terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A relação supervisor-supervisionado  na perspectiva do cenário clínica: o seu impacto no desenvolvimento profissional
Introdução
A relação supervisor-supervisionado é um dos pontos que interessa a supervisão pedagógica na medida em que, a supervisão é dar ajuda e apoio ao supervisionado. Para que isso aconteça, os  intervenientes têm que viver numa boa relação, uma relação de amizade, de compreensão e outros.
Achou-se que o cenário clínico da supervisão é o melhor que vai ao encontro da nossa preocupação dado que, é nele que se acha plasmada a ideia da existência dum clima que favorece uma relação entre supervisor e supervisionado com objectivo de prestar ajuda que leve a melhorar a prática pedagógica e o desenvolvimento profissional.
Concretamente o trabalho está estruturado desta forma:
O primeiro ponto trata duma experiência da supervisão vivida numa escola, uma supervisão improvisada com as suas implicações. O segundo fala do tema propriamente dito, da relação supervisor-supervisionado na perspectiva do cenário clínico. O terceiro trata do impacto da relação supervisor-supervisionado no desenvolvimento profissional. E por fim, tem uma pequena conclusão.

 1. Supervisões improvisadas (uma experiência vivida)
 A escola primária do 1º grau de Nhafunguane, localizada no interior do Distrito de Panda, tem sido visitada por supervisores vindo da sede do Distrito para fazer uma supervisão pedagógica. Esta supervisão é feita muita vezes por professores (supervisores) com nível de formação 10ª classe + 1 ano. Segundo as fontes consultadas, estes supervisores não desempenham bem as suas funções de supervisor por falta de experiência nesta área e das improvisações para a supervisão.
A nossa atenção não consiste tanto no nível académico dos supervisores, mas sim, o facto de ver os professores com a formação de 10ª classe + 1 ano que estão sendo supervisionados e/ou acompanhados pelos professores do mesmo nível de formação académica, talvez que não tenham uma experiência suficiente em relação aos supervisionados. Nesta escola, há professores que já têm mais de 20 anos de carreira e se acham supervisionados por um professor com menos de 7 anos de carreira. Esta supervisão ao invés de ser proveitosa, torna-se frustração para alguns, dado que existem na escola professores que têm mais experiência em relação aos supervisores, professores estes, podiam bem ajudar outros professores. Mas como a ordem vem do Distrito, ninguém pode se opor.  O que confirma a inexperiência nesta área de supervisão é que estes supervisores chegam na escola sem avisar com antecedência, alegando a distância e a falta duma cobertura telefónica naquela zona. Não pode existir uma supervisão sem aviso prévia, porque uma supervisão é um processo. Isto é, tem fases que se deve respeitar: pré-observação, observação e pós-observação.
Segundo Alarcão e Tavares (2003: 16), a supervisão de professores é o processo em que um professor, em princípio mais experiente e mais informado, orienta um outro professor ou candidato a professor no seu desenvolvimento humano e profissional.
A supervisão, portanto, deve ser uma actividade planificada e organizada e não um mero improviso. Assim, toda actividade supervisiva,  deve ter uma calendarização que esteja disponível a todos os professores para permitir que estes tenham o conhecimento antecipado da visita do supervisor à sala de aula ou na instituição. O professor supervisionado não é uma criança que o supervisor pode surpreender a qualquer momento. Embora que tenha algumas falhas ou imperfeição na prática diária da sua profissão, é uma pessoa que merece respeito e deve ser avisado de todas as visitas na sua sala de aula dado que, enquanto mediador nesta sala, é o primeiro responsável da aprendizagem dos alunos. Quando o seu estado psicológico estiver perturbado, a mediação  também terá uma perturbação. Portanto, é importante e necessário preparar psicologicamente o professor antes de lhe supervisionar.
Não querendo excluir a possibilidade de existir uma tal supervisão, achamos que seria melhor que os professores com mais experiência profissional e com um níveis de estudo superior ao dos supervisionados, sejam selecionados para esta tarefa de supervisor.
Achamos também que, a supervisão improvisada constatada nos supervisores com nível  10ª classe +1, pode ser associada ao fato de eles não terem uma experiência  na profissão. Assim, quando não há esta experiência, o supervisor acha que a  visita duma escola é uma ocasião para exibir a sua autoridade, mostrar que tem conhecimento e que os outros não têm, onde se deve exigir tarefas, surpreender aqueles que não planificam ou não sabem planificar e leccionar, etc. Por isso, vimos a necessidade de uma supervisão pedagógica realizada pelos professores com mais anos de experiência e com um nível de formação superior ao do supervisionado. Assim, a supervisão  realizada poderá ser um dos fundamentos para o desenvolvimento das potencialidades profissionais e para a resolução das dificuldades enfrentadas pelos professores.
  1. A relação supervisor-supervisionado na perspectiva do cenário clínico
A palavra clínica tal como usada na área da saúde, tem o seu significado no ensino. A clínica tem a ver com o tratamento do paciente, um tratamento personalizado onde o paciente tem o privilégio de dialogar com o seu médico para o conhecimento da sua situação real.
No entanto, este privilegio do relacionamento e do diálogo entre dois parceiros aplica-se no ensino, mas esta vez, associado à supervisão para designar o processo de acompanhamento feito aos professores pelos supervisores. Neste acompanhamento, o professor partilha com   o supervisor  as suas conquistas e dificuldades encontradas no seu percurso profissional, com objectivo de melhorar a sua prática de ensino na sala de aula (ALARCÃO & TAVARES, 2003: 25). Por isso o supervisor e o professor fazem uma análise conjunta de fenómenos que ocorrem na sala de aula para poder encontrar soluções conjunto.
 A supervisão clínica, neste caso, implica uma parceria entre o professor e o supervisor, assumindo este último o papel de um indivíduo com experiência, compreensivo, não  detentor de conhecimentos especializados, mas um indivíduo que caminha com o professor descobrindo juntos os caminhos para o sucesso no seu trabalho. É por esta razão que o supervisor assume a atitude de colega, de um elemento de apoio directo aos professores em várias áreas do processo de ensino e aprendizagem. Em outros termos, o cenário clínico favorece um ambiente de confiança entre o supervisor e o supervisionado, leva-o a compreender a realidade da sala de aula focalizando todos os aspectos positivos e negativos que acontecem naquela realidade.
Portanto, para que haja um ambiente de confiança, o supervisor deverá estabelecer um clima de amizade para que os supervisionados se sintam livres de exprimir todas as situações que se vivem na sala de aula para poder  pedir conselho ou apoio. Esta amizade necessita da simplicidade e humildade da parte do supervisionado em mostrar as suas limitações para que o supervisor consiga dar ajuda que necessita, ou encontrar outras estratégias para superar as dificuldades. Quanto ao supervisor, precisará da disponibilidade, a compreensão e  vontade de dar este apoio ao supervisionado e de caminhar com ele para que cresce na suas práticas diárias.
É necessário estabelecer um bom clima afectivo-relacional numa atmosfera de entreajuda recíproca, aberta, espontânea, autentica cordial, empática, colaborativa e solidária entre supervisor e supervisionado (TAVARES & ALARCÃO, 2003:61).
Há, portanto, a necessidade duma relação intrapessoal e interpessoal, entre todos os intervenientes, numa dimensão de entreajuda, colaboração, abertura e negociação. Esta relação é para favorecer a proximidade que culmine na cooperação e colaboração sincero. Assim, quando há problema na sala de aula, o supervisor e professor analisam e interpretam a situação juntos, mas deixando sempre ao supervisionado a autonomia de exercer as suas actividades de forma natural.
  1. O impacto da relação supervisor-supervisionado no desenvolvimento profissional
A relação entre o supervisor e o supervisionado  tem um impacto muito significativo no desenvolvimento profissional do professor. Este desenvolvimento profissional significa o conjunto de características e conhecimento que o professor tem e deseja melhorar, para que consiga evoluir na carreira e também na sua vida pessoal.
Segundo Dias (2012:70), o desenvolvimento profissional é um processo de crescimento e de aquisições diversas, orientado para a melhoria de eficácia no exercício da actividade profissional, que se manifesta no desejo de inovar e fazer melhor.
Quando o supervisor presta ajuda ao supervisionado, é para que  este último cresça e melhore nos diversos aspectos da sua prática profissional, que desenvolva outras habilidades para enfrentar novas situações ou problemas e tenha capacidade de encontrar soluções.
Deste modo, quando os supervisionado vai a busca de soluções para os problemas, sente-se dono do próprio desenvolvimento profissional e não só, mas também procura soluções para os seus próprios problemas.
Por esta razão, Formosinho (2002; 24) mostra que a supervisão pedagógica influencia no crescimento e desenvolvimento de todos os membros da organização escolar, aumentando a sua capacidade de aprendizagem e o seu potencial de eficácia em tarefas individuais e esforços colaborativos.
Este crescimento e desenvolvimento depende da relação ou interacção que existe entre os intervenientes. Se o supervisor se considerar autoritário, severo e duro para com o professor, incompreensivo e impaciente, vai se criar em supervisionado um clima de medo, desconfiança e fechamento, etc. Assim, o encontro não produzirá resultados positivos e não haverá o desenvolvimento profissional. Mas se o supervisor tiver a preocupação de ajudar e apresentar uma atitude acolhedora, o supervisionado terá aproveitado muito para o seu crescimento profissional.
Na mesma perspectiva, Formosinho mostra que dentre as várias funções da supervisão pedagógica destacam-se, o melhoramento da prática, desenvolvimento do potencial de aprendizagem do educador e promoção da capacidade da organização em criar ambientes de trabalho autorrenováveis.
Portanto, uma boa relação, colaboração e cooperação entre supervisor e supervisionado contribui no desenvolvimento profissional. Esta relação culmina na descoberta dos erros e superação das dificuldades, na análise de problemas e busca de soluções e na aquisição de certo conhecimento, técnicas e metodologias para a sua prática didática e profissional.


 Conclusão
Chegando ao termo desta reflexão, viu-se que a relação entre supervisor e supervisionado é muito importante. Esta relação favorece um ambiente de confiança, um clima de amizade e privilegia o diálogo que leva o supervisionado se sentir-se livres de exprimir as suas preocupações e apresentar todas as situações que se vivem na sala de aula para poder  pedir conselho ou apoio.
Portanto, o supervisor caminha com o supervisionado, procuram juntos analisar e solucionar problemas. Isto faz com que o supervisionado adquira certo conhecimento, técnicas e metodologias para a sua prática didática e profissional. Esta relação de colaboração e cooperação entre supervisor e supervisionado contribui no desenvolvimento profissional na medida em que o supervisionado desenvolva outras habilidades para enfrentar novas situações e problemas e com possibilidade de encontrar soluções.
Quanto à supervisão pedagógica  feita pelos supervisores do nível 10ª classe +1, achou-se que seria melhor que esta supervisão seja realizada pelos professores com um  níveis de formação superior ao dos supervisionados e além disso, que tenha uma grande experiência na profissão, para poder prestar  apoio ao seu supervisionado.

 Bibliografia
ALARCÃO, Isabel &TAVARES, José. Supervis-ão da prática pedagógica: uma perspectiva de desenvolvimento e aprendizagem, 2ª ed., Coimbra, Almedina, 2003
DIAS, Aurora. A supervisão na formação contínua de professores de Matemática e o desenvolvimento profissional, 2012, disponível em http://supervisaoclinicanaenfermagem.wikidot.com/desenvolvimento-pessoal-e-profissional
FORMOSINHO, Júlia Oliveira. A supervisão na formação de professores II: da organização à pessoa, Porto, Porto Editora, 2002

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