sexta-feira, 29 de maio de 2015

A interacção entre Família e Escola: uma interpelação

Introdução
No actual contexto da globalização, da crise dos valores, do relativismo e do descrédito para com as instituições escolares, a educação, ligada até agora à família, hoje é confiada praticamente em sua totalidade à escola. Agora, nossas escolas nem sempre são espaços duma educação integral. As famílias preocupam-se pouco, aliás dão pouco tempo  em acompanhar a vida educativa  dos filhos para se concentrarem noutras actividades com vista a sustentar a vida familiar. Isto verifica-se quando se trata do acompanhamento da vida escolar dos filhos.  Basta matricular os filhos na escola, as famílias acham que já terminou a sua missão ou responsabilidade. A escola também, basta acolher o educando, não se preocupa de associar a sua família a esta nobre missão educativa, a não ser a de convocar a família quando houver uma situação preocupante sobre o educando. Assim, viu-se que os dois agentes da educação trabalham de forma separada e com esforços espalhados. Não há continuidade na educação dos filhos nem colaboração ou interacção que pudesse levar a uma boa educação ou ao sucesso do ensino e aprendizagem. A falta da interacção entre família e escola tem repercussões nefastas sobre a educação dos educandos, isto é, prejudica a educação, o processo de ensino e aprendizagem, o desempenho escolar ou académico dos educandos e o próprio comportamento do educando.
O nosso objectivo é de compreender a interacção existente entre a família e a escola, identificar os tipos de interacção família-escola com as estratégias implementas pela escola para aproximar as famílias dos alunos a se envolverem na educação dos mesmos,  analisar as práticas do envolvimento da família e a forma como a escola está organizada para receber  e promover a participação da família,  reflectir sobre a importância da interacção entre família e escola e propor outras  estratégias para materializar e fortalecer esta interacção, pois supõe-se que a interacção família-escola pode ser um dos fatores que influencia no sucesso do processo de ensino e aprendizagem.
1.      A família
Etimologicamente, a palavra família tem múltiplas significações. Em história natural, significa grupos de gêneros da flora ou da fauna ligados entre si por caracteres comuns. No direito romano designava ora pessoa, ora coisas. As pessoas livres ou escravas, morando sob um mesmo tecto, constituíam a família do pater.
Nós recebemos a palavra família já definitivamente formada do latim, famulus, que significa conjunto de escravos e servidores que viviam sob o mesmo tecto, os domésticos; esta palavra famulus,  por sua vez, provem do sânscrito. A raiz fam é a mesma raiz dhã da língua ariana ou seja,  faama-dháman, (radical “dha”), que significa pôr, pousar, assentar, estabelecer, exprimindo, portanto a ideia de fixação e estabilidade. Esta ideia é a que ligamos a certos bens que por isto mesmo chamamos imóveis, sobressaindo dentre eles, o solo, a terra e a casa. Este termo foi criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e também a escravidão legalizada.
Com o tempo, a palavra família se especializa para exclusivamente referir-se às pessoas, e entre estas, as que se unem por um laço de parentesco. A ideia de família, portanto, remonta ao aparecimento do homem sobre a terra, constituindo-se, num facto natural, numa imposição da natureza.
Murdock apud Martinez (2007:122), considera fundamental o grupo composto por pai, mãe e filho (nuclear, ou como se fosse um átomo), e mais outros agrupamentos maiores, da mesma ídole (como se fossem moléculas) para falar da família.
Esta maneira de considerar a família coincide com a concepção romana clássico que fala da "família natural". Esta família é baseada no casamento e no vínculo de sangue. Portanto, a família natural é o agrupamento constituído apenas dos cônjuges e dos seus filhos e tem o casamento como base fundamental. 
A família antiga, cujo modelo encontramos no direito romano, se constituiu sob o princípio da autoridade, e tem o aspecto de uma organização política eminentemente aristocrática. Aí predominava uma estrutura familiar patriarcal onde um grupo de pessoas se encontrava sob a autoridade do mesmo chefe. Na Idade Média, as pessoas começaram a estar ligadas por vínculos matrimoniais, formando novas famílias. Dessas novas famílias fazia também parte a descendência gerada que, assim, tinha duas famílias, a paterna e a materna, ao passo que a família moderna se constitui sobre a base do amor, e se assemelha antes a uma democracia dominada pela ideia da solidariedade humana.
No sentido jurídico, a família, é constituída pelas pessoas que se encontram ligadas pelo casamento, pelo parentesco, pela afinidade e pela adopção ( Campos, 1997:27).
Em toda definção há sempre um elemento generalizador, e na palavra família este elemento se encontra na ideia de parentesco por filiação, na linhagem. Por isso, quando se pensa família, logo se pensa casamento. Mas família é constituída, por pessoas unidas por parentesco, e também, por afinidade ou adopção.
Família não é em si uma pessoa jurídica, como uma empresa, porque não é sequer portadora de interesses próprios. Quando a lei fala de bem de família está se referindo aos bens ou aos interesses de todos e de cada um dos seus membros. Nesse sentido, a família é um espaço particularmente propício à realização pessoal de certas pessoas, mas não uma entidade diferente delas.
O antropólogo Strauss apud Martinez (2007:122), aceitando a grande difusão deste conceito de família, critica a sua naturalidade e universalismo, e observa que
podem existir de facto, sociedades que conformam as próprias estruturas familiares de forma diferente. A família garante a protecção da actividade reprodutiva, a formação de um centro gerador de afectos e o espaço da autoridade. O núcleo que nos oferece a natureza, isto é, a mãe e os filhos, junto com a função de protegé-lo, recebe expressões concretas diversificadas, segundo cada uma das culturas e dos contextos históricos. Daí nasce os diversos tipos de família que encontramos nas diversas áreas culturais e através dos tempos.
Assim, a família pode ser definido como pessoas que vivem na mesma casa. Pessoas do mesmo sangue, que vivem ou não em comum. Descendência, linhagem (AAVV.1949:1168). Na mesma perspectiva, Pikunas apud Lima (2009:68), define a família como:
Grupo social duradouro com base no casamento e relacionamentos de sangue, exercendo influencias hereditárias e ambientais das principais dimensões sobre o recém-nascido. Via de regras, os pais e seus filhos dependentes constituem a família. Como grupo primário, a família com filhos é mantida em conjunto pelo parentesco e relações íntimas marcadas por carinho, afeição e apoio, bem como pela partilha mútua em várias atividades e interesses.
As definições acima citadas sublinham o aspecto da descendência e da união do sangue como elementos essenciais para conceitualizar a família. Mas, olhando para nossa realidade africana, esta definição parece muito restrita e limitada e para isso, precisa de ser definida numa outra vertente mais abrangente.
Marujo et al (1998:10) considera que a família deve ser compreendida numa acepção alargada porque, cada vez que refere a mães e pais estaremos não só a pensar em progenitores biológicos, mas também em pais e mães adoptivos, em padrastos e madrastas, em avós e avôs, em encarregados de educação, em educadores em geral.
Apoiando a ideia, Bock (2004:249) acrescenta que, culturalmente, a família é um grupo tão importante que, na sua ausência,  a criança ou o adolescente precisa de uma família substituta ou devem ser abrigados em uma instituição que cumpra suas funções materna e paterna, isto é, as funções de cuidados para a posterior participação na coletividade.
O conceito de família, tal como definido pelos autores supracitados, apresenta uma certa semelhança e divergência. Converge no facto de considerar a família como lugar de socialização ou educação dos filhos e diverge quanto a sua abrangência, dado que alguns autores consideram a família no seu aspecto restrito, isto é, considerando o aspecto hereditário, biológico ou da união de sangue. E outros, consideram a família como sendo mais abrangente, isto é, não considerando apenas o seu aspecto biológico.
Na concepção africana, não existe uma família isolada a si só. Tadas as famílias são dependentes umas as outras. Alfane (1996:17), mostra que a família é o primeiro grupo que o indivíduo conhece logo que nasce, no qual começa a integrar-se na vida comunitária.  Segundo a tradição, a família pequena constituída por mãe, pai e filhos, não forma um grupo independente; esta fica dependende do sistema familiar da família alargada.
Portanto, a família é uma realidade muito complexa. Limitar-se ao aspecto biológico seria diminuir a sua abrangência. Considera-se família o ambiente que cuida dos filhos assim como todos os membros que vivem no mesmo seio, unidos ou não por laços de afinidade ou de sangue. Em outras palavras, a família define-se fundamentalmente pela relação interpesoal, ela é constituida por um conjunto de relações interpessoais – relação conjugal, paternidade-maternidade, filiação, franternidade - pelas quais toda a pessoa humana fica inserida na família humana. As relações interpessoais na família fazem dela uma comunidade de pessoas. Considera-se família, todos aqueles que se encarregam da educação dos filhos e acompanham o processo educativo dos mesmos; podem ser pais biológicos ou não, padrastos, tias, encarregados da educação, avós, e os próprios filhos, etc.
2.      A função social da família
Deste sempre, a familia tinha uma grande responsabilidade na educação dos filhos.  Na sociedade tradicional por exemplo, em cada momento específico encontram-se  pessoas, familiares, com mais ou menos responsabilidades na educação dos mais novos , dependendo, principalmente, da relação familiar, do momento ou idade, e da posição entre aquele que ensinava e aquele que aprendia.
Em princípio, todos os membros adultos da família ou linhagem, principalmente, os iniciados (os que passaram pelos ritos de iniciação), conhecem as regras de conduta social do seu grupo, e estes são responsáveis por ensinar aos mais novos como se deve comportar na comunidade, de acordo com estas regras
Os pais são os principais educadores dos filhos, e a sua acção é maior quando os filhos são ainda mais novos, porque estes passam toda a primeira infância na dependência da casa, sobretudo da mãe.
A criança começa a aprender com a mãe as noções básicas sobre a conduta social. Isto é válido tanto para as comunidades matrilineares, como para as patrilineares. A mãe ensina aos filhos mais novos a falar e tratar as pessoas de forma respeitosa, ensina também a fazer pequenas actividades caseiras. Assim ao longo do tempo a criança vai memorizando e seguindo o que a mãe lhe ensina, acumulando desde modo, os conhecimentos básicos de que ela necessita para completar o seu processo de educação familiar (Alfane, 1996: 18).
Nos primeiros anos de vida, todos os cuidados e estímulos necessários ao crescimento e desenvolvimento da criança são fornecidos pela família. Isto significa que a família está no centro da vida e da educação da criança dado o seu dever pelos cuidados físicos, pelo desenvolvimento psicológico, emocional, moral e cultural da criança na sociedade desde o seu nascimento. Ela  desempenha o papel de mediadora entre a criança e a sociedade, possibilitando a sua socialização e integração. Isto é, o ambiente familiar é a formação de base da personalidade, é onde que a criança cresce, actua, desenvolve e expõe seus sentimentos. Qualquer que seja a sua estrutura, a família mantém-se como o meio relacional básico para as relações da criança com o mundo. Do mesmo modo que a família é responsável directo da educação da criança em casa, é também responsável quando a criança se encontra na instituição escolar. Em outras palavras, a família deve se envolver na educação escolar da criança do mesmo modo que se envolve fora dela. A educação dos filhos é uma responsabilidade incumbida tanto aos pais quanto aos  educadores na escola.
Portanto, a família funciona como o primeiro e mais importante agente socializador, sendo assim, é o primeiro contexto no qual se desenvolve padrões de socialização em que a criança constrói o seu modelo de aprendiz e relaciona com todo o conhecimento adquirido durante sua experiência de vida e que vai se reflectir na sua vida futura.
3.      A escola
O vocábulo escola vem do grego schola que significa ócio dedicado ao estudo, ocupação literária ou lição. No sentido concreto, a mesma palavra schola ou  ludus em latim, significa lugar onde se ensina. Portanto, escola é a instituição onde recebe-se ensinamento.
A escola tal como se  apresenta hoje é o resultado de uma longa história. O seu surgimento apresenta muitos elementos a considerar para a compreensão do nosso tema e da sua importância na nossa sociedade.
A escola como instituição para educação apareceu de forma progressiva. Com o aparecimento  da linguagem escrita como forma de comunicação sem fronteira, aprender a ler e escrever necessitou da presença dum mestre para a transmissão dessa linguagem e preparação dos jovens para desempenhar certas responsabilidades nos trabalhos. Deste modo,  a escola foi o  resultado da divisão social do trabalho dado que necessitava formar especialistas e desenvolver novas competências sociais básicas que a família não podia assegurar por si própria. É desta maneira que as escolas, no princípio, educavam unicamente as minorias que recebiam e precisavam de uma educação especializada. Os outros,  a massa do povo, não necessitava dessa preparação especial. A escola apareceu para satisfazer as demandas da sociedade e para transmissão da cultura de maneira formal.
Durante longos milénios , a educação que, como processo de interacção social e socialização, sempre existiu. Realizou-se quase sempre fora da escola. A família, a tribo ou o clã, as Igrejas, a profissão e o meio social em geral assumiram a função de educar os jovens para a vida social. Todavia, desde muito cedo na história também se encontram escolas destinadas a preparar os jovens para objectivos especificos. Com a expansão do cristianismo pela Europa, surgiram escolas à volta das catedrais e dos conventos. Os letrados aí formados vieram a ter um papel crescente na adminstração da Igreja e do estado. A revolução francesa, onde se sentiu fortemente a influência do iluminismo, veio dar um novo impulso à educação escolar. a partir daí e das revoluções liberais que nos diversos paises europeus foram derrubando os antigos regimes, foi-se desenvolvendo a ideia de que à educação competia um papel fundamental no progresso e na harmonia social: em vez de ser um privilegio concedido a alguns deveria ser um direito aberto a todos. A criação de uma rede de escolas públicas teve sobretudo um impacto imediato no ensino primário e secundário. Na passagem do seculo XIX para o seculo XX a educação escolar recebe um novo impulso. Da afirmação inicial do direito universal à educação escolar, passou-se progressivamente à obrigaroriedade da escolarização, ou seja, à escola compulsiva ( Pires, 2001:passim).
Até  século XX, só nos países mais desenvolvidaos do mundo foram abertas as portas para todo o tipo de criança, embora já nos finais do século XIX, por exemplo, quase todo o grupo etário correspondente ao ensino primário estivisse escolarizado nos países europeus mais desenvolvidos.  Na Idade Média, as escolas foram propriedades da Igreja católica. Esta, organizou nos conventos, monsteiros e catedrais a escola. Através desses, contribuiu bastante para que a instituição escolar seja um lugar para uma educação estruturada e transmissora dos valores. A notar que a educação  escolar só recentemente atingiu a dimensão universal que hoje lhe é reconhecida.
Mizukami apud Silva (1995:85), mostra que a escola é por excelência o local da preservação cultural, onde se processa o acesso às grandes produções culturais da humanidade e os valores essenciais.
Como instituição básica e transmissora da cultura e  socializadora dos indivíduos, a escola desempenha um papel importante na sociedade. Desta forma, ele não é só um lugar de aprendizagem, mas também um campo de acção no qual há continuidade de vida afectiva que existe no ambiente familiar.
Pimenta at al (1999:89) considera a escola como sendo uma instituição social básica, um conjunto de relações, processos e recursos para satisfazer interesses e necessidades comuns. A escola como instituição, responde à necessidade social de transmitir cultura, socializar o indivíduo e prepará-lo para desempenhar um papel na sociedade.
Na mesma perspectiva Martins (199:113)  mostra que a escola é a instituição por meio da qual é transmitida a herança social e, ao mesmo tempo, é responsável pelo desenvolvimento de novos conhecimentos.
Assim, a escola, por meio da transmissão de conteúdos incute uma nova cultura aos alunos e ajuda-os a apropriar-se de todo o conhecimento que adquirem e relaciona-o com a nova realidade. O conhecimento ou a educação adquirido na escola não é só para satisfazer as necessidade da sociedade, mas sim, e sobretudo para fazer do indivíduo um homem.
Portanto, como instituição educativa, a escola é um ambiente educativo ao serviço da sociedade. A sua presença assegura a continuidade da educação dos filhos. Por esta razão, há mesmo necessidade de a escola estar em perfeita sintonia com a família. Ela, é uma instituição que complementa a família e juntas tornam-se lugares agradáveis para a convivência de todos. O seu papel é de grande importância dado que a família deposita nela uma confiança para perpetuar a cultura e a socialização dos filhos com uma nova cultura afim de satisfazer as preocupações da sociedade.
4.      A função social da escola
A sociedade através dos seus agentes socializadoras, como a família, a escola, a Igreja e outros, transmite a cultura dependendo do tipo de cidadão que cada sociedade pretende ter. Na sociedade tradicional por exemplo, a transmissão cultural se faz pela simples convivência entre as gerações. Os conhecimentos que devem ser transmitidos referem-se a uma uma sociedade bem determinada e também para qualquer pessoa. Num outro campo de conhecimento, o que se dá para uma determinada socidade tem certos limites e não se adapta em totalidade com a nova  realidade. Assim, a transmissão cultural adaptada a nossa realidade e a qualquer sociedade só se torna possível por meio de instituições organizadas e estruturadas, chamada  “escola”. 
Na óptica de  Pires (2001:94), a função essencial da escola é de desenvolver as competências, o carácter e a personalidade de cada um, ajudar a descobrir e a desenvolver os talentos, permitir a cada um atingir o seu máximo potencial de realização pessoal, levar a melhor a qualidade das suas próprias vidas, por um lado, e integrar o indivíduo na sociedade, prepará-lo para a vida activa, dando-lhe sentido de realizaçaão pessoal e tornando-o ao mesmo tempo socialmente útil, por outro lado, corresponde um tanto ao ideal que se espera que a escola realize.
A escola é um grupo social em que o professor realiza um trabalho de superação das diversidades, reduzindo-as à unidade. Por meio do professor, o aluno tem acesso à cultura formal, o que faz da escola um grupo intermediário entre grupos primários, como a família, e os grupos secundarios. Na escola desenvolve-se um processo socializante que objetiva integrar o educando na comunidade, recapitulando os resultados da experiência social. Transmitindo-lhe os padrões do grupo social e cultural a que pertence. Além disso, a escola é um instrumento consciente de aperfeiçoamento social (Martins,1999:49).
A escola é uma instituição fundamental para a constituição do indivíduo, para a evolução da sociedade e da própria humanidade. Ela tem objetivos e metas a alcançar no seu processo de socialização embora as suas funções tenham mudadas de acordo com as necessidades da sociedade.
Pimenta at al (199:93) mostram que fazem parte das funções da escola, proporcionar conhecimentos e desenvolver capacidades que permitam aos individuos adquirir as competências básicas necessárias à sua vida de adultos e à sua integração numa sociedade em mudança;  transmitir a cultura , modelos de comportalmento e normas sociais de convivência à novas gerações para que estas as integrem e se integrem na sociedade. Neste contexto, a prática educativa, na sua acepção mais ampla e através das suas mais diversas manifestações, é um instrumento privilegiado de socialização. Com efeito, a escola de certo modo antecipa à criança a maneira como ela será ou deverá ser tratada na sociedade e , portanto, será seu objectivo fazer com que a criança aceite as regras do jogo social, se envolva nele e aceite os seus efeitos;  preparar o indivíduo para que seja um cidadão independente, crítico, criativo, responsável e participativo, disposto a exercer os seus direitos e deveres como membro de uma sociedade democrática e pluralista e capaz de assumir atitudes favorável à educação permanente e à formação contínua; conferir estatuto social através de um processo de diferenciação, selecção e hierarquização, constuído com base numa avaliação das capacidades expressas e das competências adquiridas e desenvolvidas pelo aluno e objectivada numa certificação escolar, isto é, na atribuição de um diploma.
A escola, com efeito, é uma instituição que determina os valores e padrões de uma sociedade, isto é, procura desenvolver hábitos de pensamento e de acção necessários e aceites pela sociedade, incutir nos educandos o senso da solidariedade social, do desenvolvimento do senso social e do modo de viver conforma as exigência da sociedade.
A escola, entretanto, não é responsável apenas pela transmissão cultural, pois tem a função de promover o desenvolvimento global da personalidade do educando, moldando sua motivação e capacitando-o a um bom desempenho social (Martins,199:113).
Portanto, embora a família seja a primeira responsável e educadora das crianças, a escola através dos  professores é uma instituição potente para o vehículo da cultura da sociedade. Deste modo, as duas instituições, escola e família, são parceiras inseparáveis para o “transporte” da cultura. Portanto, as duas parceiras devem unir esforços, partilhar objetivos e reconhecer a existência de um mesmo bem comum para os alunos. O divorcio entre as duas parceiras pode criar um obstáculo que possa dificultar a união de esforços e a partilha de objetivos com risco de criar  graves prejuízos para os alunos.
5.      A interacção entre família e escola
A interacção entre família e escola é um tema de interesse social e de actualidade. Pretende-se neste ponto compreender o tipo de interacção entre estes dois agentes. Visto a sua importância,  propõe-se fazer uma reflexão que desperte a atenção dos agentes da educação para assim garantir o sucesso do processo educativo.
Muitos autores falam e sublinham a importância desta interacção, infelizmente, nem sempre isso aconteça como se deveria.
a relação da família com a escola é de mera importância para que o processo de ensino e aprendizagem aconteça de forma natural e satisfatória.  Entretanto, essa relação nem sempre acontece como deveria, acarretando consequências desastrosas a aprendizagem e ao comportamento dos alunos. Pois é dever da escola promover a interacção no tempo e no espaço com a família (Nérici, 1989:273).
Na mesma linha,   Arnaldo (1969: 115)  mostra que, é de maior importância a participação dos pais na comunidade e organização escolar, a fim de que a complexa tarefa de educar se faça homogeneamente, através do esforço integrado da família  e da escola.
Lima (2002: 288), ele, defende a importância  de uma verdadeira colaboração entre os dois agentes da educação mostrando que o envolvimento parental conduz a uma maior motivação, a mais aproveitamento escolar e a um melhor comportamento disciplinar. E acrescenta mostrando que, nos pais, verifica-se uma melhoria da sua auto-estima e o acesso a informação que lhes é útil para orientar os filhos; nos professores, o envolvimento parental pode tornar o seu trabalho mais facilitado e bem sucedido, além de mais bem visto, porque compreendido pelos pais.
Na mesma perspectiva, Paiva (2012: 205) defende que a presença da família na vida escolar dos filhos aumenta a motivação e a responsabilidade destes. O aluno que sinta esta boa comunicação e relação escola/família será um aluno mais dedicado, mais corresponsabilizado pelos seus actos e responsabilidades. 
Na sua tese, Picanço (2012: 14) faz-nos ver que a relação família-escola deve ser uma aliança fundamental, e que a necessidade de se construir uma relação entre escola e família, deve ser para planear, estabelecer compromissos e acordos mínimos para que o educando/filho tenha uma educação com qualidade tanto em casa como na escola.
A questão de interacção entre família e escola é uma preocupação para todos dado que ambas as partes desejam uma boa educação e um bom aproveitamento escolar dos educandos.  Por esta razão, viu-se a necessidade de favorecer  esta relação e criar um laço de colaboração e cooperação entre elas.
Na óptica de Delors at al (1998:111), a relação da família com a escola é indispensável porque o desenvolvimento harmonioso das crianças implica uma complementaridade entre a educação escolar e familiar. Considera-se que bons contactos entre família e escola revestem todo interesse para a educação da criança. Estas passagens sugerem que haja colaboração entre as duas instituições, para responder às exigências educativas.
De acordo com Tavares e Alarcão (2005:147), a interacção entre todos os agentes educativos origina uma complexa rede de relações que vão influenciar o relacionamento entre o educador e o educando a que se chama, embora numa acepção mais ampla, relação educativa.
Na nossa opinião, a interacção entre família e escola influencia muito  na relação entre professor e aluno. Por um lado, o professor compreende o aluno dado que tem um conhecimento amplo da vida do educando, e por outro lado, o aluno confia no professor porque sabe que este comunica sempre com os encarregados e conhece tudo sobre mim. Pode-se, então, considerar que o contacto frequente entre duas instituições tem impacto positivo na vida do educando. Deste modo, dá para confirmar a tese de Henderson apud Marques (1997:9), que diz, a colaboração das famílias correlaciona-se com os resultados escolares dos alunos.
Numa outra vertente se pode confirmar que os resultados escolares provêm do esforço do trabalho da escola em colaboração com a família.  É nesta perspectiva que Anacleto (2010:20) considera que o sucesso do aluno não depende apenas da escola ou apenas da família, mas sim, do inter-relacionamento das partes, uma vez que a estreita relação com as famílias contribui, e muito, no processo de ensino e aprendizagem das crianças.
Na mesma perspectiva, Bartholo apud Lima (2009:9), acrescenta que a parceria família-escola é fundamental para que ocorram os processos de aprendizagem e crescimento de todos os membros deste sistema, uma vez que a aprendizagem não está circunscrita à conteúdos escolares.
Tudo o que se disse, no entanto, indica que é necessário que as famílias criem o hábito de participar na vida escolar dos educandos, e que percebam que é importante relacionar-se com a escola na busca de um objetivo em comum, ‘a educação dos filhos e o bom aproveitamento para todos’. Por outro lado, a escola deve favorecer o clima de aproximação  das famílias mostrando-as que educar não é papel exclusivo da escola, mas sim, de todos. A interacção entre família e escola, é deste modo, incontornável para o sucesso educativo. As duas instituições devem colaborar, cooperar e trabalhar em parceria para maximizar os resultados educativos.
Como se vê, os autores acima citados e muitos outros autores defendem a possibilidade de a escola e família trabalharem de mãos dadas pelo bem dos filhos. Portanto, é nesta linha que será abordado o nosso trabalho. Mas de forma particular, o trabalho vai se limitar  ao aspecto da interacção entre família e escola em relação com o sucesso do processo de ensino e aprendizagem.
Falando desta interacção, considera-se que cada agente da educação tem as suas responsabilidades ou papéis. Trabalhando juntos, estes papéis não se repulsam mas sim, complementam-se. O desafio é fazer com que essa assimetria produza complementaridade, e não exclusão ou superposição (Marilza, 2010). Esta interacção, portanto, baseia-se na ideia de reciprocidade e de influência mútua entre as duas instituições, considerando as especificidades e mesmo  as assimetrias existentes nessa interacção.
A escola como a família deveriam ter uma outra visão sobre a continuidade da educação. A ignorância prejudica o processo de ensino e aprendizagem. É neste âmbito que o trabalho irá propor estratégias que incentivem a escola e a família a promoverem uma interacção entre elas. Portanto, vai ser identificado os motivos que dificultam esta interacção  para assim propor estratégias que a favoreça. A interacção entre família e escola não pode se limitar unicamente aos aspectos acima referidos, mas sim, em todos os aspectos que têm que ver com a educação, entre os quais,  
A participação na selecção de materiais curriculares; apresentação de propostas de temas a explorar       (em conjunto, por alunos, pais e professores) nas áreas disciplinares, transdisciplinares e de complemento curricular; Participação na definição dos critérios que permitem determinar aquilo em que consiste um desempenho de sucesso, em áreas do currículo cuja concepção e planificação tenha contado com a sua intervenção (LIMA, 2002: 150).
Proceder desta forma poder-se-á confrontar a realidade da escola com as expectativas da família. Com isso, pode-se chegar a descobrir as falhas que necessitarão propostas ou outras alternativas perante as quais os problemas relacionados ao cotidiano escolar  resolvem-se, pois, é este tipo de interacção realizada na escola que irá dar possibilidade à família questionar sobre as realizações educacionais de  forma a melhorar tanto a sua estrutura, como a sua função social de educar. Este é um aspecto muito importante que o trabalho irá desenvolver. Assim, os encarregados de educação, pelo conhecimento particular que têm dos seus educandos, são um dos elementos fundamentais, mas nem sempre valorizados no desenvolvimento do currículo. Eles  podem também participar na vida escolar de seguinte modo:
Proporcionar informação sobre as necessidades especiais dos alunos; informar acerca das circunstâncias familiares; transmitir informação sobre o comportamento do aluno fora da escola e sobre a atitude que este tem para com a escola e para com os professores; informar o professor sobre qualquer interesse ou talento especial do aluno; dar a conhecer as suas ideias sobre a educação do aluno e a sua relação com planos futuros de aprendizagem; contribuir para assegurar a harmonia entre o ambiente natural da família e o ambiente da escola; participar activamente na aprendizagem do aluno; organizar visitas familiares de estudo com um interesse curricular; colocar os seus conhecimentos e habilidades especiais à disposição da escola. (BRENNAM apud PACHECO, 2002: 98).
A presença das famílias ou encarregados da educação na planificação de actividades ou na tomada de certas decisões, obriga a escola  e família a levar a sério a formação dos educandos. Deste modo, Ao invés de a escola chamar ou convocar a família apenas quando as coisas não andam bem, quando as notas estão baixas, ou quando se precisa de uma ajuda pontual, ela deve ser vista como elemento participativo ou como um co-autor do processo educativo escolar e, consequentemente, envolver-se mais directamente na concretização do mesmo.
6.      O impacto da interacção família-escola no processo de ensino e aprendizagem
A interacção entre família e escola tem uma influencia maior sobre a aprendizagem dos alunos dado que estes serão muito empenhados nos trabalhos por saber que a família acompanha os seus estudos.
A pesquisa de Lima (2002:288) mostra que:
Nos alunos, o envolvimento parental conduz a uma maior motivação, a mais aproveitamento escolar e a um melhor comportamento disciplinar. Nos pais, verifica-se uma melhoria da sua auto-estima e o acesso a informação que lhes é útil para orientar os filhos; nos professores, o envolvimento parental pode tornar o seu trabalho mais facilitado e bem sucedido, além de mais bem visto, porque compreendido pelos pais.
Apoiando a ideia, Ebersole apud Lemmer (2006:141) acrescenta que diante da colaboração das famílias no processo educativo dos seus filhos, nota-se que os alunos aprendem mais, os professores sentem-se mais realizados e os pais sentem-se melhor com os seus filhos e consigo mesmo.
O que surge no pensamento destes autores é que a interacção entre família e escola aproveita a todos. Cada um ao seu nível e também aproveita a todos. 
Assim, Epstein apud Marques (1997:10) destaca que, sobre a colaboração das famílias, para além de contribuir para o sucesso escolar dos seus educandos, facilita também os papéis do professor, onde os pais e /ou encarregados de educação podem participar como auxiliares e desenvolver trabalhos escolares voluntários.
De facto, a interacção da família e escola, facilita os papéis tanto dos professores como dos encarregados. E neste caso, é o educando que  beneficia.  Jane e Marilza (2010) mostra que, quando ocorre bem e é bem conduzido o processo de aproximação entre escola e família, as crianças tornam-se mais participativas em salas de aula, animadas com os estudos e alegres com a escola.
Importa aqui realçar que, uma boa interacção entre família e escola culmina sempre ao sucesso escolar, embora um caso particular possa dizer o contrário. O bom êxito ou sucesso escolar está profundamente relacionado com a participação positiva dos pais na educação dos filhos. No entanto, esta interacção não se limita a acompanhar a criança na escola ou participar na reunião da abertura ou de encerramento escolar, como temos visto nas escolas do nosso país. Uma verdadeira interacção é, a troca de impressões, de experiências e a preparação em conjunto das actividades educativas. Chegando a trabalhar em conjunto, a família como a escola irá recuperar a sua imagem antiga que ela tinha a respeito do valor da educação familiar e escolar. Deste modo será uma nova elã da vida escolar onde todos colaboram para o bem de todos.
Considerações finais
A interacção entre a família e escola é um elemento muito importante na educação dos filhos. Os pais não podem ficar indiferentes na educação dos seus filhos, e também a escola não pode se considerar dono da educação sem considerar a família. Entre os dois agentes da educação deve haver uma aliança que permite que trabalhem em colaboração para maximizar o trabalho educativo.

Bibliografia

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