Introdução
No
actual contexto da globalização, da crise dos valores, do relativismo e do
descrédito para com as instituições escolares, a educação, ligada até agora à
família, hoje é confiada praticamente em sua totalidade à escola. Agora, nossas
escolas nem sempre são espaços duma educação integral. As famílias preocupam-se
pouco, aliás dão pouco tempo em
acompanhar a vida educativa dos filhos
para se concentrarem noutras actividades com vista a sustentar a vida familiar.
Isto verifica-se quando se trata do acompanhamento da vida escolar dos
filhos. Basta matricular os filhos na
escola, as famílias acham que já terminou a sua missão ou responsabilidade. A
escola também, basta acolher o educando, não se preocupa de associar a sua
família a esta nobre missão educativa, a não ser a de convocar a família quando
houver uma situação preocupante sobre o educando. Assim, viu-se que os dois
agentes da educação trabalham de forma separada e com esforços espalhados. Não
há continuidade na educação dos filhos nem colaboração ou interacção que
pudesse levar a uma boa educação ou ao sucesso do ensino e aprendizagem. A
falta da interacção entre família e escola tem repercussões nefastas sobre a
educação dos educandos, isto é, prejudica a educação, o processo de ensino e
aprendizagem, o desempenho escolar ou académico dos educandos e o próprio
comportamento do educando.
O
nosso objectivo é de compreender a interacção existente entre a família e a
escola, identificar os tipos de interacção família-escola com as estratégias
implementas pela escola para aproximar as famílias dos alunos a se envolverem
na educação dos mesmos, analisar as
práticas do envolvimento da família e a forma como a escola está organizada
para receber e promover a participação
da família, reflectir sobre a
importância da interacção entre família e escola e propor outras estratégias para materializar e fortalecer esta
interacção, pois supõe-se que a interacção família-escola pode ser um dos
fatores que influencia no sucesso do processo de ensino e aprendizagem.
1. A família
Etimologicamente,
a palavra família tem múltiplas significações. Em história natural, significa
grupos de gêneros da flora ou da fauna ligados entre si por caracteres comuns.
No direito romano designava ora pessoa, ora coisas. As pessoas livres ou
escravas, morando sob um mesmo tecto, constituíam a família do pater.
Nós
recebemos a palavra família já definitivamente formada do latim, famulus, que significa conjunto de
escravos e servidores que viviam sob o mesmo tecto, os domésticos; esta palavra
famulus, por sua vez, provem do sânscrito. A raiz fam é a mesma raiz dhã da língua ariana ou seja, faama-dháman,
(radical “dha”), que significa pôr,
pousar, assentar, estabelecer, exprimindo, portanto a ideia de fixação e
estabilidade. Esta ideia é a que ligamos a certos bens que por isto mesmo
chamamos imóveis, sobressaindo dentre eles, o solo, a terra e a casa. Este
termo foi criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu
entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e também a escravidão
legalizada.
Com
o tempo, a palavra família se especializa para exclusivamente referir-se às
pessoas, e entre estas, as que se unem por um laço de parentesco. A ideia de
família, portanto, remonta ao aparecimento do homem sobre a terra,
constituindo-se, num facto natural, numa imposição da natureza.
Murdock
apud Martinez (2007:122), considera fundamental o grupo composto por pai, mãe e
filho (nuclear, ou como se fosse um átomo), e mais outros agrupamentos maiores,
da mesma ídole (como se fossem moléculas) para falar da família.
Esta
maneira de considerar a família coincide com a concepção romana clássico que
fala da "família natural". Esta família é baseada no casamento e no
vínculo de sangue. Portanto, a família natural é o agrupamento constituído
apenas dos cônjuges e dos seus filhos e tem o casamento como base
fundamental.
A
família antiga, cujo modelo encontramos no direito romano, se constituiu sob o
princípio da autoridade, e tem o aspecto de uma organização política
eminentemente aristocrática. Aí predominava uma estrutura familiar patriarcal
onde um grupo de pessoas se encontrava sob a autoridade do mesmo chefe. Na
Idade Média, as pessoas começaram a estar ligadas por vínculos matrimoniais,
formando novas famílias. Dessas novas famílias fazia também parte a
descendência gerada que, assim, tinha duas famílias, a paterna e a materna, ao
passo que a família moderna se constitui sobre a base do amor, e se assemelha
antes a uma democracia dominada pela ideia da solidariedade humana.
No
sentido jurídico, a família, é constituída pelas pessoas que se encontram
ligadas pelo casamento, pelo parentesco, pela afinidade e pela adopção (
Campos, 1997:27).
Em
toda definção há sempre um elemento generalizador, e na palavra família este
elemento se encontra na ideia de parentesco por filiação, na linhagem. Por
isso, quando se pensa família, logo se pensa casamento. Mas família é
constituída, por pessoas unidas por parentesco, e também, por afinidade ou
adopção.
Família
não é em si uma pessoa jurídica, como uma empresa, porque não é sequer
portadora de interesses próprios. Quando a lei fala de bem de família está se
referindo aos bens ou aos interesses de todos e de cada um dos seus membros.
Nesse sentido, a família é um espaço particularmente propício à realização
pessoal de certas pessoas, mas não uma entidade diferente delas.
O
antropólogo Strauss apud Martinez (2007:122), aceitando a grande difusão deste
conceito de família, critica a sua naturalidade e universalismo, e observa que
podem
existir de facto, sociedades que conformam as próprias estruturas familiares de
forma diferente. A família garante a protecção da actividade reprodutiva, a
formação de um centro gerador de afectos e o espaço da autoridade. O núcleo que
nos oferece a natureza, isto é, a mãe e os filhos, junto com a função de
protegé-lo, recebe expressões concretas diversificadas, segundo cada uma das
culturas e dos contextos históricos. Daí nasce os diversos tipos de família que
encontramos nas diversas áreas culturais e através dos tempos.
Assim,
a família pode ser definido como pessoas que vivem na mesma casa. Pessoas do
mesmo sangue, que vivem ou não em comum. Descendência, linhagem
(AAVV.1949:1168). Na mesma perspectiva, Pikunas apud Lima (2009:68), define a
família como:
Grupo social duradouro com base no casamento e
relacionamentos de sangue, exercendo influencias hereditárias e ambientais das
principais dimensões sobre o recém-nascido. Via de regras, os pais e seus
filhos dependentes constituem a família. Como grupo primário, a família com
filhos é mantida em conjunto pelo parentesco e relações íntimas marcadas por
carinho, afeição e apoio, bem como pela partilha mútua em várias atividades e
interesses.
As
definições acima citadas sublinham o aspecto da descendência e da união do
sangue como elementos essenciais para conceitualizar a família. Mas, olhando
para nossa realidade africana, esta definição parece muito restrita e limitada
e para isso, precisa de ser definida numa outra vertente mais abrangente.
Marujo
et al (1998:10) considera que a família deve ser compreendida numa acepção
alargada porque, cada vez que refere a mães e pais estaremos não só a pensar em
progenitores biológicos, mas também em pais e mães adoptivos, em padrastos e
madrastas, em avós e avôs, em encarregados de educação, em educadores em geral.
Apoiando a
ideia, Bock (2004:249) acrescenta que, culturalmente,
a família é um grupo tão importante que, na sua ausência, a criança ou o adolescente precisa de uma
família substituta ou devem ser abrigados em uma instituição que cumpra suas
funções materna e paterna, isto é, as funções de cuidados para a posterior
participação na coletividade.
O conceito de família, tal como
definido pelos autores supracitados, apresenta uma certa semelhança e divergência.
Converge no facto de considerar a família como lugar de socialização ou
educação dos filhos e diverge quanto a sua abrangência, dado que alguns autores
consideram a família no seu aspecto restrito, isto é, considerando o aspecto
hereditário, biológico ou da união de sangue. E outros, consideram a família
como sendo mais abrangente, isto é, não considerando apenas o seu aspecto
biológico.
Na concepção africana, não existe
uma família isolada a si só. Tadas as famílias são dependentes umas as outras. Alfane
(1996:17), mostra que a família é o primeiro grupo que o indivíduo conhece logo
que nasce, no qual começa a integrar-se na vida comunitária. Segundo a tradição, a família pequena
constituída por mãe, pai e filhos, não forma um grupo independente; esta fica
dependende do sistema familiar da família alargada.
Portanto, a família é uma realidade
muito complexa. Limitar-se ao aspecto biológico seria diminuir a sua
abrangência. Considera-se família o ambiente que cuida dos filhos assim como
todos os membros que vivem no mesmo seio, unidos ou não por laços de afinidade
ou de sangue. Em outras palavras, a família define-se fundamentalmente pela
relação interpesoal, ela é constituida por um conjunto de relações
interpessoais – relação conjugal, paternidade-maternidade, filiação,
franternidade - pelas quais toda a pessoa humana fica inserida na família
humana. As relações interpessoais na família fazem dela uma comunidade de
pessoas. Considera-se família, todos aqueles que se encarregam da educação dos
filhos e acompanham o processo educativo dos mesmos; podem ser pais biológicos
ou não, padrastos, tias, encarregados da educação, avós, e os próprios filhos,
etc.
2. A função social da família
Deste sempre, a
familia tinha uma grande responsabilidade na educação dos filhos. Na sociedade tradicional por exemplo, em cada
momento específico encontram-se pessoas,
familiares, com mais ou menos responsabilidades na educação dos mais novos , dependendo,
principalmente, da relação familiar, do momento ou idade, e da posição entre
aquele que ensinava e aquele que aprendia.
Em princípio,
todos os membros adultos da família ou linhagem, principalmente, os iniciados
(os que passaram pelos ritos de iniciação), conhecem as regras de conduta
social do seu grupo, e estes são responsáveis por ensinar aos mais novos como
se deve comportar na comunidade, de acordo com estas regras
Os pais são os
principais educadores dos filhos, e a sua acção é maior quando os filhos são
ainda mais novos, porque estes passam toda a primeira infância na dependência
da casa, sobretudo da mãe.
A
criança começa a aprender com a mãe as noções básicas sobre a conduta social.
Isto é válido tanto para as comunidades matrilineares, como para as
patrilineares. A mãe ensina aos filhos mais novos a falar e tratar as pessoas
de forma respeitosa, ensina também a fazer pequenas actividades caseiras. Assim
ao longo do tempo a criança vai memorizando e seguindo o que a mãe lhe ensina,
acumulando desde modo, os conhecimentos básicos de que ela necessita para
completar o seu processo de educação familiar (Alfane, 1996: 18).
Nos primeiros
anos de vida, todos os cuidados e estímulos necessários ao crescimento e
desenvolvimento da criança são fornecidos pela família. Isto significa que a
família está no centro da vida e da educação da criança
dado o seu dever pelos cuidados físicos, pelo
desenvolvimento psicológico, emocional, moral e cultural da criança na
sociedade desde o seu nascimento. Ela
desempenha o papel de mediadora entre a criança e a sociedade,
possibilitando a sua socialização e integração. Isto é, o ambiente familiar é a formação de base da personalidade, é onde que a
criança cresce, actua, desenvolve e expõe seus sentimentos. Qualquer que
seja a sua estrutura, a família mantém-se como o meio relacional básico para as
relações da criança com o mundo. Do mesmo modo que a família é responsável
directo da educação da criança em casa, é também responsável quando a criança
se encontra na instituição escolar. Em outras palavras, a família deve se
envolver na educação escolar da criança do mesmo modo que se envolve fora dela.
A educação dos filhos é uma responsabilidade incumbida tanto aos pais quanto
aos educadores na escola.
Portanto,
a família funciona como o primeiro e mais importante agente socializador, sendo
assim, é o primeiro contexto no qual se desenvolve padrões de socialização em
que a criança constrói o seu modelo de aprendiz e relaciona com todo o
conhecimento adquirido durante sua experiência de vida e que vai se reflectir
na sua vida futura.
3.
A escola
O vocábulo escola vem do grego schola
que significa ócio dedicado ao estudo, ocupação literária ou lição. No sentido
concreto, a mesma palavra schola ou ludus
em latim, significa lugar onde se ensina. Portanto, escola é a instituição onde
recebe-se ensinamento.
A escola tal como se
apresenta hoje é o resultado de uma longa história. O seu surgimento
apresenta muitos elementos a considerar para a compreensão do nosso tema e da
sua importância na nossa sociedade.
A
escola como instituição para educação apareceu de forma progressiva. Com o
aparecimento da linguagem escrita como
forma de comunicação sem fronteira, aprender a ler e escrever necessitou da
presença dum mestre para a transmissão dessa linguagem e preparação dos jovens
para desempenhar certas responsabilidades nos trabalhos. Deste modo, a escola foi o resultado da divisão social do trabalho dado
que necessitava formar especialistas e desenvolver novas competências sociais
básicas que a família não podia assegurar por si própria. É desta maneira que
as escolas, no princípio, educavam unicamente as minorias que recebiam e
precisavam de uma educação especializada. Os outros, a massa do povo, não necessitava dessa
preparação especial. A escola apareceu para satisfazer as demandas da sociedade
e para transmissão da cultura de maneira formal.
Durante longos milénios , a educação que, como processo de
interacção social e socialização, sempre existiu. Realizou-se quase sempre fora
da escola. A família, a tribo ou o clã, as Igrejas, a profissão e o meio social
em geral assumiram a função de educar os jovens para a vida social. Todavia,
desde muito cedo na história também se encontram escolas destinadas a preparar
os jovens para objectivos especificos. Com a expansão do cristianismo pela
Europa, surgiram escolas à volta das catedrais e dos conventos. Os letrados aí
formados vieram a ter um papel crescente na adminstração da Igreja e do estado.
A revolução francesa, onde se sentiu fortemente a influência do iluminismo,
veio dar um novo impulso à educação escolar. a partir daí e das revoluções
liberais que nos diversos paises europeus foram derrubando os antigos regimes,
foi-se desenvolvendo a ideia de que à educação competia um papel fundamental no
progresso e na harmonia social: em vez de ser um privilegio concedido a alguns
deveria ser um direito aberto a todos. A criação de uma rede de escolas
públicas teve sobretudo um impacto imediato no ensino primário e secundário. Na
passagem do seculo XIX para o seculo XX a educação escolar recebe um novo
impulso. Da afirmação inicial do direito universal à educação escolar,
passou-se progressivamente à obrigaroriedade da escolarização, ou seja, à
escola compulsiva ( Pires, 2001:passim).
Até século XX, só nos países mais desenvolvidaos
do mundo foram abertas as portas para todo o tipo de criança, embora já nos
finais do século XIX, por exemplo, quase todo o grupo etário correspondente ao
ensino primário estivisse escolarizado nos países europeus mais
desenvolvidos. Na Idade Média, as
escolas foram propriedades da Igreja católica. Esta, organizou nos conventos,
monsteiros e catedrais a escola. Através desses, contribuiu bastante para que a
instituição escolar seja um lugar para uma educação estruturada e transmissora
dos valores. A notar que a educação escolar só
recentemente atingiu a dimensão universal que hoje lhe é reconhecida.
Mizukami
apud Silva (1995:85), mostra que a escola é por excelência o local da
preservação cultural, onde se processa o acesso às grandes produções culturais
da humanidade e os valores essenciais.
Como
instituição básica e transmissora da cultura e
socializadora dos indivíduos, a escola desempenha um papel importante na
sociedade. Desta forma, ele não é só um lugar de aprendizagem, mas também um
campo de acção no qual há continuidade de vida afectiva que existe no ambiente
familiar.
Pimenta
at al (1999:89) considera a escola como sendo uma instituição social básica, um conjunto de relações, processos e
recursos para satisfazer interesses e necessidades comuns. A escola como
instituição, responde à necessidade social de transmitir cultura, socializar o
indivíduo e prepará-lo para desempenhar um papel na sociedade.
Na
mesma perspectiva Martins (199:113)
mostra que a escola é a instituição por meio da qual é transmitida a
herança social e, ao mesmo tempo, é responsável pelo desenvolvimento de novos
conhecimentos.
Assim,
a escola, por meio da transmissão de conteúdos incute uma nova cultura aos
alunos e ajuda-os a apropriar-se de todo o conhecimento que adquirem e
relaciona-o com a nova realidade. O conhecimento ou a educação adquirido na
escola não é só para satisfazer as necessidade da sociedade, mas sim, e
sobretudo para fazer do indivíduo um homem.
Portanto,
como instituição educativa, a escola é um ambiente educativo ao serviço da
sociedade. A sua presença assegura a continuidade da educação dos filhos. Por
esta razão, há mesmo necessidade de a escola estar em perfeita sintonia com a
família. Ela, é uma instituição que complementa a família e juntas tornam-se
lugares agradáveis para a convivência de todos. O seu papel é de grande
importância dado que a família deposita nela uma confiança para perpetuar a
cultura e a socialização dos filhos com uma nova cultura afim de satisfazer as preocupações
da sociedade.
4.
A
função social da escola
A
sociedade através dos seus agentes socializadoras, como a família, a escola, a
Igreja e outros, transmite a cultura dependendo do tipo de cidadão que cada
sociedade pretende ter. Na sociedade tradicional por exemplo, a transmissão
cultural se faz pela simples convivência entre as gerações. Os conhecimentos
que devem ser transmitidos referem-se a uma uma sociedade bem determinada e
também para qualquer pessoa. Num outro campo de conhecimento, o que se dá para
uma determinada socidade tem certos limites e não se adapta em totalidade com a
nova realidade. Assim, a transmissão
cultural adaptada a nossa realidade e a qualquer sociedade só se torna possível
por meio de instituições organizadas e estruturadas, chamada “escola”.
Na
óptica de Pires (2001:94), a função essencial da escola é de desenvolver as competências, o
carácter e a personalidade de cada um, ajudar a descobrir e a desenvolver os
talentos, permitir a cada um atingir o seu máximo potencial de realização
pessoal, levar a melhor a qualidade das suas próprias vidas, por um lado, e
integrar o indivíduo na sociedade, prepará-lo para a vida activa, dando-lhe
sentido de realizaçaão pessoal e tornando-o ao mesmo tempo socialmente útil,
por outro lado, corresponde um tanto ao ideal que se espera que a escola realize.
A
escola é um grupo social em que o professor realiza um trabalho de superação
das diversidades, reduzindo-as à unidade. Por meio do professor, o aluno tem
acesso à cultura formal, o que faz da escola um grupo intermediário entre
grupos primários, como a família, e os grupos secundarios. Na escola
desenvolve-se um processo socializante que objetiva integrar o educando na
comunidade, recapitulando os resultados da experiência social. Transmitindo-lhe
os padrões do grupo social e cultural a que pertence. Além disso, a escola é um
instrumento consciente de aperfeiçoamento social (Martins,1999:49).
A
escola é uma instituição fundamental para a constituição do indivíduo, para a
evolução da sociedade e da própria humanidade. Ela tem objetivos e metas a alcançar
no seu processo de socialização embora as suas funções tenham mudadas de acordo
com as necessidades da sociedade.
Pimenta at al
(199:93) mostram que fazem parte das funções da escola, proporcionar
conhecimentos e desenvolver capacidades que permitam aos individuos adquirir as
competências básicas necessárias à sua vida de adultos e à sua integração numa
sociedade em mudança; transmitir a
cultura , modelos de comportalmento e normas sociais de convivência à novas
gerações para que estas as integrem e se integrem na sociedade. Neste contexto,
a prática educativa, na sua acepção mais ampla e através das suas mais diversas
manifestações, é um instrumento privilegiado de socialização. Com efeito, a
escola de certo modo antecipa à criança a maneira como ela será ou deverá ser
tratada na sociedade e , portanto, será seu objectivo fazer com que a criança
aceite as regras do jogo social, se envolva nele e aceite os seus efeitos; preparar o indivíduo para que seja um cidadão
independente, crítico, criativo, responsável e participativo, disposto a
exercer os seus direitos e deveres como membro de uma sociedade democrática e
pluralista e capaz de assumir atitudes favorável à educação permanente e à
formação contínua; conferir estatuto social através de um processo de
diferenciação, selecção e hierarquização, constuído com base numa avaliação das
capacidades expressas e das competências adquiridas e desenvolvidas pelo aluno
e objectivada numa certificação escolar, isto é, na atribuição de um diploma.
A
escola, com efeito, é uma instituição que determina os valores e padrões de uma
sociedade, isto é, procura desenvolver hábitos de pensamento e de acção
necessários e aceites pela sociedade, incutir nos educandos o senso da
solidariedade social, do desenvolvimento do senso social e do modo de viver
conforma as exigência da sociedade.
A
escola, entretanto, não é responsável apenas pela transmissão cultural, pois
tem a função de promover o desenvolvimento global da personalidade do educando,
moldando sua motivação e capacitando-o a um bom desempenho social
(Martins,199:113).
Portanto, embora
a família seja a primeira responsável e educadora das crianças, a escola
através dos professores é uma
instituição potente para o vehículo da cultura da sociedade. Deste modo, as duas
instituições, escola e família, são parceiras inseparáveis para o “transporte”
da cultura. Portanto, as duas parceiras devem unir esforços, partilhar
objetivos e reconhecer a existência de um mesmo bem comum para os alunos. O
divorcio entre as duas parceiras pode criar um obstáculo que possa dificultar a
união de esforços e a partilha de objetivos com risco de criar graves prejuízos para os alunos.
5.
A
interacção entre família e escola
A
interacção entre família e escola é um tema de interesse social e de
actualidade. Pretende-se neste ponto compreender o tipo de interacção entre
estes dois agentes. Visto a sua importância,
propõe-se fazer uma reflexão que desperte a atenção dos agentes da
educação para assim garantir o sucesso do processo educativo.
Muitos
autores falam e sublinham a importância desta interacção, infelizmente, nem
sempre isso aconteça como se deveria.
a
relação da família com a escola é de mera importância para que o processo de
ensino e aprendizagem aconteça de forma natural e satisfatória. Entretanto, essa relação nem sempre acontece
como deveria, acarretando consequências desastrosas a aprendizagem e ao comportamento
dos alunos. Pois é dever da escola promover a interacção no tempo e no espaço
com a família (Nérici, 1989:273).
Na
mesma linha, Arnaldo (1969: 115) mostra que, é de maior importância a
participação dos pais na comunidade e organização escolar, a fim de que a
complexa tarefa de educar se faça homogeneamente, através do esforço integrado
da família e da escola.
Lima
(2002: 288), ele, defende a importância
de uma verdadeira colaboração entre os dois agentes da educação
mostrando que o envolvimento parental conduz a uma maior motivação, a mais
aproveitamento escolar e a um melhor comportamento disciplinar. E acrescenta mostrando
que, nos pais, verifica-se uma melhoria da sua auto-estima e o acesso a
informação que lhes é útil para orientar os filhos; nos professores, o
envolvimento parental pode tornar o seu trabalho mais facilitado e bem
sucedido, além de mais bem visto, porque compreendido pelos pais.
Na
mesma perspectiva, Paiva (2012: 205) defende que a presença da família na vida
escolar dos filhos aumenta a motivação e a responsabilidade destes. O aluno que
sinta esta boa comunicação e relação escola/família será um aluno mais
dedicado, mais corresponsabilizado pelos seus actos e responsabilidades.
Na
sua tese, Picanço (2012: 14) faz-nos ver que a relação família-escola deve ser
uma aliança fundamental, e que a necessidade de se construir uma relação entre
escola e família, deve ser para planear, estabelecer compromissos e acordos
mínimos para que o educando/filho tenha uma educação com qualidade tanto em
casa como na escola.
A
questão de interacção entre família e escola é uma preocupação para todos dado
que ambas as partes desejam uma boa educação e um bom aproveitamento escolar
dos educandos. Por esta razão, viu-se a
necessidade de favorecer esta relação e
criar um laço de colaboração e cooperação entre elas.
Na
óptica de Delors at al (1998:111), a relação da família com a escola é
indispensável porque o desenvolvimento harmonioso das crianças implica uma
complementaridade entre a educação escolar e familiar. Considera-se que bons
contactos entre família e escola revestem todo interesse para a educação da
criança. Estas passagens sugerem que haja colaboração entre as duas
instituições, para responder às exigências educativas.
De
acordo com Tavares e Alarcão (2005:147), a interacção entre todos os agentes
educativos origina uma complexa rede de relações que vão influenciar o
relacionamento entre o educador e o educando a que se chama, embora numa
acepção mais ampla, relação educativa.
Na
nossa opinião, a interacção entre família e escola influencia muito na relação entre professor e aluno. Por um
lado, o professor compreende o aluno dado que tem um conhecimento amplo da vida
do educando, e por outro lado, o aluno confia no professor porque sabe que este
comunica sempre com os encarregados e conhece tudo sobre mim. Pode-se, então,
considerar que o contacto frequente entre duas instituições tem impacto
positivo na vida do educando. Deste modo, dá para confirmar a tese de Henderson
apud Marques (1997:9), que diz, a colaboração das famílias correlaciona-se com
os resultados escolares dos alunos.
Numa
outra vertente se pode confirmar que os resultados escolares provêm do esforço
do trabalho da escola em colaboração com a família. É nesta perspectiva que Anacleto (2010:20)
considera que o sucesso do aluno não depende apenas da escola ou apenas da
família, mas sim, do inter-relacionamento das partes, uma vez que a estreita
relação com as famílias contribui, e muito, no processo de ensino e
aprendizagem das crianças.
Na
mesma perspectiva, Bartholo apud Lima (2009:9), acrescenta que a parceria
família-escola é fundamental para que ocorram os processos de aprendizagem e
crescimento de todos os membros deste sistema, uma vez que a aprendizagem não
está circunscrita à conteúdos escolares.
Tudo
o que se disse, no entanto, indica que é necessário que as famílias criem o
hábito de participar na vida escolar dos educandos, e que percebam que é
importante relacionar-se com a escola na busca de um objetivo em comum, ‘a
educação dos filhos e o bom aproveitamento para todos’. Por outro lado, a
escola deve favorecer o clima de aproximação
das famílias mostrando-as que educar não é papel exclusivo da escola,
mas sim, de todos. A interacção entre família e escola, é deste modo,
incontornável para o sucesso educativo. As duas instituições devem colaborar,
cooperar e trabalhar em parceria para maximizar os resultados educativos.
Como
se vê, os autores acima citados e muitos outros autores defendem a
possibilidade de a escola e família trabalharem de mãos dadas pelo bem dos
filhos. Portanto, é nesta linha que será abordado o nosso trabalho. Mas de
forma particular, o trabalho vai se limitar
ao aspecto da interacção entre família e escola em relação com o sucesso
do processo de ensino e aprendizagem.
Falando
desta interacção, considera-se que cada agente da educação tem as suas
responsabilidades ou papéis. Trabalhando juntos, estes papéis não se repulsam
mas sim, complementam-se. O desafio é fazer com que essa assimetria produza
complementaridade, e não exclusão ou superposição (Marilza, 2010). Esta
interacção, portanto, baseia-se na ideia de reciprocidade e de influência mútua
entre as duas instituições, considerando as especificidades e mesmo as assimetrias existentes nessa interacção.
A
escola como a família deveriam ter uma outra visão sobre a continuidade da
educação. A ignorância prejudica o processo de ensino e aprendizagem. É neste
âmbito que o trabalho irá propor estratégias que incentivem a escola e a
família a promoverem uma interacção entre elas. Portanto, vai ser identificado
os motivos que dificultam esta interacção
para assim propor estratégias que a favoreça. A interacção entre família
e escola não pode se limitar unicamente aos aspectos acima referidos, mas sim,
em todos os aspectos que têm que ver com a educação, entre os quais,
A
participação na selecção de materiais curriculares; apresentação de propostas
de temas a explorar (em conjunto,
por alunos, pais e professores) nas áreas disciplinares, transdisciplinares e
de complemento curricular; Participação na definição dos critérios que permitem
determinar aquilo em que consiste um desempenho de sucesso, em áreas do
currículo cuja concepção e planificação tenha contado com a sua intervenção
(LIMA, 2002: 150).
Proceder
desta forma poder-se-á confrontar a realidade da escola com as expectativas da
família. Com isso, pode-se chegar a descobrir as falhas que necessitarão
propostas ou outras alternativas perante as quais os problemas relacionados ao
cotidiano escolar resolvem-se, pois, é
este tipo de interacção realizada na escola que irá dar possibilidade à família
questionar sobre as realizações educacionais de
forma a melhorar tanto a sua estrutura, como a sua função social de
educar. Este é um aspecto muito importante que o trabalho irá desenvolver.
Assim, os encarregados de educação, pelo conhecimento particular que têm dos
seus educandos, são um dos elementos fundamentais, mas nem sempre valorizados
no desenvolvimento do currículo. Eles
podem também participar na vida escolar de seguinte modo:
Proporcionar
informação sobre as necessidades especiais dos alunos; informar acerca das
circunstâncias familiares; transmitir informação sobre o comportamento do aluno
fora da escola e sobre a atitude que este tem para com a escola e para com os
professores; informar o professor sobre qualquer interesse ou talento especial
do aluno; dar a conhecer as suas ideias sobre a educação do aluno e a sua
relação com planos futuros de aprendizagem; contribuir para assegurar a
harmonia entre o ambiente natural da família e o ambiente da escola; participar
activamente na aprendizagem do aluno; organizar visitas familiares de estudo
com um interesse curricular; colocar os seus conhecimentos e habilidades
especiais à disposição da escola. (BRENNAM apud PACHECO, 2002: 98).
A
presença das famílias ou encarregados da educação na planificação de actividades
ou na tomada de certas decisões, obriga a escola e família a levar a sério a formação dos
educandos. Deste modo, Ao invés de a escola chamar ou convocar a família apenas
quando as coisas não andam bem, quando as notas estão baixas, ou quando se
precisa de uma ajuda pontual, ela deve ser vista como elemento participativo ou
como um co-autor do processo educativo escolar e, consequentemente, envolver-se
mais directamente na concretização do mesmo.
6. O impacto da interacção família-escola no processo
de ensino e aprendizagem
A
interacção entre família e escola tem uma influencia maior sobre a aprendizagem
dos alunos dado que estes serão muito empenhados nos trabalhos por saber que a
família acompanha os seus estudos.
A
pesquisa de Lima (2002:288) mostra que:
Nos alunos, o envolvimento parental conduz a uma
maior motivação, a mais aproveitamento escolar e a um melhor comportamento
disciplinar. Nos pais, verifica-se uma melhoria da sua auto-estima e o acesso a
informação que lhes é útil para orientar os filhos; nos professores, o
envolvimento parental pode tornar o seu trabalho mais facilitado e bem
sucedido, além de mais bem visto, porque compreendido pelos pais.
Apoiando
a ideia, Ebersole apud Lemmer (2006:141) acrescenta que diante da colaboração
das famílias no processo educativo dos seus filhos, nota-se que os alunos
aprendem mais, os professores sentem-se mais realizados e os pais sentem-se
melhor com os seus filhos e consigo mesmo.
O
que surge no pensamento destes autores é que a interacção entre família e
escola aproveita a todos. Cada um ao seu nível e também aproveita a todos.
Assim,
Epstein apud Marques (1997:10) destaca que, sobre a colaboração das famílias,
para além de contribuir para o sucesso escolar dos seus educandos, facilita
também os papéis do professor, onde os pais e /ou encarregados de educação
podem participar como auxiliares e desenvolver trabalhos escolares voluntários.
De
facto, a interacção da família e escola, facilita os papéis tanto dos
professores como dos encarregados. E neste caso, é o educando que beneficia.
Jane e Marilza (2010) mostra que, quando ocorre bem e é bem conduzido o
processo de aproximação entre escola e família, as crianças tornam-se mais
participativas em salas de aula, animadas com os estudos e alegres com a
escola.
Importa
aqui realçar que, uma boa interacção entre família e escola culmina sempre ao
sucesso escolar, embora um caso particular possa dizer o contrário. O bom êxito
ou sucesso escolar está profundamente relacionado com a participação positiva
dos pais na educação dos filhos. No entanto, esta interacção não se limita a
acompanhar a criança na escola ou participar na reunião da abertura ou de
encerramento escolar, como temos visto nas escolas do nosso país. Uma
verdadeira interacção é, a troca de impressões, de experiências e a preparação
em conjunto das actividades educativas. Chegando a trabalhar em conjunto, a
família como a escola irá recuperar a sua imagem antiga que ela tinha a
respeito do valor da educação familiar e escolar. Deste modo será uma nova elã
da vida escolar onde todos colaboram para o bem de todos.
Considerações
finais
A
interacção entre a família e escola é um elemento muito importante na educação
dos filhos. Os pais não podem ficar indiferentes na educação dos seus filhos, e
também a escola não pode se considerar dono da educação sem considerar a
família. Entre os dois agentes da educação deve haver uma aliança que permite
que trabalhem em colaboração para maximizar o trabalho educativo.
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