comemorar. Vocês lutaram muito até hoje, e por isso estão a
comemorar o vosso compromisso.
O problema é que quem deseja
perseverar, deve saber que precisa renunciar algumas coisas. O atleta que
pretende perseverar na carreira, certamente vai ter de renunciar ao grande
consumo de álcool , por exemplo. A religiosa, por sua vez, se deseja perseverar
em sua “carreira, vocação, caminhada”, deve renunciar a tudo que o impede de
viver dignamente como religiosa consagrada, inclusive quando se trata de
relacionamentos.
Não
é tarefa fácil, a renúncia sempre causa dor, mas só se alcança a vitória
lutando por ela.
Em
Apocalipse “Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida.” Ou seja,
persevere que vale a pena. E tudo isso tem a ver com o primeiro amor, porque
sem perseverarmos não conseguiremos manter acesa a chama da caridade em nossa
alma, e sem a caridade, nada tem sentido.
Talvez
as inúmeras actividades que fomos assumindo tenham nos afastado da meta e de
nossos primeiros propósitos, mas Deus nos oferece a oportunidade de recomeçar.
E este é o momento. Lembrando que o Senhor está muito mais interessado em nosso
coração do que nas obras que realizamos em nome d’Ele. Façamos uma revisão de vida e deixemo-nos conduzir
pelo Seu amor.
o primeiro amor
não é uma fase que deverá passar, Pelo contrário, a repreensão de Jesus mostra
claramente que Ele não aceita que o primeiro amor seja deixado para trás ou
passe. Jesus é veementemente contra deixarmos o primeiro amor! Quando ele “puxa
a orelha” dos crentes da igreja em Éfeso, demonstra claramente isto: “Tenho,
porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. “ (Ap 2. 4).
12. Revisão
de vida
Revisão é a
acção de revisar uma coisa, uma decisão, um plano, etc., com vistas a
modificá-los se se considera oportuno. Revisar é voltar a olhar com mais
atenção um trabalho, um compromisso, um projecto.
Para nós aqui,
a revisão da vida significa voltar a ver, a considerar, a examinar os factos da
vida, os acontecimentos, de forma mais consciente, mais profunda, mais
verídica, mais significativa .
A revisão da
vida é relacionada com a motivação da fé. Isto é, reconsiderar a vida com outra
luz e outros olhos. São os que porta a novidade que nos traz Jesus Cristo e que nos oferece o evangelho. Então, revisão
de vida comporta a luz e fortaleza do Espírito para a conversão, a
autenticidade cristã e o compromisso religioso.
13.
Deixar a sua
nação e caminhar para terras desconhecidas
A vida não é o
ponto de chegada, mas sim, uma saída. Também não é um ponto fixo e imutável.
Isto é, história, caminhada, travessia, êxodo. Do mesmo modo, cada ser humano
é, ao mesmo tempo, mestre, discípulo e caminho. Mestre não é quem sabe, mas
quem está sempre aprendendo. E caminho não é apenas aquele que está pronto, mas
aquele que a gente faz.
O senhor disse
a Abraão, “Deixa a tua terra, tua família e a casa de teu pai, e vai para a
terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação, eu te abençoarei e
exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos (Gn 12, 1-2).
Abraão descobriu
o apelo que o conduziria a si mesmo: “sai da tua terra e vai para a terra que
eu lhe mostrarei…” Ele tinha que sair no presente, mas a meta só seria revelada
no caminho, no futuro. E Moisés, de
forma semelhante, vai ao encontro dos israelitas e parte em direcção ao deserto
sustentado por uma promessa: “eu estou contigo…” Uma promessa, uma interpelação
que leva ao futuro, que põe a caminho.
“venham e
vejam !” com este convite Jesus acolhe o desejo peregrino daqueles dois
discípulos de João baptista (Jo 1, 35-52). E eles deixaram o Baptista, a
família, a casa e a vila e se matricularam na escola da estrada, fizeram-se
aprendizes de um caminho, discípulos de um caminheiro. Trocaram a segurança da
casa pela aventura da estrada, o reconhecimento de doutores pelos riscos de
alunos, a estabilidade do conhecido pelo não saber que desestabiliza.
Eis aqui um
itinerário a ser seguido pelos seguidores de Jesus nestes tempos em que os
espaços mudam de forma e de consistência, oferecendo riscos e oportunidades:
uma vida marcada pela abertura, pelo êxodo, pela procura, pela aventura, pela
caminhada. E uma vida consagrada que
assume o desafio de caminhar sabe que não pode levar muita bagagem: leva
somente o que é indispensável, consciente de que a caminhada possibilita também
a invenção, a criatividade. Como as tribos que saíram de Egipto carregando os
ossos de José, a vida consagrada segue levando nas costas a memória daqueles e
daquelas que abriram caminhos e espaços de convivência humana e solidária.
Se um outro mundo
é possível, ensaiar essa possibilidade é um imperativo. Não importa quão
relativos e difíceis sejam tais ensaios. Pouco importa se a caminhada dura
alguns meses ou se estende por anos ou décadas:
sair é urgente, caminhar é preciso o sonho é uma vida consagrada que
edifique menos casas e abra mais caminhos.
14.
A imagem ou
perfil de uma irmã jubilar
Que imagem as
irmãs jubilares apresentam hoje ? como deveria ser, como desejaríamos que
fossem ?
Algumas
jubilares apresentam-se hoje como as não jubilares. Não há uma distinção, elas
não se destacam na sua maneira de viver os seus compromissos. Concretamente
aparece nelas o orgulho de ser jubilar e tem a honra de ser chamadas jubilares.
etc
Uma irmão
jubilar já é comprometida com Jesus e tem muita experiência, ela sabe como
conquistar o Senhor, sabe como seduzir o Senhor. Saber o que fazer para que a
amizade ou o amor fica sempre renovado.
Seduzir o
Senhor é viver o evangelho, respeitar e viver o compromisso, ser exemplar,
modelo, espiritual, humilde, esclarecedoras ou iluminadores das jovens em
processo de. etc.,
Desejaríamos
que na vida da irmã jubilar transpareça a fé, a simplicidade, a pobreza, a confiança, o sentido da
fraternidade, a humildade, o amor. Jesus, continuamente, faz referencia a esses
valores como sendo os mais típicos do Evangelho, e que se sintetizam no Sermão
da Montanha e das bem-aventuranças.
Em qualquer
situação ou missão, o que se deve dizer é que uma irmã jubilar é uma mulher de
Deus, testemunhas de Cristo, desinteressada de tudo, que não vive para si, mas
para os outros.
Há muitas que
vivem assim, porém, lamentavelmente, há muitas também em que o que ressalta é a
profissional, a funcionária consagrada, a empresária, a activista, a patroa.
Neste tempo
que se celebra a renovação dos seus compromissos, precisa ter uma outra visão
daquilo que somos e devemos ser.
·
Uma irmã jubilar precisa de ser uma pessoa com
coração, que sabe agradecer e reconhecer a fonte das graças recebidas. Celebrar
o jubileu nunca é fácil; têm-se que enfrentar numerosas contradições. Se vocês
não aprenderam a controlar o vosso interior no encontro com o Senhor, não
chegavam até hoje.
·
A irmã jubilar é uma discípula de Jesus que
aprendeu a superar o medo. Jesus insiste: “não tenham medo” (Mc 4, 35-41; Mt
9,23-27; Lc 8, 22-25; Jo 6,16-21). É também aquela que, entregue ao seu Senhor,
aprendeu a perder o medo. É ao que sabe ver a realidade com suas luzes e suas
sombras, mas com serenidade. Nestes tempos de tantos medos, precisamos ser
pessoas que transpareçam sua confiança em Deus e sua confiança no ser humano.
·
Neste tempo obscuros e imprevisíveis, a irmã
jubilar é desafiada a ser uma mulher da esperança. A sua vida não está a
deriva; está nas mãos de um Deus providente. O olhar de esperança permite
reconhecer e cuidar dos sinais da vida nova, os sinais da obra de Deus, que de
outro modo ficam ocultos ao nosso olhar.
·
O olhar de esperança vai junto a compaixão. A
irmã como discípula de Jesus, precisa aprender com Jesus o que significa a
compaixão cristão. Essa capacidade de fazer própria a dor do outro, inclusive
naquilo que tem de mais obscuro.
·
A irmã discípula de Jesus é hoje convidada a ser
testemunha da misericórdia e da compaixão de Deus, consciente de que este é o
caminho mais eficaz para levar à conversão pessoal.
A irmã jubilar
é chamado a ser uma mulher que viva profundamente a experiência de
fraternidade. Um construtor de laços, de comunidade, de interacção das pessoas.
Alguém que ajude a derrubar muros (Ef 2, 14) e a estabelecer pontes no meio
desta realidade já tão fragmentada. Alguém que não se assuste diante da
diversidade e da pluralidade, mas que saiba integrá-las respeitosamente em um
todo dinamizado pela força do Espírito. Alguém acolhedor, dialogante,
compreensivo, que aprendeu a reconhecer que estas são ferramentas fundamentais
para construir a fraternidade no respeito e na justiça
15. O jubileu: O seu contexto
Deus deu
diversas leis ao seu povo (Israel) que tinham dentre vários objectivos, um
especial, que era o de distingui-los dos outros povos, ou seja, fazer deles um
povo diferenciado em suas práticas e em sua adoração a Deus. E uma dessas leis
que tinha esse claro objectivo era a lei que organizava o ano do jubileu (Levítico
25:8-11; Levítico 27:17-24 e em Números 36:4).
O ano do
jubileu acontecia de 50 em 50 anos. E os principais objectivos desse ano
especial separado por Deus era que o povo vivesse um ano de libertação,
restauração, fé e consagração ao Senhor através de diversas práticas que
deveriam ser observadas nesse ano. Eram práticas que deveriam ocorrer na
sociedade e na vida de indivíduos.
Levítico 25:13 – As
pessoas deviam voltar as suas possessões iniciais: Deus
havia dado a terra prometida e repartido entre as tribos de Israel. Transacções
comerciais aconteciam e vendas de terras eram comuns, mas no ano do jubileu
tudo deveria voltar aos primeiros donos.
O jubileu é um
acto de gratidão para com Deus. O povo jubila porque Deus deu-lhe de volta as
suas possessões, caminhou com ele, lhe deu a vida, etc., do mesmo modo, o vosso
jubileu é o motivo de acção de graças por tudo quanto Deus fez na vossa vida,
ele caminhou convosco nas alegrias, nos momentos críticos, de crises, nos
sofrimentos até chegar a completar 25 anos, esta é uma graça. Isso significa
que Deus vos deu a graça de perseverar na vossa vocação até chegar neste dia.
“Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que ele me deu não tem sido
inútil. Ao contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles; não eu, mas a
graça de Deus que está comigo” (I Cor 15, 10).
Por tudo que ele
fez, vocês não têm nada para lhe dar, a única maneira de lhe agradecer é o
gesto de gratidão que estão a fazer agora. O Salmo 115, 12-19. “Mas que poderei
retribuir ao Senhor por tudo o que ele me tem dado ? cumprirei os meus votos
para com o Senhor, na presença de todo o seu povo…”
Salmos 106:
“louvai o Senhor, porque ele é bom, porque eterna á a sua misericórdia…”. Deus
não olhou na minhas fraquezas, na minha infidelidade, mas sim, aceitou-me com
os meus defeitos. Ele é misericordioso, devo lhe louvar.
Como Ele
aceitou-me, eu também não posso cansar em lhe agradecer. Efésios 5,20: “rende
graças, sem cessar e por todas as coisas, a Deus Pai, em nome de nosso
Senhor Jesus Cristo”.
1Tess 5, 18:
“em toda as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a
vontade de Deus em Jesus Cristo”.
Isaías 61, 10 “
com grande alegria eu me rejubilarei no Senhor e meu coração exultará de
alegria em meu Deus, porque me fez revestir as vestimentas da salvação. Envolveu-me com o manto de
justiça, como um neo-esposo cinge o turbante, como uma jovem esposa se enfeita
com suas jóias”.
A raiz que nos
dá força ou que vos impele a agradecer a Deus, é o conhecimento do amor de Deus
e a confiança nele. Viram que não mereceram nada, mas por amor, Deus deu-vos
tudo. Ele manifestou o seu Amor gratuito, imerecido e este amor constrói a
experiencia mais fundamental da vossa existência. Abandonar-se ao amor de Deus
é uma longa e completa tarefa que dura toda a vida. Mas na medida em que se vai
avançando nesta linha a vida começa a adquirir um sabor novo. E quando uma
pessoa experimenta de modo vital que tudo é dom e graça, será possível fazer da
própria vida um dom para os outros; uma entrega sem esperar nada em troca
16.
Eu devo
avançar confiando no Senhor
O que fazer
para ganhar a vida eterna ? (Mc 10, 17)
A pessoa que
colocou esta pergunta a Jesus, vivia uma experiência contraditória. Por um
lado, sentia-se perfeitamente correcta, uma pessoa que praticava a contento as
leis herdadas dos antepassados, no caminho seguro que conduziria à salvação, e
isso desde sempre; por outro, sentia
dentro de si um vazio, uma falta, uma insatisfação, algo que ardia dentro de
si.
A resposta de
Jesus dá um nome a este vazio e aponta um caminho que leva seguramente a uma
vida plena de sentido: despojar-se dos bens, partilhá-los com os pobres,
trilhar seu caminho pessoal de paixão por Deus e paixão pela humanidade. O
caminho que leva à vida eterna não está na segurança de um passado secamente
repetido, mas no avanço corajoso, no enfrentar e na superação das crises, seja
elas como o mar vermelho ou como a cruz do calvário.
Aquele homem,
preferiu voltar às suas miseráveis seguranças, mesmo sabendo que aquelas não
eram capazes de satisfazer seu desejo mais profundo. Os muitos bens e
seguranças, acrescidos pelo medo de avançar, impossibilitavam o brilho do olhar
dos sonhadores e encheram seu rosto de sombras.
A pessoa
achava se conhecer melhor mas foi o contrário, não se conhecia e por isso
quando Jesus lhe mostrou o caminho ele ficou desapontado. Como jubilares,
devemos nos conhecer e conhecer também as nossas ambições.
17.
Conhecer-te
a ti mesmo para avançar na travessia
Para fazer uma
travessia, a pessoa deve se conhecer, isto é, conhecer as suas habilidades,
aptidões, seus dons, capacidades (lidar com pessoas, de fazer…), suas
limitações, os defeitos, deve ter consciência de tudo isso. Portanto, nesta
travessia, a irmã jubilar deve ter consciência dos seus pontos fortes e fracos que
pode lhe ajudar a saber como lidar com
uma situação que se apresenta a sua frente.
Sabemos bem
que homem como tal conhece alguma coisa
sobre si, mas não se conhece nem a 50 %.
Mesmo se ficar muito tempo a treinar para se conhecer, não conseguirá ganhar
uma grande parte do seu conhecimento. Ninguém consegue visualizar todas as
dimensões da sua personalidade. Este é um processo contínuo, conhecemos uma
faixa da nossa personalidade, a pessoa deve usar o outro como espelho para
conhecer a outra faixa.
Isto quer dizer, a autoconhecimento implica a
auto-consciência, a irmã deve ser consciente do seu estado de espírito, ter a capacidade
de se conhecer, de lidar com as suas emoções,
aprender a geri-las e controlá-las. Deve saber como estas emoções lhe
afectam, como elas influencia todo o seu ser, comportamento, etc. portanto, a
irmã deve se aceitar para lidar com as suas emoções.
18.
Aceitar-te
a ti mesmo para avançar na travessia
A travessia
exige que a irmã tenha a capacidade de aceitar as suas qualidades,
defeitos, limites, perfeições e
imperfeições ou vaidades. Isso exija uma autenticidade sem fingimento, saber
descobrir e identificar as suas imperfeições, erro, etc.
Esta auto-aceitação
nos revela quem somos e nos ajuda a aceitarmos
tudo o que existe em nós, valorizando os nossos esforços, enfrentando os
fracassos e olhando para o que pode nos levar a aperfeiçoar o que não está bem
em nós. Portanto, a irmã deve ter a capacidade de aceitar os seus dois lados,
positivo e negativo. No entanto, aceitar o negativo não significa encorajar e
valorizar este lado. Aceitando o lado negativo ajuda a procurar outros meio
para corrigi-lo. Ajuda a pessoa a procurar meio a o aperfeiçoamento.
Uma maneira saudável
de encarar a vida ajuda-nos a ultrapassar as dificuldades, sem fugas ou falsas
desculpas, mas através de uma cooperação verdadeira com o nosso ser e o ser dos
outros.
Quem se aceita
como é, pode também aceitar os outros como eles são e não como gostaria que
fossem. Com isso a vida comunitária é facilitada, a gente pode assim viver em
harmonia.
19.
Estimar-te
a ti mesmo para avançar na travessia
Uma travessia
segura exige que a pessoa se valoriza a si própria, se aprecie a si própria.
Quando valoriza-se ou aprecia-se a si mesmo, pode também valorizar e apreciar
os outros. Assim viver bem na comunidade com as suas irmãs implica viver bem
consigo mesma. Se houver guerra, desconfiança, ou qualquer desordem em si,
mesmo na comunidade será a mesma coisa, iras criar guerra, etc. na comunidade.
Se você não sabe amar-se ou estimar-se, não pode também amar nem estimar as
outras. Enquanto como irmãs são obrigadas a viver com as outras e partilhar
experiência juntas onde há exigência de
se apreciar, ajudar, valorizar, amar, perdoar, etc.
A auto-estima
capacita a pessoa a desenvolver as suas habilidades, aumentar o nível de
autoconfiança. Ajuda a valorizar a nossa própria vida e situar-nos onde
estivermos.
20.
Conclusão
Irmãs, ao
termo do nosso retiro, passo a vos lembrar que, a celebração do jubileu não é o
ponto de chegada da vossa experiência
com Jesus, mas sim, o ponto de partida. O caminho é muito longo. São vocês que
irão abrir este caminho. Se não nivelar bem o caminho, terão dificuldades de
usar este mesmo caminho. Por isso peço-vos de afastar todos os obstáculos que
possam provocar o tropeço no vosso caminho que vocês irão abrir com muito sacrifício, para facilitar-vos a
vós e às outras que vierem depois de vós.
Parabéns !
Feliz ano Jubilar !
Cléophas
Mudita Ilunga, Ofm
2019
Agradecimentos
a Deus,
Obrigada Senhor, Obrigada meu Deus por tudo quanto és por
mim, obrigada por ter
feito a escolha da minha pessoa para viver o Teu projecto de amor como consagrada
franciscana hospitaleira;
Apesar das minhas fragilidades e infidelidades, estiveste
sempre comigo, de Coração cheio de amor, de misericórdia, de ternura para o
retorno ao aconchego do Primeiro Amor; Dou-te
graças pelas oportunidades que me deste ao longo dos 25 anos, de trabalhar com
o teu povo;
Dou-te graças pelas pessoas que foram colocadas ao longo do
meu caminho, e que me ajudaram a descobrir o teu rosto;
Peço a graça de continuar sendo uma pessoa simples, aberta e
acolhedora. Concede-me o dom
da escuta, o dom da fé e do perdão, no
novo espaço da minha missão;
Dou graças por aquilo que sou, por todas as graças recebidas
ao longo da caminhada;
Dou graças pelas teimosias, resistências, perseverança, confiança, medos, desafios, pelo SIM e o NÃO diários ao longo da minha travessia, que ajudaram a trilhar os caminhos do Projecto do Reino.
Dou graças pelas teimosias, resistências, perseverança, confiança, medos, desafios, pelo SIM e o NÃO diários ao longo da minha travessia, que ajudaram a trilhar os caminhos do Projecto do Reino.
Obrigada meu Senhor !
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