A relação supervisor-supervisionado na
perspectiva do cenário clínica: o seu impacto no desenvolvimento profissional
Introdução
A relação
supervisor-supervisionado é um dos pontos que interessa a supervisão pedagógica
na medida em que, a supervisão é dar ajuda e apoio ao supervisionado. Para que
isso aconteça, os intervenientes têm que
viver numa boa relação, uma relação de amizade, de compreensão e outros.
Achou-se que
o cenário clínico da supervisão é o melhor que vai ao encontro da nossa
preocupação dado que, é nele que se acha plasmada a ideia da existência dum clima
que favorece uma relação entre supervisor e supervisionado com objectivo de
prestar ajuda que leve a melhorar a prática pedagógica e o desenvolvimento
profissional.
Concretamente
o trabalho está estruturado desta forma:
O primeiro
ponto trata duma experiência da supervisão vivida numa escola, uma supervisão
improvisada com as suas implicações. O segundo fala do tema propriamente dito,
da relação supervisor-supervisionado na perspectiva do cenário clínico. O terceiro
trata do impacto da relação supervisor-supervisionado no desenvolvimento
profissional. E por fim, tem uma pequena conclusão.
1. Supervisões
improvisadas (uma experiência vivida)
A escola primária do 1º grau de Nhafunguane,
localizada no interior do Distrito de Panda, tem sido visitada por supervisores
vindo da sede do Distrito para fazer uma supervisão pedagógica. Esta supervisão
é feita muita vezes por professores (supervisores) com nível de formação 10ª
classe + 1 ano. Segundo as fontes consultadas, estes supervisores não
desempenham bem as suas funções de supervisor por falta de experiência nesta
área e das improvisações para a supervisão.
A nossa
atenção não consiste tanto no nível académico dos supervisores, mas sim, o
facto de ver os professores com a formação de 10ª classe + 1 ano que estão
sendo supervisionados e/ou acompanhados pelos professores do mesmo nível de
formação académica, talvez que não tenham uma experiência suficiente em relação
aos supervisionados. Nesta escola, há professores que já têm mais de 20 anos de
carreira e se acham supervisionados por um professor com menos de 7 anos de
carreira. Esta supervisão ao invés de ser proveitosa, torna-se frustração para alguns,
dado que existem na escola professores que têm mais experiência em relação aos
supervisores, professores estes, podiam bem ajudar outros professores. Mas como
a ordem vem do Distrito, ninguém pode se opor. O que confirma a inexperiência nesta área de
supervisão é que estes supervisores chegam na escola sem avisar com
antecedência, alegando a distância e a falta duma cobertura telefónica naquela
zona. Não pode existir uma supervisão sem aviso prévia, porque uma supervisão é
um processo. Isto é, tem fases que se deve respeitar: pré-observação, observação
e pós-observação.
Segundo Alarcão
e Tavares (2003: 16), a supervisão de professores é o processo em que um
professor, em princípio mais experiente e mais informado, orienta um outro
professor ou candidato a professor no seu desenvolvimento humano e profissional.
A supervisão,
portanto, deve ser uma actividade planificada e organizada e não um mero
improviso. Assim, toda actividade supervisiva, deve ter uma calendarização que esteja
disponível a todos os professores para permitir que estes tenham o conhecimento
antecipado da visita do supervisor à sala de aula ou na instituição. O professor
supervisionado não é uma criança que o supervisor pode surpreender a qualquer
momento. Embora que tenha algumas falhas ou imperfeição na prática diária da
sua profissão, é uma pessoa que merece respeito e deve ser avisado de todas as
visitas na sua sala de aula dado que, enquanto mediador nesta sala, é o
primeiro responsável da aprendizagem dos alunos. Quando o seu estado psicológico
estiver perturbado, a mediação também terá
uma perturbação. Portanto, é importante e necessário preparar psicologicamente
o professor antes de lhe supervisionar.
Não querendo
excluir a possibilidade de existir uma tal supervisão, achamos que seria melhor
que os professores com mais experiência profissional e com um níveis de estudo superior
ao dos supervisionados, sejam selecionados para esta tarefa de supervisor.
Achamos também
que, a supervisão improvisada constatada nos supervisores com nível 10ª classe +1, pode ser associada ao fato de
eles não terem uma experiência na
profissão. Assim, quando não há esta experiência, o supervisor acha que a visita duma escola é uma ocasião para exibir
a sua autoridade, mostrar que tem conhecimento e que os outros não têm, onde se
deve exigir tarefas, surpreender aqueles que não planificam ou não sabem
planificar e leccionar, etc. Por isso, vimos a necessidade de uma supervisão
pedagógica realizada pelos professores com mais anos de experiência e com um
nível de formação superior ao do supervisionado. Assim, a supervisão realizada poderá ser um dos fundamentos para
o desenvolvimento das potencialidades profissionais e para a resolução das
dificuldades enfrentadas pelos professores.
- A
relação supervisor-supervisionado na perspectiva do cenário clínico
A palavra clínica
tal como usada na área da saúde, tem o seu significado no ensino. A clínica tem
a ver com o tratamento do paciente, um tratamento personalizado onde o paciente
tem o privilégio de dialogar com o seu médico para o conhecimento da sua
situação real.
No entanto,
este privilegio do relacionamento e do diálogo entre dois parceiros aplica-se
no ensino, mas esta vez, associado à supervisão para designar o processo de
acompanhamento feito aos professores pelos supervisores. Neste acompanhamento, o
professor partilha com o supervisor as suas conquistas e dificuldades encontradas
no seu percurso profissional, com objectivo de melhorar a sua prática de ensino
na sala de aula (ALARCÃO & TAVARES, 2003: 25). Por isso o supervisor e o
professor fazem uma análise conjunta de fenómenos que ocorrem na sala de aula
para poder encontrar soluções conjunto.
A supervisão clínica, neste caso, implica uma
parceria entre o professor e o supervisor, assumindo este último o papel de um
indivíduo com experiência, compreensivo, não
detentor de conhecimentos especializados, mas um indivíduo que caminha
com o professor descobrindo juntos os caminhos para o sucesso no seu trabalho.
É por esta razão que o supervisor assume a atitude de colega, de um elemento de
apoio directo aos professores em várias áreas do processo de ensino e aprendizagem.
Em outros termos, o cenário clínico favorece um ambiente de confiança entre o
supervisor e o supervisionado, leva-o a compreender a realidade da sala de aula
focalizando todos os aspectos positivos e negativos que acontecem naquela
realidade.
Portanto,
para que haja um ambiente de confiança, o supervisor deverá estabelecer um
clima de amizade para que os supervisionados se sintam livres de exprimir todas
as situações que se vivem na sala de aula para poder pedir conselho ou apoio. Esta amizade
necessita da simplicidade e humildade da parte do supervisionado em mostrar as
suas limitações para que o supervisor consiga dar ajuda que necessita, ou
encontrar outras estratégias para superar as dificuldades. Quanto ao
supervisor, precisará da disponibilidade, a compreensão e vontade de dar este apoio ao supervisionado e
de caminhar com ele para que cresce na suas práticas diárias.
É
necessário estabelecer um bom clima afectivo-relacional numa atmosfera de
entreajuda recíproca, aberta, espontânea, autentica cordial, empática,
colaborativa e solidária entre supervisor e supervisionado (TAVARES & ALARCÃO,
2003:61).
Há,
portanto, a necessidade duma relação intrapessoal e interpessoal, entre todos
os intervenientes, numa dimensão de entreajuda, colaboração, abertura e
negociação. Esta relação é para favorecer a proximidade que culmine na
cooperação e colaboração sincero. Assim, quando há problema na sala de aula,
o supervisor e professor analisam e interpretam a situação juntos, mas deixando
sempre ao supervisionado a autonomia de exercer as suas actividades de forma
natural.
- O
impacto da relação supervisor-supervisionado no desenvolvimento
profissional
A relação
entre o supervisor e o supervisionado tem um impacto muito significativo no
desenvolvimento profissional do professor. Este desenvolvimento
profissional significa o conjunto de características e conhecimento que o
professor tem e deseja melhorar, para que consiga evoluir na carreira e também
na sua vida pessoal.
Segundo
Dias (2012:70), o desenvolvimento profissional é um processo de crescimento e de
aquisições diversas, orientado para a melhoria de eficácia no exercício da
actividade profissional, que se manifesta no desejo de inovar e fazer melhor.
Quando o
supervisor presta ajuda ao supervisionado, é para que este último cresça e melhore nos diversos
aspectos da sua prática profissional, que desenvolva outras habilidades para
enfrentar novas situações ou problemas e tenha capacidade de encontrar
soluções.
Deste modo, quando
os supervisionado vai a busca de soluções para os problemas, sente-se dono do
próprio desenvolvimento profissional e não só, mas também procura soluções para
os seus próprios problemas.
Por esta
razão, Formosinho (2002; 24) mostra que a supervisão pedagógica influencia no
crescimento e desenvolvimento de todos os membros da organização escolar,
aumentando a sua capacidade de aprendizagem e o seu potencial de eficácia em
tarefas individuais e esforços colaborativos.
Este
crescimento e desenvolvimento depende da relação ou interacção que existe entre
os intervenientes. Se o supervisor se considerar autoritário, severo e duro
para com o professor, incompreensivo e impaciente, vai se criar em
supervisionado um clima de medo, desconfiança e fechamento, etc. Assim, o
encontro não produzirá resultados positivos e não haverá o desenvolvimento
profissional. Mas se o supervisor tiver a preocupação de ajudar e apresentar
uma atitude acolhedora, o supervisionado terá aproveitado muito para o seu
crescimento profissional.
Na mesma
perspectiva, Formosinho mostra que dentre as várias funções da supervisão
pedagógica destacam-se, o melhoramento da prática, desenvolvimento do potencial
de aprendizagem do educador e promoção da capacidade da organização em criar
ambientes de trabalho autorrenováveis.
Portanto,
uma boa relação, colaboração e cooperação entre supervisor e supervisionado
contribui no desenvolvimento profissional. Esta relação culmina na descoberta
dos erros e superação das dificuldades, na análise de problemas e busca de
soluções e na aquisição de certo conhecimento, técnicas e metodologias para a
sua prática didática e profissional.
Conclusão
Chegando ao
termo desta reflexão, viu-se que a relação entre supervisor e supervisionado é
muito importante. Esta relação favorece um ambiente de confiança, um clima de
amizade e privilegia o diálogo que leva o supervisionado se sentir-se livres de
exprimir as suas preocupações e apresentar todas as situações que se vivem na
sala de aula para poder pedir conselho
ou apoio.
Portanto, o
supervisor caminha com o supervisionado, procuram juntos analisar e solucionar
problemas. Isto faz com que o supervisionado adquira certo
conhecimento, técnicas e metodologias para a sua prática didática e
profissional. Esta relação de colaboração e cooperação entre supervisor e
supervisionado contribui no desenvolvimento profissional na medida em que o
supervisionado desenvolva outras habilidades para enfrentar novas situações e
problemas e com possibilidade de encontrar soluções.
Quanto à supervisão
pedagógica feita pelos supervisores do
nível 10ª classe +1, achou-se que seria melhor que esta supervisão seja
realizada pelos professores com um níveis de formação superior ao dos
supervisionados e além disso, que tenha uma grande experiência na profissão,
para poder prestar apoio ao seu
supervisionado.
Bibliografia
ALARCÃO, Isabel
&TAVARES, José. Supervis-ão da prática pedagógica: uma perspectiva de
desenvolvimento e aprendizagem, 2ª ed., Coimbra, Almedina, 2003
DIAS,
Aurora. A supervisão na formação contínua de professores de Matemática e o
desenvolvimento profissional, 2012, disponível em http://supervisaoclinicanaenfermagem.wikidot.com/desenvolvimento-pessoal-e-profissional
FORMOSINHO,
Júlia Oliveira. A supervisão na formação de professores II: da organização à
pessoa, Porto, Porto Editora, 2002
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