O
livro Currículo: Teoria e Práxis de José Augusto Pacheco, é um livro
volumoso subdividido em quatro partes
essenciais onde são expostos diferentes temas: enquadramento conceptual da
teoria e desenvolvimento curricular; Teorização e investigação curricular;
Processo de desenvolvimento curricular e, Reformas e inovação curricular.
Na
primeira parte intitulada “enquadramento conceptual da teoria e
desenvolvimento curricular”, Pacheco apresenta as tentativas da
definição do vocábulo currículo e a fundamentação da teoria do
desenvolvimento. Para ele, o termo currículo não tem um significado muito claro e é usado a
torto, isto é, o termo não é conciso e não é abrangente. Por esta razão, conhecendo a sua importância, o autor faz uma
tentativa duma definição que seja precisa e abrangente. Nesta tentativa, duas
perspectivas foram tomadas: uma que sublinha o aspecto de conteúdo a ensinar, e outra que sublinha o conjunto das
experiências educativas. Assim, o currículo é percebido como um projecto educativo que vai responder
a propósito educativo planificado em função da sua finalidade: do processo de
ensino e aprendizagem e do contexto
especifico da escola.
Inspirados nestas bases, a definição do termo
currículo fica amplo e cada um poderá defini-lo
dependendo da sua realidade social. Porém, os seus objectivos e
conteúdos a ensinar não poderão se
afastar do enquadramento educacional. Se assinala também que a conceituação do currículo
não tem um ponto de entendimento universal. Tudo depende da realidade social em
que é concebido . O que é comum, é o seu objecto de estudo que é baseado na
prática e é ligado à educação e também a sua metodologia que é de natureza
interdisciplinar. Estes elementos levaram o autor a uma conclusão; e acabou
definindo o currículo como projecto cujo processo de construção e
desenvolvimento é interactivo, que implica unidade, continuidade e
interdependência entre o que se decide ao nível do Plano normativo, ou oficial,
e ao nível do plano real, ou do processo de ensino – aprendizagem. Mas ainda, o
currículo é uma prática pedagógica que resulta da interacção e confluência de
varias estruturas na base das quais existem interesses concretos e
responsabilidades compartilhadas (PACHECO, 2001:20).
No
que concerne a teoria e desenvolvimento curricular, o autor apresenta elementos
e bases teóricas e o seu desenvolvimento ao longo do tempo. Assim, mostrou que
depois da polémica que houve para a sua caracterização, o currículo é conhecido
como campo de especialização do conhecimento educativo para responder à
necessidade social e política. Este reconhecimento remonta deste o século XIX.
A partir deste tempo, o termo currículo vai entrar no vocabulário educacional;
tempo em que a escolarização é transformada numa actividade organizada em
função de interesses sociais, culturais, económicos e políticos. No século XX o estudo do
currículo é reconhecido como área de conhecimento educativo. Muitos autores
publicaram obras, aparecendo no dicionário a palavra currículo e foi criado o
departamento da elaboração e implementação de programa (departamento de
currículo). Com estes elementos, esta nova área continua a se afirmar, ocupando lugar de relevo na
linguagem educativa.
Um
outro elemento a sublinhar é que, na ciência da educação, o currículo como instrumento de escolarização, é de
natureza prática porque é ligado à resolução de problema educativo. O
conhecimento curricular se constitui num corpo disciplinar próprio. A designada teoria e desenvolvimento
curricular, se situa no campo teórico e
prático do conhecimento educativo.
A teoria e o desenvolvimento curricular estão
bem ligados às outras disciplinas como didáctica específico e têm uma
interdependência entre o campo didáctico e curricular.
O
termo desenvolvimento curricular é utilizado para expressar uma prática
dinâmica e completa que processa em diversos momentos e em diferentes fases de
modo a formar um conjunto estruturado. Esta teoria apresenta uma dupla abordagem em termo de
conhecimento educativo: discussão das
habilidades de análise curricular e tomada de decisões didácticas. O objecto da
teoria de desenvolvimento curricular integra três dimensões: teorias curriculares
(técnica, crítica, prática); fundamentos ou bases para a planificação
curricular e contexto de decisão curricular.
A
segunda parte intitula-se “teorização e investigação curricular”. Esta
parte tem cinco subtítulos. O primeiro fala do papel da teoria curricular e mostra que a função da teoria curricular é
descrever, explicar e compreender os fenómenos curriculares, servindo de
programa para orientar actividades que resultam da prática em vista à sua melhoria
(Ibid, 31).
A
teoria deve apresentar os problemas curriculares e tentar os clarificar e
explicar. Este é um caminho que não tem fim porque cada vez mais haverá novas
situações que necessitarão de serem clarificadas. Assim é o papel da teoria
curricular de apresentar esses problemas ou situações que tem a ver com a
educação. Deve reflectir sobre eles para assim que haja as propostas
normativas. A teoria sobre o currículo é ligada à prática curricular porque não
deve só explicar e interpretar a sua formulação e resolver problemas.
O
segundo ponto aborda a questão das teorias curriculares. Enquanto
McNeil sublinha quatro concepções de currículo (humanista,
reconstrução social, tecnológica e académica), Landsheere apresenta três tipos de currículo: um centrado
no saber adquirir, outro no aluno e outro
na sociedade (Ibid, 34)
O
currículo como projecto formativo engloba os contextos de gestão e político-administrativo. Desta
forma, as teorias podem abordar os processos de legitimação do currículo (Ibid,34).
Pacheco enumera três tipos de legitimação : legitimação normativa,
processual e discursiva.
Quanto ao processo de legitimação curricular,
identifica outros vários grupos: grupos tradicionalistas que entendem o currículo como técnica ou produto feito por
superiores; grupos conceptuais que dizem que o currículo é fruto de
especialistas curriculares e os que estão na escola; e grupos reconceptualistas
que vêem o currículo como um processo político.
Nesta
mesma perspectiva, outros autores falam de quatro modelos de currículo: o
essencialismo, o enciclopedismo, o politecnicismo e o pragmatismo.
O conjunto destes contributos teóricos dá o nascimento
de três teorias fundamentais: A
teoria técnica, a teoria prática e teoria crítica.
A
teoria técnica define o currículo como produto que resulta na
experiencia que o aluno tem na escola em função de plano estabelecido (Ibid,
35). Concebida desta forma, o conteúdo e o programa que constituem uma
disciplina podem ser considerados como currículo desta disciplina. Isto quer
dizer, o currículo está em perfeita ligação com o plano estabelecido e visa atingir os objectivos previstos para o
conteúdo e para o bem do aluno. Esta teoria fundamenta-se na legitimidade
normativa, na racionalidade técnica, na burocracia assim como que no interesse
técnico, cientifico. Nesta teoria, entra também a concepção de currículo como
súmula de exigências académicas, como base de experiencias e como tecnologia e
eficiência ( Ibid, 35).
Nestas
concepções , o autor retém a ideia de que o currículo é concebido como plano
para aprendizagem, como plano de acção pedagógica,
como conjunto de experiencias planificadas na escola e como serie estruturada
de resultados pretendidos de aprendizagem. Portanto, as três concepções fazem
do currículo um plano de acção pedagógica que compreende programa, conteúdo de
programa e maneira como o ensino ou o aluno será avaliado.
Na
teoria prática, o currículo é visto como uma prática que resulta não só de uma relação entre especialistas
curriculares e professores, mas também das condições reais dessa mesma prática
(Ibid, 38). Neste sentido, a teoria fundamenta-se na legitimidade processual,
na racionalidade prática e acção pragmática na construção de currículo. Para chegar a falar da prática, os autores
viram que o currículo como teoria não produzia nada, precisava de um outro elemento que pudesse
levantar as suas expectativas. É nesta ideia que foi proposta a renovação na
sua formulação. A prática porque o currículo é uma arte da prática e pela
liberação prática do que pela teoria, envolve uma actividade prática incluindo
o aluno, elemento principal do processo. O currículo é visto como texto
produzido para resolver o problema da representação com estes quatro sentidos:
dos materiais escritos para os alunos; das intenções e orientações
programáticas para os professores; da
interacção didáctica e da interacção escolar.
A
teoria crítica afasta-se de duas precedentes na sua abordagem. Ela
insere-se numa perspectiva emancipadora de currículo. Para ela, o currículo não
é o resumo nem dos especialistas nem do professor individual mas dos
professores agrupados e portadores de
uma consciência crítica e agrupados
segundo interesses críticos (Ibid, 40).
A
teoria crítica fundamenta-se na legitimidade discursiva , no interesse emancipadora, na ideologia crítica, no discurso dialéctico
e na racionalidade comunicativa. Esta teoria tem uma visão crítica do
currículo. Falando da crítica, se vê a acção reflexiva na sua abordagem. Esta
reflexão é vista no sentido da praxis (este termo é uma influência do
neomarxismo) que vai conduzir à emancipação. Isto é, a prática da justiça e da igualdade
de vários intervenientes no currículo e na crítica da ideologia pela sua
reflexividade e pela acção autónoma. A aplicação
de práxis no currículo, nascem cinco princípios: a) os elementos de praxis são
as acções e as reflexões hipotético; b) A práxis tem lugar na situação real,
não no mundo hipotético; c) A práxis trabalha no mundo da interacção social e cultural; d) O mundo da práxis é o mundo
construído, não o mundo natural; e) A práxis assume o processo de fazedor de
sentido que reconhece o significado como uma construção social. As três teorias
são complementares porque a definição de currículo refere-se a elas.
O
terceiro ponto aborda o tema da reconceitualização do currículo. segundo
os autores, o currículo tal como está definido, precisa de uma
reconceptualizaçao. E neste sentido, tem que responder as questões tais como:
para que servem as escolas ? o que deve ser o currículo ? os autores respondem
que tudo depende dos argumentos ideológicos, económicos, sociais e culturais
que determinam o sistema educativo.
No
âmbito da reconceptualização do currículo os
autores propõem quatro paradigmas: paradigma não reducionista,
paradigma dos fundamentos do currículo pós-moderno, paradigma dos fundamentos do currículo e paradigma da
relação teoria - prática. Destas propostas resultam por um lado, a concepção
equilibrada, reflexiva e o desenvolvimento curricular centrado na escola; e por
outro lado, a abordagem sistémica como elemento de analise da realidade
curricular através do reconhecimento da complexidade, da hierarquia, do
equilíbrio temporal, da mudança transformadora
e da interdependência (Ibid, 44). Neste sentido, o currículo é um assunto de
todos que estão envolvidos na educação.
A
reconceptualização engloba aspectos
social e crítico. O aspecto crítico ajuda na exploração dos discursos de
reflexão sobre as práticas mas entretanto não é uma teoria necessariamente
boa porque as críticas podem terem
sucessos ou não naquilo que explica.
O
quarto ponto fala da investigação curricular. Aqui destacam-se elementos essenciais tais como os
modelos, as tradições , os paradigmas e a metodologia por um lado e o professor como investigador por outro lado.
O
currículo não tem uma única e verdadeira definição, porque é um tema de muito debate e investigação. A investigação
feita depende das teorias curriculares que determinam os conhecimento que é o
ensino e como estruturar as formas de organização do currículo.
O
modelo seguido para o currículo é o das
ciências naturais e sociais porque nestas ciências existem as duas
tradições principais: a cientifica ou empírico - analítica e a humanista. A
tradição cientifica é caracterizada pela adopção de um método hipotético -
dedutivo e pela crença de que a educação é um fenómeno que é susceptível de generalização
(Ibid, 46). E a segunda caracteriza-se por uma investigação das ideias , da
descoberta dos significados inerentes ao próprio individuo (Ibid, 47). Nesta
tradição tem a valorização das estruturas cognitivas no processo de ensino - aprendizagem.
A
investigação curricular tem uma diversidade metodológica, porem, tem uma
característica que a particulariza. Ela utiliza uma variedade de técnicas que melhor se adaptam ao núcleo do problema
já que de natureza prática ela tem uma finalidade formativa . E por esta razão
trata-se de uma metodologia de investigação centrada na prática que responde a
uma deliberação que exige a formulação de um problema e uma solução partilhada.
O
professor quanto a investigação e métodos, ele é o principal protagonista do
desenvolvimento do currículo, ele deve pensar no seu trabalho em termo de currículo
para poder conciliar aquilo que ele é, daquilo que ele faz na sala de aula. Ele
participa na totalidade de elaboração do programa e dos conteúdos. É o
investigador em relação ao processo ensino – aprendizagem. Por isso ele deve
reunir as capacidades de um profissional e deve demonstrar uma atitude
investigadora. Em suma, o professor, neste quadro da investigação curricular, é
o principal elemento da investigação.
O
quinto ponto fala de pressupostos curriculares. Para identificar os objectivos
educacionais, os pressupostos cultural, social,
individual e ideológico são imprescindíveis. Falando disso, o autor
mostra que a educação responde sempre à política educativa. Isto é, cada
sociedade tem a sua filosofia da educação. É neste sentido que mesmo o
currículo ou sistema educativo é influenciado para o contexto filosófico,
ético, religioso, sociocultural onde se situa o sistema educativo. É a luz
destas abordagens que é analisado o currículo. E também a escola e a sociedade estão
intrinsecamente interligadas e têm um interesse comum que é a preparação social
dos indivíduos. Esta preparação visa desenvolver os valores tais como, a formação
do carácter, e da cidadania. É por esta razão que o sistema educativo pode ser
considerado como sendo subsistema do sistema social.
Apesar
desta interligação se nota que o currículo depende também dos condicionalismos
económicos existentes dentro da
sociedade. E por isso, a elaboração do currículo depende da cultura. Ela é
antes de mais, um projecto de escolarização que reflecte a concepção do
conhecimento e a função cultural da escola.
No
que tange ao aluno, o currículo elabora-se de acordo com o desenvolvimento do
aluno para lhe permitir que aprenda. Assim, o ensino deve se adaptar ao nível
cognitivo do aluno. Isto é, a elaboração do conteúdo deve ter em conta as
individualidades dos alunos, das suas capacidades, das suas atitudes e
valores.
O
paradigma de aprendizagem iniciado pelo behaviorismo e revista por Coll, citado
por Pacheco (2001:56), sublinha esses aspectos nestes termos: a repercussão
das experiencias educativas formais sobre o crescimento pessoal do aluno está
fortemente condicionada, entre outros factores, pelo seu nível de
desenvolvimento operatório; considerar o nível do aluno na elaboração e aplicação
do design curricular exige a consideração simultânea dos dois aspectos
mencionados; a estrutura cognitiva do aluno pode conceber-se como um conjunto
de esquemas de conhecimento; o processo pelo qual se produz a aprendizagem
significativa requer uma intensa actividade por parte do aluno que deve
estabelecer relações entre o novo conteúdo e os elementos já disponíveis na sua
estrutura cognitiva (…).
Um
outro elemento a considerar é que enquanto projecto cultural, social e
politico, o currículo só pode ser construído na base de ideologias ou de
sistemas de ideias, valores, atitudes e crenças. Tudo isto partilhando por um grupo
de pessoas com um peso significativo na sua elaboração (Ibid, 57).
Seguindo esta ideologia , fica claro que
é o grupo dominante que vai fornecer um modelo e seguir o tipo de currículo a aplicar. Assim, como o
currículo depende da ideologia, torna-se instrumento ideológico com diferentes
orientações que regula as relações entre a sociedade e a escolarização. Cammis
citado por Pacheco (2001:58), afirma que o currículo é do interesse do Estado e
a escolarização é um assunto público, (…).
Neste sentido, o professor torna-se elemento de ideologia do currículo.
A
terceira parte desta obra, aborda a questão de “desenvolvimento curricular”.
O autor apresenta diferentes maneiras de entender o desenvolvimento curricular
partindo das três teorias: técnica, prática e crítica.
No
que tange à natureza e âmbito de
desenvolvimento curricular, o autor mostra a complexidade de desenvolvimento do
currículo , sobretudo no que refere a sua conceituação. Nas definições das teorias, bem que estas tivessem diferenças nas suas abordagens, o currículo é
um processo de construção que envolve pessoas e procedimentos. Segundo os
autores Toba, Klein e Gay citado por Pacheco(2001), o desenvolvimento do
currículo pode ser caracterizado por vários aspectos tais como estão definidos:
é um processo interpessoal que reúne vários actores com diferentes pontos de
vista sobre o ensino e aprendizagem; é um processo político
que se traduz na tomada de decisões a vários níveis ; é um empreendimento
social que envolve pessoas no desempenho de papeis de acordo com diferentes
interesses, valores e ideologias; é um processo de colaboração e cooperação entre os diversos intervenientes
que tomam decisões curriculares; é um
sistema desarticulado da prática de tomada de decisões.
A noção de desenvolvimento curricular refere-se
ao seu processo de construção, isto é, à concepção, implementação e avaliação.
Assim segundo Ribeiro citado por Pacheco (2001), o desenvolvimento curricular é
um processo dinâmico e contínuo que engloba diferentes fases, desde a
justificação do currículo até a sua avaliação e passando necessariamente pelos
momentos de concepção -elaboração e de implementação. O autor justifica esta
definição dizendo que é por esta razão
que tem havido discussões a seu respeito; ele se fundamenta, planeia,
realiza e avalia em momentos diferentes, mas relacionados entre si e
expressam uma mesma realidade. Desta
compreensão, Pacheco, inspirando-se de outros autores, chegou a falar de três
fases de desenvolvimento do currículo: o currículo realizado ou experiencial,
que é a expressão dos resultados da interacção
didáctica e que tanto traduz o
currículo vivenciado pelos professores e demais intervenientes. Esta fase pode
corresponder ao currículo observado a partir das opiniões dos seus
participantes(Ibid, 70). Quando o currículo não corresponde ao currículo
oficial e explicito, o autor fala da segunda fase que é o currículo oculto.
Se denomina currículo escondido, não ensinado, não intencional ou latente.
Existe currículo oculto quando os autores dos manuais fazem a sua interpretação
do programa, quando os professores moldam os conteúdos e organizam as situações
de ensino – aprendizagem, quando os alunos são sujeitos activos na interacção
didáctica, em fim quando os pais e outros participam , de modo directo ou indirecto no
desenvolvimento do currículo . Na terceira fase o autor fala de currículo
avaliado, que inclui a avaliação dos alunos mas igualmente a avaliação dos
planos curriculares dos programas, das orientações, dos manuais , livros e
textos , dos professores, da escola, da administração, etc. (Ibid).
O
currículo prescrito, oficial, formula o resultado de uma decisão
político-administrativa. É neste contexto que é definida a normatividade
curricular que é, enredada numa ordenação jurídica e administrativa, traça as
opções fundamentais sobre a elaboração e prescrição curriculares, propõe
orientações programáticos, incluindo normas sobre a elaboração dos materiais
curriculares, e define critérios de organização curricular. Prosseguindo, o
autor sublinha o aspecto das decisões política – administrativas dizendo que
estas consistem na elaboração dos currículos para os diferentes níveis de
ensino que se faz pelo modelo investigação – planificação – experimentação –
disseminação e avaliação. Segundo o autor, no âmbito do contexto político – administrativo, os modelos globais
de construção curricular desçam-se os de Tyler, que propõe a elaboração de um
currículo em quatro princípios: formulação de objectivos, selecção de
experiencias educativas, organização das experiencias e avaliação da eficácia
das actividades de aprendizagem; de Taba, que propõe sete etapas
sequenciais: diagnóstico das necessidades educacionais, definição dos
objectivos, escolha dos conteúdos, preparação dos conteúdos, selecção das
experiencias de aprendizagem, determinação dos métodos de avaliação do ensino;
de Wheeler, que propõe um modelo cíclico que vai de análise preliminar da
situação, especificação dos objectivos, selecção do conteúdo educativo,
organização do conteúdo educativo, elaboração da unidade e avaliação; de Lawton
que propõe que a elaboração de um
currículo se efectue através de uma analise cultural e assim, observar
critérios filosóficos, considerações sociológicos e teorias psicológicas e enfim
de d’ Hainaut que diz que a elaboração de currículo tem de respeitar as três
níveis: análise dos fins e a focagem dos objectivos, a investigação sobre os
métodos e os meios de ensino e determinação dos métodos e dos meios de
avaliação.
Depois
de falar do planeamento curricular e seus respectivos modelos, o autor
sublinhou o aspecto de prescrição curricular mostrando que o currículo é uma
prática estruturado que depende da intersecção e concorrência de varias
práticas, diferentemente interpretadas. Sublinhou também que a prescrição deve ser entendida no sentido de orientação e
estimulação porque já existe uma responsabilidade político - administrativa na
ordenação de uma cultura de escola de que o currículo é o seu instrumento
principal. O currículo prescrito surge como o suporte do igual direito de
acesso à educação por parte de todos os alunos, adquirindo um rosto mais social
e comunitário com a oferta das mesmas oportunidades de formação.
A
prática da existência de manuais, na qualidade de mediadores, representa o
surgimento de vários aspectos negativos de entre os quais, a rotina das
práticas lectivas, a uniformização curricular e o controlo implícito que é
feito sobre os professores.. Esta
afirmação de Pacheco mostra que há muitos professores que não respeitam o
programa elaborado , mas seguem manuais e consideram-nos como guia ou mediador.
A
organização curricular quanto a ele,
explica Pacheco, consiste no modo particular de interligar e sequenciar os elementos que constituem o currículo, isto
é, todos os modelos de organização curricular são semelhantes ou idênticos
apesar de terem certas diferenças terminológicas e nos seus princípios. Segundo
ele, os modelos são usados conforme os níveis de ensino ; cada ciclo usa um
modelo para tornar possível o ensino. Assim, para o 1º ciclo de ensino básico
será usado o modelo integrado ou globalizado porque neste ciclo, o
ensino é globalizante, com a responsabilidade de um professor que pode ser
coadjuvado em áreas especializadas. O plano curricular é estruturado em quatro
áreas disciplinares: língua Portuguesa, Matemática, estudo do meio e
expressões. O modelo globalizado integra os currículos que têm
por função a promoção de uma escolaridade básica com uma cultura comum.
A globalização curricular supõe o principio da organização de aprendizagem não
pelas disciplinas em si, mas pela unificação dos conteúdos. Este modelo faz com
que o aluno que acaba de começar a ter um conhecimento formal, conheça e
compreenda duma forma global os factos ou acontecimentos e tenta de
expressar-se e situar-se em relação a si próprio e com os outros. Aplicando
este modelo, as disciplinas não desaparecem pelo contrário, subordinam a uma
visão do conjunto de modo a proporcionar experiencias concretas aos alunos. No
2º e 3º ciclo, funciona o modelo misto , onde as disciplinas começam a
ter um peso muito significativo. Noutros termos, o ensino globalizado para o
primeiro ciclo, o ensino por áreas interdisciplinares para o segundo ciclo, o
ensino organizado segundo um plano curricular unificado para o terceiro ciclo e
o ensino organizado segundo formas diferenciadas; para o ensino secundário não
é mais do que a organização dos planos curriculares por diferentes graus de
integração curricular sempre subordinados à fragmentação dos conteúdos pelas
disciplina.
No
que respeita o contexto de gestão de currículo, Pacheco repara que toda a
organização curricular seja nos programas, nos planos, propostas de
metodologia, critérios de avaliação, etc., é organizado no nível central antes
de chegar ao nível da região e da escola. Isto quer dizer, é a administração
central que se encarrega na organização curricular. O desenvolvimento
curricular centrado nas escolas e nos professores não significará uma decisão a
partir do nada mas uma decisão que não é mais do que a adaptação das
prescrições e à interpretação das orientações existentes. No contexto político
– administrativo o currículo é um projecto
sócio – educativo organizado pela administração central. O projecto de escola,
compreendido nas competências e atribuições que possibilitam a sua autonomia e
dentro da flexibilidade organizacional do sistema escolar, corresponde a uma
fase de planificação intermédia ou de decisão curricular que se expressa em
três projectos interdependentes -
educativo, curricular e organizativo – culminando na realização de um
projecto didáctico que se situa no contexto de realização do currículo e que
envolve os intervenientes directos do espaço da sala de aula.
Falando
do projecto educativo, Pacheco entende, a tentativa de implicação da
comunidade educativa constituída por professores, alunos, pais e encarregados
da educação, etc. segundo ele, o projecto educativo implica vários aspectos
tais como formulação das finalidades educativas; consideração das necessidades
educativas; selecção de orientações globais pelas quais a comunidade educativa
se norteia; clarificação e distribuição das responsabilidades, etc. o projecto
curricular, é o segundo passo que tem a ver com a modelação dos conteúdos
pelos professores atendendo à particularidade da escola, dos alunos e da
comunidade dos professores. Este projecto curricular visa adaptação do
currículo pelos professores tendo em conta a prescrição existente e o contexto
escolar em que se desenvolve. Aqui deve ser apresentada as articulações das
decisões de administração central para evitar as contradições entre o currículo
– base e o projecto educativo da escola.
Quanto
a elaboração do currículo pelo professor, Pacheco diz que tudo depende da
autonomia na adaptação de um programa mínimo e nas condições de execução e nas oportunidades
de formação. Mesmo se o projecto curricular não esteja ao alcance dos
professores, se pode falar do projecto curricular como sinónimo de programação. Assim , o professor se acha
dentro porque aqui há ligação entre a
teoria/prática, currículo prescrito/currículo apresentado e contexto
real de escola/contexto dos alunos. Referindo-se à caracterização de Gimeno,
Pacheco confirma que a programação desempenha três operações básicas: explicar
aquilo que se vai realizar; justificar os elementos que intervêm no programa;
justificar as decisões que se adoptam. Neste sentido, programa significa
procurar uma orientação curricular ajustada à escola e aos alunos, em função de
um programa de ensino previamente proposto pela administração central e
apresentado na forma de Manual por uma editora, correspondendo a forma concreta
de uma territorialização dos pressupostos gerais do programa (Ibid, 92). A
programação como fase do processo de desenvolvimento do currículo concretiza-se na elaboração de
um projecto curricular coerente e lógico que estabelece um equilíbrio entre
aquilo que é proposto na fase do currículo prescrito, e aquilo que é sugerido
na fase do currículo programado. Pacheco propõe sete fases para elaboração de
um projecto: identificação da necessidade curricular; agrupamento de
professores e alunos; integração curricular; contextualização do projecto educativo;
elaboração de um projecto curricular; realização do projecto curricular e
avaliação.
O
autor propõe-nos também o tema da organização curricular horizontal mostrando
que é da responsabilidade da escola organizar de forma horizontal o conjunto
das actividades lectivas e não lectivas, criando condições para promover a
aprendizagem e o sucesso educativo dos alunos. Assim, os agentes da educação
devem por exemplo proporcionar informação sobre as necessidade especiais dos
alunos; informar acerca das circunstancias familiares; transmitir informação
sobre o comportamento do aluno fora da escola; informar os professores sobre
qualquer interesse ou talento especial do aluno; participar activamente na
aprendizagem do aluno; cooperar com outros encarregados de educação e
professores na discussão e avaliação do currículo, dos recursos da escola etc.
Assim, a escola tem competências curricular quer na introdução dos componentes
regionais e locais nos planos curricular quer na recontextualizaçao das
decisões tomadas ao nível da administração central e regional, na organização
de projectos , na territorializaçao deste programa, na formação e gestão do
pessoal docente (Ibid, 100).
Quanto
à autonomia curricular do professor, Pacheco afirma que o professor goza desta
autonomia enquanto estiver no campo de formulação dos objectivos de
aprendizagem ao nível da turma, porém esta é uma autonomia colegial porque o
professor trabalha em conjunto com outros professores de acordo com o referente
dos objectivos curriculares de ciclo. Quanto aos conteúdos, o professor não tem
esta autonomia, ele depende daquilo que é programado a nível central ou
nacional. Neste caso o professor tem autonomia de fazer compreender este
conteúdo aos alunos. O grau de liberdade com que o professor dá os conteúdos
faz parte integral de uma autonomia subjectiva que é um dos aspectos
fundamentais do currículo oculto, mesmo perante a obrigatoriedade ou não de
cumprir o programa. No que tange às actividades e recursos didácticos , o
professore tem uma total autonomia porque tem de sugerir uma metodologia e
fazer a gestão do tempo de aprendizagem. Da mesma maneira, o professor dispõe
de uma autonomia colegial quanto à avaliação do rendimento dos alunos. Dispõe
esta autonomia tanto na observação das modalidades e actuações quanto a
aplicação de critérios. Outros aspectos foram sublinhados por Pacheco a cerca
da planificação dizendo que nos modelos de planificação do docente, a
planificação é vista como uma actividade prática que permite organizar e
contextualizar a acção didáctica que ocorre
ao nível da sala de aula. Ao planificar uma actividade, o professor deve
considerar uma serie de factores e tomar decisão. Tem que decidir sobre a
matéria a abordar, a informação que dará aos alunos, os livros a usar e exercícios
a realizar etc. Os factores a ter em conta são múltiplas, tais como os das
diferenças individuais entre processos, as crenças educativas, pensamentos,
juízos, decisões, motivações, conhecimentos das matérias, valores etc. quanto
aos modelos de planificação do docente, são destacados dois principais: o
modelo por objectivos e o modelo processual. Além desses tem outros como o
modelo linear proposto por Tyler; normativo, prescritivo, cíclico,
tradicional, etc. como tal não existem modelos universais, aplicáveis a
todas situações. Cada modelo é usado
conforme a situação em que o professor estiver.
Quanto
as fases de desenvolvimento do currículo e dentro do contexto da realização, o
currículo real ou o currículo em acção caracteriza-se pela interacção professor/aluno
e aluno/aluno que se estabelece num quadro global de relação pedagógica. A
aprendizagem depende do ambiente em que se vive os alunos , do espaço
arquitectónico da escola, do aspecto físico da sala de aula, etc.
A
avaliação como processo global realizado por diferentes pessoas, está presente
nos vários contextos de desenvolvimento curricular. Avaliar implica a atribuição de um valor,
manifesta uma apreciação quantitativa ou qualitativa. Pode ser representada em
três eixos: descritivo, normativo e tomada de decisões. Assim, a avaliação
tem duas funções principais: uma de controlo dos resultados, de validação
dos objectivos, de detecção das deficiências do rendimento, de classificação;
outra de interpretação, de proposta de melhorias, de análise critica.
Quanto à avaliação curricular, a sua função não é só para comprovar o valor dos
programas, mas também para melhorá-los. Na avaliação externa do sistema
educativo, objectivo de avaliar tem a ver com os planos curriculares, os
programas, materiais curriculares e modelo de desenvolvimento de currículo. Na
prática, a avaliação da qualidade de sistema faz-se mais pela análise dos
produtos, isto é, dos resultados com
função de melhorar o próprio sistema. A avaliação interna ou auto-avaliação,
é o tipo de avaliação informal que as escolas realizam das suas próprias actividades abrangendo o desempenho dos
professores, o progresso de cada aluno, o funcionamento da turma, o clima
institucional, etc.
O
processo de avaliação se faz numa unidade e segmento de tempo em relação ao
qual se distinguem três fases: fase de avaliação inicial que tem a ver
com as condições existentes, fundamentação e necessidades; a fase de
avaliação de processo que considera as variáveis que engloba todo o
processo de desenvolvimento curricular e
a avaliação de produto ou avaliação final que é o resultado aos
vários níveis definidos no projecto curricular.
Existe
também critério de avaliação de
currículo que é uma norma ou regra de correspondência em que se dá a
intersecção entre um aspecto dado e um elemento de contraste, de modo a
suscitar uma valorização por parte do respondente e que pode variar de positivo
a negativo, etc. pode ser critério de avaliação de um currículo nos fins
curriculares, a estrutura curricular, etc.
No
processo de desenvolvimento curricular, o professor desempenha um papel preponderante
pela transmissão, transacção e transformação. Assim Pacheco distingue três
modelos. Um centrado nos objectivos, outro centrado no processo e o último
centrado na situação. No modelo centrado nos objectivos, o currículo
representa a elaboração de um plano estruturado de aprendizagem dos alunos
tendo em conta o seu aperfeiçoamento através dos objectivos formulados. O
currículo é visto como meio para a prossecução de objectivos, previamente
especificados em função de resultados esperados. Aqui o professor é o executor.
No modelo centrado no processo, o currículo é visto como projecto cujo
desenvolvimento é orientado para a resolução de questões práticas. O professor
é quem concretiza o processo curricular. No modelo centrado na situação ou
modelo crítico, o currículo é visto como uma acção estratégica, elaborada a
partir dos problemas e atitudes dos alunos, que é desenvolvida numa perspectiva
de interpretação. A sua divisão é produto de professores e alunos cuja
elaboração e realização depende da interacção no contexto da escola e sala de
aula. Neste modelo, os professores trabalham em colaboração e em colegialidade.
Na
quarta parte intitulada “reformas e inovação curricular”, Pacheco expõe
em quatro pontos a sua visão sobre a reforma do sistema educativo. Fala da
inovação curricular, e da reforma educativa dos anos 80, dos projectos de revisão curricular, e da
estrutura do processo curricular português e do modelo curricular preponderante.
A
reforma, como sublinha Pacheco, não significa mudar tudo o que está mal, mas
sim, mudar as atitudes. Hoje em dia, falar de reforma é uma necessidade:
como tal, a sociedade é dinâmica com muitas transformações e inovações em todos
o níveis. A reforma do sistema educativo é indispensável para a sua
actualização. Esta reforma é um processo que conduza à uma mudança, é uma
exigência de conjunto das reformas que pressionam a instituição escolar. Assim,
a reforma educativa pode ser entendida como transformação da politica educativa
de um pais a nível de estratégias, dos objectivos e das prioridades. Esta transformação
pode ser traduzida por conceitos como
inovação , renovação, mudança e melhoria que tem como denominador comum a introdução de algo de novo. Por isso, a
reforma precisa duma técnica que possa
ajudar a modificar certos aspectos do sistema educativo, tendo em conta a
realidade do pais em que se quer aplicar o novo sistema, as necessidades, os
resultados específicos, o meios e métodos adequados para atingir os objectivos.
Deste modo, quando se fala de reforma , se vê a mudança estrutural e a
inovação. Segundo Pacheco, a invocação curricular está sempre ligada a mudanças
que contribuem para a transformação e melhoria dos processos e práticas de ensino
– aprendizagem. A inovação é um processo que se negocia para salvaguardar o
direito a experimentar e o principio
estratégico de pensar globalmente e agir localmente.. Neste sentido, a
inovação está ligada também à qualidade da escola e terá como objectivo
fundamental a melhoria qualitativa de processos e não a preocupação exagerada
com os resultados.
Na
reforma se deve ter em conta os componentes locais e regionais do currículo e
também olhar no trabalho dos professores sobretudo no seu método e forma
de trabalhar. Neste contexto, Pacheco
considera três eixos estratégicos de inovação: necessidade de encarar o
processo de inovação como diferente de
organizar os recursos existentes; associar o processo de produção e
inovações a ruptura com as invariantes
organizacionais do estabelecimento do ensino;
conceber a acção educativa doa escola tendo como referenciais um
território educativo. Esta estratégia faz entender que a invocação é uma questão prática que começa por
recentralizar norma até recontextualizar o currículo . Aqui o papel do
professor é preponderante, ele é agente de adaptação e recontextualizaçao de
currículo em função da programação realizada no âmbito colectivo da equipa de
professores e da planificação delimitada pelas fronteiras didácticas da turma. Existe
recentralizaçao normativa quando há discurso de legitimação do currículo. A
escola como elemento da mudança deve ser o local de construção, desenvolvimento
e avaliação de projectos de inovação curricular, orientados para a melhoria qualitativa
do processo de ensino-aprendizagem. Por esta razão, deve existir um
reconhecimento do papel dos professores e das escolas no desenvolvimento do
currículo; existência de uma estrutura organizacional democrática,
descentralização da autoridade, mas com o reconhecimento de uma liderança;
promoções de relações humanas e de intercambio entre os diversos actores
curriculares (Ibid, 154)
No
anos 80 foi experimentada uma reforma do sistema educativo com o intuito de
promover a realização de estudos orientados para a reorganização do sistema
educativo. Houve mudanças em vários níveis. Na organização curricular
houve formulação dos fins para cada
nível de ensino e ciclo especifico; o ensino básico tem três ciclos com
finalidade de uma globalização educativa e o ensino secundário teve o único
ciclo. Na área escolar houve também
mudanças. Neste âmbito foram
definidos orientações curriculares com os seguintes princípios: a promoção
de sucesso escolar e educativo, o sentido integrador da aquisição educativa; a
dimensão participativa nas actividades educativas e a formação para a educação permanente (Ibid, 158) .
Na
reforma, os planos curriculares, programas, materiais curriculares e avaliação
sofreram uma forte mudança. Esta mudança se fez sentir na concretização da
organização dos planos curriculares com a proposta de criação de conjunto
disciplinar e de disciplinas de síntese, embora esta mudança não foi
implementada. A mudança marcou nos
programas reforçando a primazia da actividade sobre os conteúdos e enquadrando
aspectos observados na experimentação. a reforma mudou também as normas de avaliação do rendimento
dos alunos. A avaliação adquire uma nova concepção e é vista como sinónimo de
sucesso educativo. Assim no ensino básico , faz-se da avaliação formativa a
principal modalidade, com uma finalidade de orientação e de regulação da
aprendizagem. Ao nível do pensamento e acção dos actores educativos houve
também mudança, principalmente dos professores; na autonomia da escola ou seja a autonomia na
gestão dos planos curriculares e programas na definição de orientações sobre a metodologia
na avaliação, planificação, etc. a mudança penetrou até ao nível de motivação e
formação de professores. Aqui Pacheco mostra que antes da reforma os professores
como protagonistas e elementos centrais da reforma não foram conquistados e motivados. A reforma
nesta área não pode se efectivar sem uma
modificação de atitude e mentalidades, sem formação de professores não todo o projecto de reforma fracassará.
Isto é, se não existe uma mudança quer na mentalidade e prática curricular,
quer na motivação e formação dos
professores, teremos uma reforma sem inovação, isto é, uma reforma determinada
e imposta pelas lógicas centrais em detrimento das lógicas locais.
A
reforma curricular fez-se em torno dos novos programas e da avaliação, tendo
sido relegado para plano secundário a posição do professor perante a tomada de
decisão curricular. Pacheco mostra que hoje as praticas curriculares dos
professores são idênticas às do período antes da reforma só que a mudança se
notou no quadro normativo onde tem novas formas de organização curricular mas
ao nível da realização não houve mudança porque existe uma reforma mas sem invocação.
Esta reforma privilegia o aluno e procura valorizar a participação do aluno em
projectos culturais e de ocupação de
tempos livres e que a aprendizagem dos conteúdos programáticos se faça na base
das actividades. Coisa que não é fácil para realizar.
Um
outro ponto tratado nesta parte é a estrutura do processo curricular português
onde Pacheco mostra que a estrutura
curricular explica-se por um processo de invenção da tradição em que uma
perspectiva de continuidade histórica social de construção do currículo
contribui não só para o conhecimento e análise das regularidade observadas, mas
também para a explicação das influencias das forças sociais e clarificação das
pressões exercidas pelos grupos socioprofissionais que são intervenientes no
debate curricular.
Nesta
parte, Pacheco mostra as reformas que ocorreram ao longo do tempo e as suas
marcas de mudança na área do currículo. Ele sublinha esses factos: regulação
dos programas e métodos feitos por
ciclo, de materiais curriculares, como os livros ou manuais que devem ser
usados, de avaliação do rendimento dos alunos, do currículo dos professores
assim que o controlo dos alunos.
No
que tange ao modelo curricular preponderante, Pacheco mostrou os obstáculos que
poderão ocorrer sobretudo quanto à autonomia concedida ao professor. Esta tem
sido mais ao nível dos processos e práticas lectivas do que ao nível de
intervenção directa na estrutura curricular. O programa e o conteúdo lhe é
apresentado e ele deve sumariar e dar em função de um tempo lectivo concreto.
Neste sentido, o professor torna-se executante ou implementador de
decisões curriculares. Outro obstáculo
para a autonomia do professor encontra-se ao nível estrutural, isto é, das
condições de trabalho, dos recursos e materiais curriculares.
Na
sua conclusão, Pacheco mostra que a reflexão feita sobre o currículo como
teoria e praxis é uma questão que vai sempre suscitar debate nos seus
diferentes aspectos. Apesar de tudo, o currículo é uma construção cultural cuja
análise deve ser procurado no espaço e no tempo que a enquadram. No seu
percurso o autor apresenta as principais conclusões que foram tratadas nos
diferentes capítulos e sublinha que , abordar as reformas e inovações
curricular, é discutir os mecanismos e instrumentos de controlo da mudança,
ciclicamente repetida visto que uma reforma apresenta o fracasso de uma outra.
E também o termo inovação substituirá o
de reforma para designar a mudança
escolar uma vez que se tornará urgente discutir não apenas as alterações
organizacionais e normativas mas de igual modo, as práticas curriculares ao
nível da escola e da sala de aula (Ibid, 255-256).
José
Augusto Pacheco. currículo : Teorias e Praxis. Porto, Porto Editora,
2001, 271pp
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